Londres

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De propósito sentei-me desta vez na fila da frente, o que não foi muito difícil nesta aula porque ninguém queria ficar na mira do nosso queridíssimo professor. Acho até que esta aula só era frequentada porque era obrigatória  para quem pretendia fazer a licenciatura no curso de línguas e folclores tradicionais.

Lugares a escolha não me faltaram e a muito contra gosto Liliana me seguiu. A meio da aula já me tinha arrependido da minha escolha. Era uma tortura olhar para ele, especialmente quando ele nem sequer me dirigia um olhar.

A sua completa indiferença era como um punhal que se cravava na minha alma uma e outra vez, provocando um dor incomensurável. Tentei parecer indiferente também mas  acho que não obtive grande sucesso tanto que Liliana teve de me chamar atenção.

-Para de olhar fixamente para o professor! Ele está a ficar incomodado...- Disse ela baixinho.

- Eu estava a fixá-lo? Ups...estava tão distraída  com os meus pensamentos que nem sequer me apercebi que o estava a fazer...-Soltei um risinho só para disfarça.- Ele estava mesmo a ficar incomodado?

-As meninas aí a frente desejam partilhar alguma coisa connosco? - A Liliana mudou de cor ao ser repreendida e eu simplesmente levantei a cabeça arrogante.

- Não...nada...apenas estava aqui a pensar como seria bom ter vivido na Irlanda nos tempos áureos das fadas.

-E eu que pensei que tinha vindo para cá para aprender mais acerca delas e não para divagar, porque divagar pode ser feito em qualquer lugar... menina. - Respondeu sarcástico enfatizando o menina o que me deixou furiosa, que queria ele dizer com isso! Por outo lado, isso tinha feito com que olhasse para mim pela primeira vez desde que tinha entrado na sala de aula. Uma pequena vitória...

-Aprender também...

-Vejo que realmente o seu lugar não é aqui, não leva nada a sério...

-Está enganado existem coisas que levo muito a sério...- E ao dizer isso olhei para ele com o meu olhar ao mesmo tempo penetrante e convicto (treinado durante muitos séculos a frente do espelho para tentar intimidar o chefinho e que ultimamente até parecia estar a ter algum efeito)

-Pois não parece...- respondeu duvidoso.

-Pois mas está enganado, o tempo será meu aliado nesse caso, não é professor? - E dei-lhe o meu melhor sorriso. Ele sabia que eu estava a tentar aborrecê-lo, mas infelizmente não surtiu qualquer tipo de efeito, nenhuma reação visível no seu rosto, ou qualquer outra resposta mais mordaz, ele simplesmente virou costas, levantando os ombros com desdém e dizendo- Vamos ver...

O resto da aula correu tão chata como tinha começado, o que os humanos aprendiam a respeito o mundo das fadas era bem básico. Aparte o facto que Liliana estava sempre a lançar-me olhares inquisidores, ela queria saber porque estava provocar o mais temível dos professores e eu não estava nada disposta a dar-lhe nenhuma explicação. Fiz de conta que não era nada, impressionante o que se pode dizer sem falar, gestos expressões e mímicas serviam perfeitamente.

Quando a aula acabou dei um beijo a minha amiga e praticamente fugi. Durante as minhas pesquisas da véspera  tinha descoberto que a minha missão tinha tirado folga para ir ao cabeleireiro porque iria a um casamento no dia seguinte. Qual não foi a minha surpresa ao descobrir que antigo par, com quem eu a devia juntar novamente, estaria lá também com a sua nova companheira. Eu andava com mais sorte de que o habitual, o destino tinha decidido  ajudar-me,  mais uma razão para me apressar a agir e tinha que aproveitar esta manhã para guiar a minha missão nas escolhas mais adequadas para o casamento.(ainda não sabia o nome dela, nunca nos davam esses pormenores porque para as fadas deveriam ser somente o casal x ou y...mas a verdade é que nunca eram).

Como a minha minha missão era em Londres ...não que isso fizesse diferença...Fui para a casa de banho mais próxima, entrei num dos compartimentos e transportei-me até a casa de banho mais próxima do cabeleireiro, que para minha grande felicidade ficava num centro comercial. Fui então para o cabeleireiro sem saber ainda o que iria fazer, mas o trabalho de fada madrinha era mesmo assim, recheado de incógnitas...

Apenas sabia que a minha missão era composta por três partes:

1º- Fazer com que ele se separe da atual namorada( o que eu detestava ter de fazer);

2º- As duas partes da missão tem que se voltar a encontrar; 

3º- Fazer com que eles se apaixonem outra vez um pelo outro.

Isso dito assim até não parecia muito difícil mas não ia ser nada fácil... não😓

Uma parte importante do meu trabalho, era transformar a minha missão, na mulher mais atraente possível aos olhos do seu par, tal e qual como fiz com Cinderela. (não percebia porque era sempre retratada como uma velhinha nos filmes). Eu já sabia até qual era o tipo de mulher que ele gostava (mais uma vez, obrigada redes sociais, antigamente era bem mais complicado descobrir essas coisas, mas nessa época as pessoas eram também bem mais fáceis de entender...). Ela já se encaixava mais ou menos no perfil, ou não teria ele namorado com ela já uma primeira vez. O que eu precisava fazer era ajudá-la a despertar o seu interesse outra vez, para isso em vez de cortar o cabelo ela precisava de colocar longas madeixas, e aproveitar e colocar umas mais  clarinhas no meio do seu lindo cabelo marrom. Demorei menos de um segundo a delinear um plano e com ele em mente entrei no cabeleireiro.

Felizmente cheguei antes dela e dirigi-me ao balcão.

- Boa tarde.

-Boa tarde, que posso fazer para ajudá-la.

-Gostaria, se fosse possível de lavar e pentear o cabelo.

-Claro, mas a nossa próxima vaga é somente daqui a duas horas.

-Sem problema... eu espero.- Disse dando o meu melhor sorriso.

-Venha então comigo por favor. -Fui encaminhada até a área de espera onde me sentei numa poltrona confortável.

-Posso lhe trazer algo para beber, café, chá, uma água talvez?

-Para  já nada, muito obrigada.- Fui deixada sozinha pela recepcionista enquanto ela dirigia-se novamente para o balcão de atendimento.

Peguei distraída numa das muitas revistas de penteados que se encontravam espalhadas um pouco por todo o cabeleireiro e isso deu-me o resto da ideia que eu precisava.

Não tive de esperar muito para ver a minha missão entrar na loja, ela chamava-se Helena, pelo menos foi assim que a recepcionista a chamou... devia ser uma cliente habitual para ser tratada pelo primeiro nome. Entretanto arranjei um pequeno acidente para que ela tivesse de ficar um pouco na área de espera comigo. Nada de muito grave, apenas doloroso... a cabeleireira que iria atendê-la queimou-se com a prancha de esticar o cabelo e teve que receber alguns cuidados.

Depois de ter sido informada que a sua marcação iria se atrasar um pouquinho, ela passou pelo mesmo ritual que eu tinha acabado de passar e veio sentar-se na poltrona ao lado da minha.




1, 2,3... Lá vou eu outra vezOnde histórias criam vida. Descubra agora