Capítulo 8: Divididos (Parte 2)

60 3 0
                                    

Sem perder um segundo sequer, o forasteiro se adiantou e cobriu a entrada com rocha maciça.

Ember parecia perdida, sem saber o que fazer, sem entender o que acontecia.

Kuzou reparou então nos buracos nas paredes e percebeu o seu significado. O mais rápido que podia, ele começou a tampá-los também. Na metade do trabalho, percebeu o quão fútil aquele ato era.

"Eles cavaram uma vez, podem facilmente cavar de novo."

Começou a analisar as opções. Não eram muitas.

— Kuzou, me explica... — tentou ela mais uma vez, sem sucesso.

O dobrador de terra a pegou pelo pulso e a arrastou até uma das paredes. Ela se desvencilhou, irritada.

— Me larga, porra! Me explica o que está acontecendo! — gritou.

A parede da entrada foi abaixo, e centenas de rastejadores se infiltraram.

A menina travou de perplexidade.

— Me siga mantendo eles longe! — mandou o ex-agente, virando a garota para si.

Ele então começou a dobrar um novo túnel na parede, em subida. Ember obedeceu sem hesitar e correu para segui-lo.

O dobrador de terra cavava freneticamente, abrindo um grande espaço à frente e, quando possível, fechando a parte de trás. As paredes, no entanto, não eram páreas para os rastejadores. Eles as atravessavam como se fossem papel. Portanto, não demorou para que as criaturas os alcançassem.

Quando a última defesa caiu, porém, Ember não conseguia se mexer.

As criaturas pularam em cima dela.

Uma nova parede de rocha saiu do solo e esmagou os insetos mais próximos contra o teto. Os fluidos que espirraram encharcaram a menina.

— Medo de insetos, sério?! — soltou Kuzou, incrédulo. — Como você pretende ser independente desse jeito, deixando os outros fazendo tudo?!

A garota levantou a cabeça. A parede caiu, e mais insetos vieram. Outra parede veio, esmagando mais rastejadores. Dessa vez, a dobradora de fogo desviou do banho nojento.

— Prove-me do que você é capaz! — incitou ele.

Outra parede. Mais insetos. Outra parede.

— Prove para Rohan do que você é capaz!!! — berrou.

Quando a parede veio abaixo, chamas preencheram o túnel.







Não faltava muito para o sol se pôr. O céu já apresentava aquele tom alaranjado tão adorado pelos casais. Yan calculava no máximo vinte minutos até o anoitecer. Ele mal podia esperar pelas estrelas.

Levantou e foi ver o enfermo.

Rohan encontrava-se deitado no chão, sob a sombra da tenda. O nômade não tinha esperanças de conseguir locomover o Gigante nem que fosse por centímetros, portanto, infelizmente, não pôde preparar um leito de fato. Na verdade, só de levantar alguns dos membros para os curativos, ele já sentiu uma enorme pontada nos braços. Quando terminou, ficara deitado sentindo os "músculos" pulsarem, incapaz de mexer um dedo.

Agora o colosso se via coberto de ataduras, e respirava de forma profunda. Yan não era nenhum mestre das artes curativas, mas tinha um conhecimento básico de primeiros socorros adquirido com os monges. Não se comparava às habilidades dos dobradores de água, óbvio, principalmente porque ele não dobrava água. Entretanto, quando viu Rohan desabando, ele não podia simplesmente ficar parado sem fazer nada. E pensar que um homem daquele tamanho podia ser derrubado.

A Lenda da Abominação - Livro Um: AmizadeOnde histórias criam vida. Descubra agora