Capítulo 27

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Os dias de Callie não estavam sendo nada fáceis. Ela passava a maior parte de seu tempo no hospital, mesmo sem ter cirurgias marcadas; e só ia para casa à noite, supostamente para dormir, portanto não fazia isso há um bom tempo.
Mark se ofereceu para tomar conta de Sofia, até que ela tivesse condições para cuidar de outra pessoa além dela, coisa que não estava fazendo. Ele estava fazendo de tudo para dar suporte e ajuda à amiga, mesmo que não ajudasse muito, Mark estava dando o seu máximo.
Callie tentava ser forte e aguentar a situação, mas aquilo era tão difícil, e ela não conseguia suportar. Era como se não estivesse vivendo, apenas existindo.

***

Callie passou mais uma noite acordada, por mais que tentasse dormir, todo vez que fechava os olhos, a imagem da linha reta correndo pelo monitor tomava conta de sua cabeça e as lágrimas voltavam a escorrer pelo seu rosto.  Assim que o dia clareou e os raios fracos de sol começaram a iluminar o quarto, levando embora a chuva forte da noite passada, a latina levantou-se e caminhou até o banheiro em passos lentos e calmos.

As gotas mornas caíam do chuveiro direto para o corpo de Callie, ajudando seus músculos a relaxar. Mas tudo o que ela queria era que aquele banho lavasse a sua alma, levando todas as suas mágoas pelo ralo, mas infelizmente, só lavava o lado de fora.
Após, mais ou menos, trinta minutos, saiu do banho enrolada em uma de suas toalhas habituais e foi para o quarto. Escolheu uma blusa preta e uma calça da mesma cor no guarda roupa, e uma bota de couro de cano médio. Parou em frente ao espelho e viu que seus olhos inchados e as olheiras entregavam que havia chorado à noite toda, mas ela ignorou e só prendeu o cabelo num coque alto, deixando de lado a maquiagem. Antes de sair para o trabalho, encheu um copo térmico com café, uma das únicas coisas que ingeria ultimamente.

— Bom dia, Torres. — Mark apareceu no corredor com Sofia nos braços, juntando-se à latina.

— Oi, Mark. — Callie pegou a filha dos braços do amigo, e depositou um beijo leve no topo da cabeça da mesma. — Você quer carona?

— Claro. 

***

O caminho para o Seattle Grace foi estranhamente silencioso e por um momento, Mark desejou ter ido com o próprio carro. Callie não disse nem uma palavra, permaneceu com os olhos pregados no trânsito à todo momento, e o amigo não quis puxar assunto, teve medo de ser pior que o silêncio. 

Chegando no hospital, Callie foi levar a garota para a creche e quando estava à caminho, não pode deixar de notar o olhar das pessoas pesados sobre ela; como se quisessem dizer algo, mas não tinham coragem. Ignorou todos os olhares e seguiu caminhando, falando apenas com as pessoas que a cumprimentavam.

Ainda com seu traje casual, Callie entrou em um elevador e antes de ir para a sala dos atendentes para trocar as roupas pelo uniforme, foi para o quinto andar. Seu coração acelerou quando as portas de metal abriram-se e pôde ver a imagem do neurocirurgião parado em frente ao Quarto 52.

— Derek, o que você está fazendo aqui?

Flashback on

A linha continuava correndo no monitor do aparelho e Callie não parava de gritar e dar socos no vidro da galeria, Mark tentava segurar seu corpo, mas todo a força que havia na latina estava sendo colocada para fora.

— Tire ela daqui, Mark! — Bailey ordenou com a voz firme, e o homem começou a puxar Callie para fora à força.

— ARIZONA, NÃO ME DEIXE! EU PRECISO DE VOCÊ.

Uma vez que a latina estava fora da galeria, Cristina ordenou que carregassem as pás novamente e sem demora, a enfermeira obedeceu.

— Ela está de volta. — o coração de Arizona batia em um ritmo baixo, mas já era alguma coisa; ela estava viva e os médicos precisavam de um plano.

