Casamento ..mas não o meu

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No dia seguinte, um sábado, lá estava eu a trabalhar outra vez. Não é que se um sábado ou outro dia qualquer da semana fizesse alguma diferença, todos os dias eram dias de trabalho  para uma fada. Não podia simplesmente à sexta feira dizer bom fim de semana e fechar a porta atrás de mim. Enfim...Vida inglória...

Cheguei ao casamento bem cedo, queria estar presente quando eles se vissem pela primeira vez ao fim de tanto tempo. Precisava de ver as suas reações e ter a certeza que eles eram feitos um para o outro, não sei porquê mas tinha a impressão que alguma coisa não estava certa nessa história. 

No dia anterior tinha conhecido os personagens principais desse romance e não conseguia perceber depois de conhecer a mulher decidida e forte que era a Helena como  é que ele tinha optado por uma mulher completamente diferente. A minha vasta experiência no mundo do amor, levou-me a chegar há muito tempo a algumas conclusões, ou verdades universais, pelo menos para mim.  A primeira dessas verdades é que os homens são criaturas de hábitos, eles procuram sempre o mesmo gênero de mulheres, tanto a nível físico como a nível de personalidade e geralmente eram mulheres que lhes faziam lembrar as suas mães. Eles procuravam sempre mulheres com o mesmo tipo de físico e se depois a personalidade fosse o desejado começavam uma relação. E neste caso, as duas mulheres que ele tinha escolhido não podiam ser mais diferentes. Uma loira e pálida com um aspecto de fragilidade assustador e só podia provocar o espírito de proteção num homem e outra morena, decidida, respirando saúde e energia. Estranho...muito estranho..

Os primeiros a chegarem foi o casal maravilha. Tenho de admitir que ela estava linda, a palidez da sua pele de porcelana em contraste com o seu cabelo loiro e o vestido cor-de-rosa velho que deixava ver o redondo da sua barriga ainda pouco proeminente, era de tirar o fôlego. Ele por seu lado era um belo exemplar de homem, o fato que ele usava acentuava a sua figura esculpida por horas de ginásio, deixando-o com um ar saudável e cheio de energia o que contrastava o ar pálido e de certa forma doentio da sua acompanhante. Ninguém ao vê-los jamais diria que eles formavam um par perfeito...longe disso...era simplesmente estranho...

Quando Helena chegou acompanhada por um belo homem, alto moreno e que emanava segurança por todos os poros pensei que a festa ia pegar fogo, mas nada disso aconteceu.

Quando o ex-casal se viu, embora tenha percebido um enorme carinho e amor no olhar que trocaram, eles apenas se limitaram a se cumprimentarem como se de velhos amigos se tratassem...Percebi também que o homem lindo não era mais do que o irmão de Helena e as minhas já parcas esperanças caíram por terra, não fosse um ligeiro pormenor. A nossa menina grávida fantasma, mais conhecida por Elsa (não há nada como apresentações para conhecer o nome de toda a gente) não conseguiu disfarçar o profundo impacto que a presença de  Alexandre (irmão de Helena) lhe tinha causado, claro que ela tratou de o disfarça rapidamente mas eu ainda fui capaz de o identificar, com a idade vinha conhecimento, e para este caso iria precisar de muita sabedoria.  Enquanto isso o João (finalmente sabia o nome do herói dessa história) e a Helena mantinham uma conversa amena.

-Não sabia que virias ao casamento da Amanda?- Dizia Helena.

-Como não?  Ela vai casar com o meu patrão, não podia deixar nunca de estar presente. Foi ela que nos apresentou...Lembraste?- Ele não conseguiu disfarçar a saudade que a lembrança lhe trazia.

-Como poderia esquecer! -Estava claro no seu olhar que ela não estava tão indiferente com pretendia demonstrar, mas de um momento para o outro ela percebeu que eles não estavam sozinhos e mudou de conversa.- É verdade estás de parabéns, soube que ias ser pai.- A magoa na sua voz fez-se sentir ligeiramente, o ser humano não poderia jamais esconder tudo o que lhes passava no coração ou na mente sem que eu visse uma centelha que fosse do que estavam a pensar ou a sentir.

-Verdade, mas ainda falta um pouquinho, a Elsa ainda só está grávida de quatro meses.

-Então ela ficou grávida logo depois de nos termos separados.- Nessa frase a mágoa ficou patente tanto na sua voz como no seu rosto. Ela já não tinha força nem vontade par disfarçar o que lhe ia na alma.

-Sim, foi tudo muito rápido. Começamos a sair pouco depois de nós termos acabado- Ele olhou em direção a Elsa que distraída falava com Alexandre e continuou. - E quando vi ela já estava grávida. Não era suposto ter acontecido, mas Elsa esqueceu-se de tomar a pílula, na altura não sabia o quanto ela era cabeça no ar...um erro... e o resto é historia como se costuma dizer. - Ele levantou os ombros como que dizendo "agora não posso fazer nada".

-Pois...Mas parabéns, mesmo assim, eu sei o quanto querias ter filhos.- Ela mostrava-se resignada perante aquilo que não podia ser mudado.

Ouvi-o ainda dizer baixinho...-Não assim, não com ela.- A mensagem não podia ter sido mais clara.

Senti pena dos dois, porque  notava-se claramente que ainda existia uma ligação muito forte entre eles, mas que a barreira intransponível da gravidez dela não podia ser ultrapassada, pelo menos não para esses dois seres tão corretos e com uma moralidade muito enraizada.

Aproveitei que eles estavam juntos para colocar as minhas mãos nos seus ombros, e ver o futuro que lhes estava destinado. E o que vi trouxe me lágrimas aos olhos. Ela ficaria sozinha, nunca casaria ou terias filhos. Ele seria infeliz, teria outro filho com a Elsa, e por causa deles nunca se divorciaria... no fundo eram três vidas estragadas e nenhum amor ou felicidade viria alimentar a terra das fadas, precisava mesmo mudar o destino desta gente toda.

Decidi analisar os fatos que já tinha.

1º- Ele nunca deixaria a Elsa por causa do filho que ambos esperavam. Ele estava preso...

2º- A Helena e o João ainda se amavam. ( não era uma suposição, era um fato)

3º- Todos eles seriam infelizes, especialmente a criança que não tinha culpa nenhuma do que estava a acontecer.

Eu tinha que resolver esta situação e depressa cheguei a conclusão que só havia uma solução para o problema deste grupo todo. Elsa devia deixar João! 

Como fazer com que isso acontecesse seria outra história, achava pouco provável que essa menina que não parecia ter muita força de vontade tomasse uma decisão tão drástica como deixar o pai do seu filho a menos que fosse por alguma razão muito grave.

Mas tinha que haver uma maneira, havia sempre uma maneira...apenas não sabia qual era...ainda







1, 2,3... Lá vou eu outra vezOnde histórias criam vida. Descubra agora