Capítulo 1 | Vagabundo

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- Yuri, levanta.. vai dar 08:30. Que horas era a sua entrevista mesmo? Acho que era as 09:00, né?

Eu levando da cama num pulo. Minha mãe me acordou agora? Eu não acredito. Tô super atrasado pra entrevista !
Hoje é mais um dia
em que eu tenho que levantar cedo pra ver se tomo um jeito na vida. Minha mãe sempre fala que se eu não dar um jeito na vida, a vida vai dar um jeito em mim. Mas eu vou fazer o que se ninguém quer me aceitar? Eu vou nas entrevistas, mas ninguém me aprova. Deve ser por causa das minhas gírias ou das tatto.

Theo - Yuri, não vai tomar café?

Yuri - Tô atrasado, depois eu como..

Theo - Mãe, o Yuri vai sair sem comer !

O meu irmão é um daqueles super caguetas e que tira sarro de tudo. Típico de qualquer irmão. Mas eu tolero isso porque ele tem 11 anos ainda.

Pego o meu skate e vou pra entrevista. Será que nesse emprego eu paro?
Quem me indicou foi o meu amigo Lucas. É uma empresa que faz festas execultivas. Na verdade, é tipo um buffet. Só que como é coisa de rico eles tem que mudar o nome. Não sei pra que essa frescura, no final vai todo mundo pro mesmo buraco.

Yuri - Bom dia, eu vim para a entrevista de garçom..

Falei pra moça atrás do balcão. Ela ficou me encarando de cima a baixo. Eu acho que não estava tão mal assim. Coloquei minha calça jeans nova e uma blusa social de manga longa preta. Só tive que por o sapato por causa do skate.

- Segundo andar à esquerda, por favor..

Ela me responde com uma voz enjoada. Eu subo com o meu skate. Quando eu chego lá, vejo mais uns sete caras. Eles estavam sentados no banco. Eu sentei e coloquei o meu skate debaixo do banco. Não tinha ninguém no salão além a gente. Além do banco, tinha várias mesas redondas com talheres e pratos. Em um balcão próximo do banco em que estávamos sentados tinha algumas bandejas.

- Você está aqui pro teste de garçom também?

O cara que estava do meu lado me pergunta.

Yuri - Sim. Todos aqui estão pra esse teste ?

- Sim, menos o cara da ponta. Ele veio para o teste de copeiro e o outro ali quer trabalhar na cozinha.

Yuri - Ah..

- Aliás, prazer, me chamo Jackson, mas pode me chamar de Jack..

Ele estende a mão e eu dou o cumprimento. Até que esse tal de Jack parecia ser legal. Acho que ele se identificou comigo por causas das tatto. Ele tem umas tatto escondida por ai. Dá pra ver no pescoço e nas mãos.

Depois de uns cinco minutos uma mulher loira e um cara que tinha cara de mau entraram no salão.

- Bom dia, senhores.. eu sou a gerente do Buffet Victorious. Quem for fazer o teste para garçom venha comigo. Os outros aguardem.

Eu e mais caras levantaram e fomos em direção as bandejas.

Rosa - Quem quer ser o copeiro? Pode vir..

O cara da ponta levantou e ficou do outro lado do balcão junto com a mulher. Ele encheu os copos de água e colocou nas bandejas. O nosso trampo era levar na mesa que o cara que tinha cara de mau estava sentado. No começo eu fiquei com um pouco de medo de derrubar. Mas andei treinando em casa. Ficava levando os livros em uma mão só com um copo em cima.

Tivémos que fazer isso umas 15 vezes. No final a tal Rosa ficou de ligar para ver quem iria conseguir o cargo. O trampo era mais um bico, porque era de fim de semana só e não era todo fim de semana. Não é todo dia que um riquinho quer dar uma festa, né? Mas o trampo era bom. Pelo menos eu ia ganhar 250 por noite. Mas eu ainda tinha que ver um trampo pro meio da semana. Eu precisava de mais grana.

No caminho de volta pra casa eu passei na praia e vi os caras tirando onda com o street. Eu manjava um pouco, mas pra entrar naquele grupinho ali tinha que ser profissa.

Bom, resumidamente, minha vida é essa. Eu me chamo Yuri dos Anjos e tenho 20 anos. Moro com minha mãe Maria e meu irmão Theodoro. Meu pai abandonou a gente quando minha mãe ganhou o Theo. O safado fugiu com a amante e ainda ameaçou a gente se pedíssemos pensão. Desde então minha mãe fica fazendo uns trampo de manicure e vai nos apê dos playboy dar uma limpada. Mas o meu negócio mesmo é o skate. Vou com ele a onde for. Só ele pode me mover.

Mais tarde eu vou lá dar um rolê com os moleques. A gente gosta de ficar na pista de skate que tem perto da praia de Copacabana. Assim é bom que a gente fica vendo as dama passar. Eu nunca fui chegado numa patricinha. Acho isso muito falso. Normalmente as pessoas escondem o que são de verdade, sacou? As mina fica tudo finjindo de paty mas no fundo elas queriam andar com os maloca de skate. Ah, se um dia eu descobrir que uma dama ta dando uma de maloca, eu caso ! As mina daqui da vila são tudo assanhada. Eu curto mina assim, mas pra casar mesmo tem que ser uma mina firmeza e não esses pratos de microondas.

Chego em casa e encontro o Theo fuçando nas minhas coisas.

Yuri - Sai dae, moleque !

Theo - Que isso?

Ele pega uma playboy que tava na minha gaveta. Esse moleque ta ficandi muito atrevido !

Yuri - Sai, porra..

Eu dou um tapa na cabeça dele e pego a revista. Ele sai me xingando e bate a porta. Tenho que lembrar de trancar o meu quarto quando sair !

Maria - Yuri, eu já disse que não é pra ficar batendo no seu irmão. Vocês são uma família, tem que se unir..

Yuri - Esse moleque fica mexendo nas minhas coisas. Se ele voltar vai levar tapa de novo..

Maria - Yuri..

Ela sai do quarto e volta pra cozinha. Deito na minha cama e começo a ver a playboy que o meu irmão tentou roubar. Até que o malandrinho escolheu a revista certa.. essa é a mais gostosa de todas !

Me assusto com o celular tocando. Jogo a revista embaixo da cama e atendo. Era o Léo.

Léo : E ai, mano, tranquilo?

Yuri : Tranquilo, Léo. E ai, o que manda?

Léo : Os cara vai dar um role na praia. Bora?

Yuri : Bora, porra.

Léo : Fecho. Trás o skate porque depois a gente vai no pistão..

Yuri : Flw..

Ele desliga. Eu troco de roupa e saio sem meu irmão ver, porque se ele visse que eu vou pra praia, ele iria querer ir junto e hoje eu não to a fim de ser babá não !

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