— Vamos precisar amputar. — Dr. Beistorf manifestou-se, sabendo que aquela era a única solução.

— Mas nós precisamos de uma autorização primeiro, mas não temos tempo de entrar em contato com a família e Callie não está em condições de decidir nada.

— Owen, você não acha que a Arizona escolheria viver? — Cristina mostrou sua opinião, e foi apoiada por Bailey. — Nós precisamos fazer tudo que podemos para salvá-la.

Flashback off

— Oi, Callie. — Derek respondeu gentilmente, com uma voz calma e um sorriso suave. — Eu passei aqui para checar as atividades cerebrais. E está tudo bem, por enquanto.

— Ah, graças à Deus!

— Bom, eu preciso ir agora. — o homem pousou a mão no ombro da latina, e o mesmo sorriso suave formou-se em seus lábios. — Os pais foram tomar café, caso queira passar um tempo sozinha com ela.

— Tudo bem.

Callie parou na porta antes de entrar no quarto e ficou observando a mulher que mesmo rodeada de fios e aparelhos, continuava linda. Sua pele ainda estava pálida, mas seus lábios continuavam rosados; o subir e descer de seu peito, devido a respiração calma, levava paz à latina.

Sentada em uma cadeira ao lado da cama de hospital, Callie passava os dedos pelos fios loiros e cantarolava uma música qualquer, esmo que Arizona estivesse inconsciente, queria que ela soubesse que estava ali.

— Fazem três dias, mas sinceramente parece um século. Não está nada fácil. — Callie engoliu em seco e suspirou, antes de continuar. — Eu preciso ouvir a sua voz, preciso do seu sorriso mágico para alegrar os meus dias e da imensidão azul de seus olhos que me trazem paz; Eu preciso de você, Arizona. Você não pode me fazer te amar tanto e depois me deixar assim, não é justo!

— Callie.

— Sra. Robbins. — Callie levantou num salto e secou as lágrimas com as mãos. — Coronel.

— Me chame de Barbara, Callie. — Arizona não parecia com os pais fisicamente, mas tinha um pouco de cada um em sua personalidade; era doce como a mãe e ao mesmo tempo, durona como seu pai. — Nos chame pelo primeiro nome.

— Pode me chamar de coronel mesmo.

Callie permitiu-se rir por um instante e com os braços abertos, caminhou em direção ao casal para abraçá-los. Mesmo que conhecessem a latina há apenas três dias, os pais de Arizona tratavam ela da melhor forma possível, como se fosse a própria filha deles.

— O que aconteceu?

O coração de Callie parou por um segundo e ela sentiu todo o seu corpo paralisar. Não conseguia acreditar que aquilo era verdade, mesmo que tenha passado todos os dias desejando que isso acontecesse, não parecia real.

— Arizona? — disse Callie, correndo para perto da cama, enquanto as lágrimas rolavam pelo seu rosto.

— Callie, o que aconteceu?

Os pais de Arizona se aproximaram da cama e permaneceram próximos à ela, um pouco assustados. Enquanto a filha percorria os olhos pelo quarto, tentando descobrir o que estava acontecendo.

— Chamem o Dr. Shepherd e o Dr. Hunt, por favor.

— Callie, o que eu... — Arizona parou de falar no mesmo instante que teve uma visão de sua perna, seus olhos confusos olharam para Callie e depois voltaram para o membro. — Não! Por favor, me diz que isso não é real.

— Arizona, filha. — Barbara aproximou-e da cama e apanhou a mão da loira, depositando um beijo leve nela. — Eles precisaram fazer de tudo para salvar a sua vida.

Arizona olhava para a latina de uma forma diferente. Seus olhos marejados não demonstravam raiva, era um olhar diferente, era indescritível.

— Eu quero que ela saia daqui agora.

— Arizona, fique calma. — Callie estava confusa com tudo aquilo, ela sabia que a reação da loira não seria das melhores, mas era assustador.

— Saia daqui agora! — o tom de Arizona estava baixo e sua voz fraca, porém mostrava firmeza. — Eu nunca mais quero te ver, Calliope Torres.

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