Gostava de ser diferente

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Admirava profundamente a capacidade que dos seres humanos tinham de se reinventarem sempre que quisesse. Quando estavam infelizes e sem rumo ou quando precisassem de um novo desafio, ou apenas porque estavam cansados da vida que levavam. Reeinventarem-se era sempre uma das primeiras opções,  a pergunta era - o que ele poderia fazer para mudar o estado das coisas ou mudar-se a si mesmo-. Fadas infelizmente nasciam com um oficio pré-definido e não podiam mudar...chamem a isso de natureza...mas para nós era impossível não fazermos aquilo para o qual estávamos programadas.

E mesmo não querendo ajudar o meu chefinho, do qual infelizmente eu gostava cada vez menos, estava na minha natureza ajudar casais que mereciam ser felizes, e por isso o ouvi.

A historia era simples e complicada ao mesmo tempo. O jovem casal já tinha namorado e estavam perdidamente apaixonados até a intervenção de uma das minhas jovens colegas fadas que se enganou e apresentou ao jovem uma outra menina e manipulou a historia para que estes ficassem juntos....grande erro....enorme erro....

Estava agora em causa o destino de uma nação, é verdade que o casal que eu devia voltar a juntar parecia não ter nada em comum, mas eles eram dois opostos que se completavam. Ele estava destinado a grandes feitos mas precisava dela para o orientar e dar-lhe o toque de ambição que ele precisava para enfrentar tudo e todos, além do amor incondicional que lhe daria a força necessária para enfrentar tudo e todos.

A historia não seria tão complicada se a segunda menina não estivesse grávida, e essa criança precisava nascer e ser feliz.

O meu trabalho consistia basicamente a fazer toda a gente feliz. Juntar novamente o casal que tinha sido inadvertidamente separado e garantir que o bébé e a sua mãe tivessem também um final feliz, ou melhor um começo feliz.

Depois de me dar todos os dados necessários para que eu pudesse resolver a situação ele não quis ficar mais tempo, o que eu agradeci interiormente, só podia suportar esse homem em pequenas doses.

-Bom, preciso ir agora tenho outros negócios a tratar, mantém-me informado do desenvolvimento do teu trabalho.- disse colocando-se de pé, preparando-se para partir.

-Certo. - então lembrei-me.- Existe um potencial parceiro para a menina grávida? (viria a saber mais tarde que o nome dela era Sacha)

-Que eu saiba não existe ninguém programado para ela. Se achares que esse é o caminho que deves seguir deixa-me só verificar se a pessoa que pretendes lhe atribuir esta disponível.- Nem todas as pessoas tinham um parceiro destinado, só as que tinham sido escolhidas pelo destino para protagonizar grandes feitos é que eram emparelhadas desde o nascimento. As outras os felizes anônimos, ou infelizes dependia da perspectiva, podiam passar a vida a procura do amor sem nunca o encontrar ou tendo que mudar de parceiros várias vezes nessa busca incessante pela felicidade. Isso tinha-me começado a incomodar a umas centenas de anos atrás porque pessoalmente achava que todos, e repito todos, deveriam ter direito ao amor verdadeiro, até euzinha, tinha direito a conhecer o grande amor. Nesse momento as lágrimas vieram-me aos olhos e tentei disfarçar não queria dar qualquer tipo de satisfação ao meu chefinho.

-Ok, eu farei isso. E não te esqueças do nosso trato, ou posso ter de meter férias por tempo indefinido...e não queremos chegar a esse ponto pois não?- Com um olhar de puro desdém ele finalmente desapareceu da minha frente.

Depois da sua partida comecei logo a trabalhar, não queria de forma alguma entrar em comiseração e perder uma das minhas preciosas tardes de férias chorando por um homem que cm toda a certeza não me merecia.

As nossas ordens vinham sempre de cima e raramente nos eram dados as informações mais elementares relativamente as nossas missões como por exemplo onde eles moravam, idades, o que eles faziam para viver e tudo o mais. Nos tínhamos que investigar muito acerca da vida dos nossos futuros apaixonados antes mesmo de os ir conhecer e engendrar um plano para os juntar, e neste caso não estava trabalhando com um único casal mas sim com dois potencias o que complicava a coisa ainda mais.  

A primeira parte do plano teria que ser a de provocar a separação do novo casal. Eu não gostava de todo dessa parte, não era a primeira vez que o fazia mas nem por isso era menos desagradável e ainda por cima não se avizinhava uma tarefa fácil pois eles tinham sido unidos por outra fada, mas teria que ser feito.

Estava tão entretida que não vi as horas passarem, a historia desse casal, que consegui através das varias redes sociais descobrir um pouco, tanto pelas suas contas como pela dos seus amigos, era fascinante. A minha colega tinha feito um ótimo trabalho, a historia que ela criou para eles era muito romântica e ela aproveitou-se do facto de que ambos estavam quebrados para os juntar. Claro que tinha sido ela a quebrar-lhes o coração mas isso nem contava. E eu precisava fazer isso outra vez.

Depressa chegou a hora de me encontrar com a minha querida amiga, precisava me preparar porque esta era outra missão que eu precisava levar a cabo ...juntar a minha amiga com o lindo Alan.

Não me parecia que ia ser muito difícil, especialmente no que dizia respeito a Liliana que tal como eu estava ansiosa por ter um amor na sua vida e pareceu fascinada pelo estagiário da minha barrinha de chocolate. Claro que podia existir toda aquela questão de aluno e professor mas neste caso ele não era bem um professor, ele apenas ajudava um. Mas de qualquer forma era melhor verificar quando me encontrasse com ele.

Eram nove horas quando o meu telefone tocou dando me a saber que uma mensagem tinha chegado.

* Vou chegar atrasado...Alan 😟*

respondi logo.* Muito?*

*Espero que não, estou retido na universidade, mas eu aviso 😘*

Adorei o pequeno beijo que ele me estava a mandar, era um pequeno consolo pelo seu atraso.

Nada iria mesmo correr bem neste dia. Pensava que a noite iria compensar de alguma forma o dia péssimo que eu tinha tido. Entre ser rejeitada pela minha barrinha de chocolate, a visita do meu chefe, uma nova missão que iria ser muito complicada de resolver e agora isto... Será que a minha sorte tinha também decidido tirar férias? 😭


1, 2,3... Lá vou eu outra vezOnde histórias criam vida. Descubra agora