Mais um dia de trabalho

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Tal como eu tinha feito mal cheguei, Helena pegou numa revista e começou a folheá-la devagar e claro só via modelitos de cabelos compridos e com madeixas de cor. Ao fim de um quarto de hora quando a vieram chamar ela já só pensava nesse penteado. Nada como uma mensagem subliminar para fazer efeito...

Quando chegou a minha vez fui só fazer um brushing, lavar e secar o cabelo, e fui sentada ao lado de Helena que brincava com o seu telemóvel.

-Desculpe menina mas deixou cair a sua echarpe.- Ouvi-a dizer. Claro que tinha sido eu a fazer com que caisse. Precisava de um motivo para começarmos a falar.

-Oh! obrigado, nem me tinha apercebido!

-Essa coisas acontecem-me o tempo todo.

Aproveitei a deixa e continuei a falar.

- Mas diga-me vem muitas vezes a este salão, é que é a minha primeira vez e tenho medo que não corra muito bem...

-Não se preocupe elas são sensacionais. Venho cá à anos e sempre saí satisfeita com o resultado. A Ângela aqui é maravilhosa. - indicando a cabeleireira que lhe estava a tratar do cabelo. -Mas você também teve muita sorte com a Maria, ela é uma deusa da secagem.

-Ótimo, é que estava com medo, sou nova na cidade e não conheço ninguém e amanhã vou a um casamento e não quero fazer feio.

-Que coincidência eu também, já decidiu o que vai fazer nos seu cabelo?

-Nada de especial...talvez uns caracóis, ainda não decidi...

-Ficar-lhe-ia lindamente uns caracóis com essa cor de cabelo fora do vulgar que você tem...

Sabia que a cor do meu cabelo não era comum ...rosa morango...e que chamava a atenção onde quer que eu passava...era o que eu podia chamar um dos meu melhores atributos.

-Obrigado.- fingi receber o elogio humildemente, não queria parecer muito convencida, mas a verdade é que eu tinha muita consciência da minha beleza.

A partir dali foi muito fácil conversar com ela, durante a próxima hora trocamos experiências, confidências e números de telefones. E assim nasce uma amizade...simples assim...Ficamos de nos encontrar a segunda feira para um café a meio da tarde para irmos as compras. Não lhe disse que a iria ver no dia seguinte no casamento, porque embora eu estivesse presente não estaria visível a ninguém. Era a parte divertida do meu trabalho, fazer com que tudo parecesse que estava destinado ou que fosse fruto de alguma ação divina, o que na verdade era...eu era mesmo muito divina....risos...

O resto do meu dia foi um pouco aborrecido,  fui espreitar os hábitos "dele" ...nada de muito interessante, alias muito pelo contrário...o homem era advogado. Vi-o debruçado a sua secretária o dia todo, lendo, virando papeis, e escrevendo...aborrecido.

O que não foi aborrecido foi a discussão que o casalzinho teve mal ele chegou a casa. Bem não foi bem um discussão, ele estava furioso e falando aos berros e ela toda doce respondia e tentava acalmá-lo.  A nova namorada não tinha feito nada para jantar, mesmo depois de estar o dia todo em casa sem fazer nada ...pelo menos foi o que eu percebi, e isso o deixou possesso, o que é perfeitamente compreensível.

-Não foste nem capaz de encomendar comida...eu não peço muito. Estás em casa o dia todo, tens apenas de arrumar o nosso quarto, levar as minhas roupas a lavanderia e preparar o jantar...e não consegues fazer isso...

-Desculpa amor mas comecei a ler um livro e perdi-me nas horas, juro que não volta a acontecer.- A vozinha dela tão meiga podia ter desarmado qualquer um. Mas acho que não devia ser a primeira vez que isso acontecia porque ele não se deixou manipular.

-Não é a primeira vez que acontece, é sempre a mesma coisa, está semana é a segunda vez. Passo um dia a trabalhar como um louco, para te dar tudo o que queres e tu és incapaz de me dedicares umas horas? Estou a ficar cansado disto, essa desculpa de te teres perdido nas horas está a ficar velha...foste pelo menos buscar o meu fato a lavanderia, sabes que preciso dele para o casamento do meu patrão amanhã.

Ela começou a chorar  baixando a cabeça humildemente, claro sinal de que não o tinha feito também. Ela pareceu-me tão frágil e desamparada. Percebia claramente que era uma boa menina, linda, mas que tinha nascido para ser cuidada e nunca para cuidar. Ela devia ter um marido que pudesse lhe dar tudo, inclusive uns empregados para tratar das coisas que para ela não pareciam ter nenhuma importância.

-Diz-me o que, santa criatura,  eu vou levar amanhã ao casamento?- Não sei se foi o choro dela que fez efeito ou o seu olhar desolado, mas o tom da voz dele tinha passado de furioso para resignado, mesmo que o rosto dele só mostrasse desalento e incredulidade. Eu pessoalmente acho que ele já não sabia o que fazer com ela...

-A lavanderia está aberta ao sábado de manhã, eu posso ir buscar o teu fato.- Disse ela baixinho e receosa mas com uma pontada de esperança na voz, como se ela tivesse talvez encontrada a solução para o problema do fato. Pobre menina...

-Não! deixa estar, eu vou.- E pegando no telemóvel, ele resolveu também a questão do jantar ligando para um restaurante chinês.- Vê se colocas ao menos a mesa, enquanto a comida não chega, eu vou tomar um banho. E sem mais ele abandonou a sala e foi para o que julgava ser o quarto deles.

A menina sentou-se no sofá e com a cabeça metida entre as mãos chorava baixinho. Quase que podia ouvir o que passava pela sua linda cabecinha...Não sirvo para nada, como é que me pude esquecer...ele vai deixar de gostar de mim...Eu não sou a mulher ideal para ele...mas eu  gosto tanto dele....como pude ser outra vez tão tonta....

Eu tinha pena da menina, ela não tinha feito aquilo por mal, ela era apenas assim...desligada. E eu sentia-me a mã da fita,  iria fazer tudo para separá-la do homem pelo qual ela estava apaixonada, mas que claramente não lhe convinha.  Senti-me mal por um instante até decidir fazer uma boa ação...iria arranjar-lhe um novo amor.

Não iria ser fácil mas iria resolver os problemas desses dois....

Palavra de fada madrinha!





1, 2,3... Lá vou eu outra vezOnde histórias criam vida. Descubra agora