Capítulo 13: Antes da Tempestade

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Foi uma viagem quieta e tranquila, de certa forma. O cansaço advindo das várias subidas e descidas e trilhas rústicas desniveladas os fez evitar qualquer tipo de desperdício de energia, incluindo conversar. Nem mesmo Yan tinha forças para suas habituais reclamações.

Graças ao amplo conhecimento de Rohan sobre os arredores de sua cidade natal, a passagem deles pelas montanhas demorou apenas dois dias. Pegaram pelo menos dois atalhos diferentes e uma passagem "secreta" durante o trajeto. Descansaram o melhor possível nesse tempo, mas não havia muitas opções confortáveis no caminho montanhoso, e estavam com pressa. Comida não faltou, pelo menos, cortesia dos dedos leves de Ember no Oasis.

Alcançaram o outro lado da cadeia de montanhas recebidos pelo anoitecer no horizonte. A grande cidade de Gaoling já era visível, centenas de metros abaixo deles, recheada de pontos luminosos que clareavam os pés das montanhas em volta.

Sem sequer se dignar a uma olhada à sua terra natal, o gigante guiou os amigos para fora de uma pequena caverna, adentrando em seguida uma larga estrada — duas carroças passariam lado a lado com folga — que serpenteava pela lateral do precipício montanhoso, descendo em direção à sua base.

A visão de um solo liso pareceu devolver um pouco de energia ao nômade, que cambaleava tonto na retaguarda dos amigos. É claro que ele usou essa escassa energia para reclamar.

— Não sinto minhas pernas. Quanto falta para chegarmos?

— Nesse ritmo, devemos estar lá ao amanhecer — respondeu seu "guia turístico" pessoal.

O dobrador de ar desabou no chão, pasmo e exausto demais para seguir em frente depois dessa notícia horrenda. Não deixou de reclamar, no entanto.

— Você só pode estar brincando. Anoiteceu não faz nem uma hora!

Rohan deu de ombros — de forma educada, claro — em resposta. O grupo parou perto da primeira curva em U da estrada para ouvir o lamento do amigo. Muitas dessas curvas ainda os aguardavam montanha abaixo. Não era uma visão muito inspiradora.

O gigante ofereceu a mão para Yan levantar-se, mas foi negado.

— Sinto muito, grandão, mas só saio daqui carregado.

O amigo entendeu a sugestão velada nesse comentário e riu. Kuzou decidiu se intrometer.

— Por mais que o nosso enorme amigo seja facilmente capaz disso, ele também deve estar cansado, não acha?

O dobrador de ar virou o rosto contrariado e xingou mentalmente o companheiro intrometido por estar sempre certo.

Foi Ember, de todas as pessoas, que ofereceu uma possível solução para o empasse. E sem uma ofensa sequer.

— Olha, parece que tem algum tipo de estabelecimento mais para baixo. Talvez a gente possa descansar por lá? — A dobradora de fogo inclinava-se além da borda da estrada, olhando diretamente para baixo.

Todos a encararam. Até mesmo o nômade, que não estava em uma posição favorável para aquela ação, contorceu-se de forma desconfortável para olhá-la. A esperança estava escrita em sua testa. A garota adquiriu um leve tom corado no rosto com toda aquela atenção.

— Provavelmente é apenas uma casa residencial. Não seria decente, muito menos seguro, da nossa parte incomodá-los — disse o ex-agente.

De imediato, o nômade voltou a afundar no chão, triste. Sua posição parecia mais confortável, pelo menos.

— Não parece uma casa — rebateu a menina, voltando a olhar além da borda. — A estrutura não combina. Seria uma casa muito estranha. Parece mais um... hotel, talvez? — chutou ela.

A Lenda da Abominação - Livro Um: AmizadeOnde histórias criam vida. Descubra agora