Eram pouco mais de seis horas da manhã, quando o celular de Callie começou a tocar sem parar; ainda de olhos fechados, ela procurou o aparelho entre as cobertas, que parecia estar tocando dentro de sua cabeça, e atendeu.
— Torres, me diga que você não esqueceu que temos uma cirurgia marcada para essa manhã. — a latina não sabia bem o volume da voz de Mark, mas por conta da ressaca, ele parecia estar gritando. — E você pode me dar uma carona para o hospital?
— Te vejo em vinte minutos, Mark.
Ainda com os trajes da noite anterior, Callie dirigiu-se para o banheiro, onde pôde olhar-se no espelho e ver que seu rosto estava tão ruim quanto sua dor de cabeça. Ligou o chuveiro e com olhos fechados, deixou que as gotas quentes caíssem sobre seu corpo. Durante o banho, tentava lembrar mais detalhes da noite passada, especialmente, quem a levou embora, mas foram tentativas em vão.
Enrolada em uma toalha vermelho sangue, Callie dirigiu-se até seu guarda roupa e sem coragem de escolher, pegou as primeiras peças que apareciam em sua frente; acabou vestida numa calça jeans escura, uma blusa básica, sapatilhas e uma de suas jaquetas de couro. Prendeu o cabelo num coque alto e saiu em busca de café, e um remédio para a dor.
— Ana! — Callie assustou-se, ao ver a mulher com Sofia nos braços. — Você ainda está aqui.
— A Dra. Robbins pediu para eu ficar por aqui, caso a Sofia acordasse durante a noite.
— A Dra. Robbins?
— Sim. — Ana confirmou, confusa por Callie ficar tão surpresa ao saber que Arizona esteve no apartamento. — Você não estava nada bem, então ela veio te trazer.
Callie ignorou as palavras da babá sobre a loira, e começou a juntar suas coisas para sair. Pegou a filha, gentilmente, dos braços da moça e na mão livre, apanhou um copo térmico com café.
— Eu preciso ir ao hospital agora. E muito obrigada por passar a noite aqui, Ana.
— Sempre que precisar, Callie.
As fortes batidas na porta mostraram que Mark já estava esperando pela latina, que em passos largos, caminhou em direção à saída. Callie pediu para o amigo pegar a cadeirinha de Sofia e os dois saíram em direção ao estacionamento do prédio.
— Você está péssima, Torres.
— Você não precisa me dizer isso, Mark. Eu já percebi.
— Ah, aqui está a chave do seu carro. — Mark tirou objeto do bolso da jaqueta e entregou para a latina.
— O que você está fazendo com a chave do meu carro?
— Ontem à noite a Robbins me ligou e pediu para eu passar na casa da Teddy quando saísse do hospital, e buscar o seu carro. — Mark lançou um de seus olhares sacanas para Callie, antes de continuar. — Porque parece que você não estava bem, e ela teve que te trazer para casa.
Callie revirou os olhos e deu de ombros, tentou caminhar mais rápido para chegar logo em seu carro. No automóvel, Mark arrumou Sofia na cadeirinha no banco de trás e depois juntou-se à amiga na frente, no banco do passageiro. Uma vez que todos estavam acomodados, Callie partiu para o Seattle Grace.
— O que é isso? — Mark sentiu algo enroscado em seu pé e abaixou para pegar, caindo na gargalhada ao ver o que era. — Uau!
— O que foi? — Callie olhou para o amigo e sentiu suas bochechas queimaram quando viu a pequena peça branca, pendurada no indicador dele.
— Presumo que essa calcinha não seja sua.
— Me dá isso aqui! — ela disse, pegando a peça das mãos do amigo.
— Ah, mas é claro. — Mark disse rindo, como se tivesse descoberto a solução de um grande problema. — Eu já sei quem é a dona.
— Você não sabe de nada, Mark.
— Arizona Robbins.
Callie deu de ombros, o que foi suficiente para o amigo ter certeza de que a dona da peça era mesmo a Arizona. A latina tentava ignorar, mas Mark não parava de fazer piadinhas nem por um segundo; aquele caminho para o hospital nunca foi tão longo.
***
Chegando ao hospital, Callie passou para deixar a filha na creche antes de ir para a sala dos atendentes, onde encontrou April e Owen discutindo sobre um caso de trauma.
— Bom dia.
— Bom dia, Callie. — os dois responderam em conjunto, lançando um sorriso sacana para a latina, que deu de ombros e foi até seu armário.
— Vocês sabem se a Dra. Robbins está de plantão hoje?
April e Hunt entreolharam-se e depois voltaram seus olhares para Callie, perguntando-se se Arizona ainda não havia dito para a latina ou até mesmo, se diria à ela.
— Ela não te contou? — April perguntou.
— Não me contou o que?
Como se fosse algo do destino, a loira apareceu naquela sala, vestida em uma de suas roupas habituais. Ao verem a loira, April e Owen saíram da sala rapidamente, deixando-as sozinhas.
— Arizona, você pode me dizer o que está acontecendo?
— Do que você está falando?
— Não se faça de idiota. — disse Callie, irritada. — O que é isso que contou para todos e não contou para mim?
Arizona engoliu em seco e respirou fundo, pensando no que iria dizer. Depois de ouvir aquelas palavras de Callie na noite anterior, sabia que esse momento seria difícil e que a latina não aceitaria.
— Eu estou indo para Malawi.
— O que? — Callie esforçou-se ao máximo para não deixar que as lágrimas, que lutavam para sair, rolassem pelo seu rosto. — Por quanto tempo?
— Três anos.
— Você só pode estar de brincadeira.
— Fique calma, Callie.
— Por que você não me disse, Arizona? — ela perguntou, andando impaciente de um lado para o outro.
— Callie, nós não estamos mais juntas.
— NÓS NÃO ESTAMOS JUNTAS, MAS EU TE AMO, ARIZONA ROBBINS! — gritou Callie, suspirando de alívio como se aquelas palavras estivessem guardada há muito tempo. — Eu não significo nada para você?
— Esse é o problema! — disse Arizona, sem perceber que estava gritando. — Você significa tudo para mim, Calliope Torres!
— Então por que você vai me deixar?
— Essa viagem vai mudar a minha carreira. É uma oportunidade única, e eu não posso deixar passar.
— Parece que eu não significo tanto assim para você. — Callie cuspiu aquelas palavras friamente, secou as lágrimas em suas bochechas com as costas da mão e saiu da sala em passos apressados.
Arizona sabia que não podia, e nem queria, voltar atrás. Já estava decidido, ela iria para África e ficaria lá por três anos, fazendo seu trabalho. Não podia desistir de uma oportunidade tão incrível, oportunidade essa que mudaria a sua vida.
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I THINK YOU'LL KNOW
FanficJá parou para pensar no quão rápido a sua vida pode mudar ? Em um minuto, você é apenas a nova médica ou a médica que acabou de voltar ao trabalho. E em outro, você encontra o amor da sua vida. A vida de Callie teve uma mudança drástica após a che...