Capítulo 15: Cólera

18 1 1
                                    

Ser jogado com força para dentro de uma loja não era algo agradável. Por sorte, ou por azar, a loja que Yikki aterrissara era uma com foco em vestimentas. As roupas impediram um agravamento de sua situação, apesar da vitrine ter feito seu estrago.

Coberto de cortes, mas de certa forma sadio, o assistente do Avatar voltou para a rua de qual fora ejetado, firme. Saiu da loja a tempo de ver os dois que tinham sido incapacitados fugindo da área. Por mais que quisesse impedi-los, no entanto, seu agressor encontrava-se no meio do caminho, a postura deixando claro que não permitiria a passagem de ninguém. Yikki lembrava-se muito bem dele.

Um barulho ao seu lado chamou sua atenção. À sua direita, indo em direção ao caído Buma, via-se um gigante de pedra. O tamanho não deixava dúvidas.

"A abominação! "

O dobrador de água não pensou duas vezes e se preparou para atacá-lo pelas costas, porém, antes que sequer pudesse se ajeitar, um muro de terra ficou em seu caminho.

O rosto do comparsa da abominação a sua frente dizia tudo: "Seu oponente sou eu".

— Que seja — conformou-se o ex-curador de museu.

Determinado a acabar logo com aquilo, o assistente do Avatar partiu para cima do dobrador de terra atacando com chicotes d'água. Kuzou desviou da maioria das rajadas e defendeu outras com rochas com eficiência fria, enquanto dobrava a terra em ondas para afastar o atacante.

Yikki fez uma careta de desgosto quando foi rechaçado, mas continuou avançando, procurando aberturas conforme atacava com a dobra d'água. Kuzou, no entanto, era implacável. Evitava todos os ataques, sem falha, e sempre conseguia mantê-lo afastado.

Por algum motivo, porém, ele apenas se mantinha na defensiva. Como se estivesse ganhando tempo. Aquilo o irritou. Estavam sendo subestimados. Iam se arrepender por isso.

O assistente pressionou mais e mais, variando as estratégias, mas continuava a ser desarmado.

— É só isso que consegue fazer? Se defender? — provocou o ex-curador.

Seu oponente não se dignou a responder. Sua expressão imutável, ilegível. Nunca admitiria isso — afinal, a ameaça maior era a abominação e ele era apenas mais um de seus comparsas — mas toda vez que encontrava com aqueles olhos sentia um arrepio por todo o corpo. Era como se cada passo que dava em sua direção, era um passo dado para o próprio abate. Cada movimento, um novo erro para ele aproveitar.

Atrás de si, os sons de batalha continuavam. Queria estar participando, mas tinha receio de sequer virar para olhar. Dar as costas a Kuzou não parecia uma escolha sábia. Reconheceu um gemido de dor, no entanto. Não era de Buma. Yikki se permitiu um sorriso.

— Parece que seu joguinho não deu certo — disse.

O "plano" deles era óbvio. O comparsa o distraia para a abominação usar sua vantagem de tamanho e dobras para poder vencer o outro, e então seria dois contra um. Não contavam, no entanto, que ambos fossem combatentes de elite. Apenas um deles seria mais do que suficiente para lidar com aquele bando maltrapilho de vagabundos.

— Vocês nos subestimaram — continuou ele, se preparando para o que ele acreditava que seria a investida da vitória.

Kuzou fez a última coisa que ele esperava: sorriu e relaxou sua postura. Sua expressão parecia dizer: "Quem subestimou quem, exatamente? ". Um outro arrepio lhe percorreu o corpo. Não resistiu e olhou para trás.

Não chegou a tanto.

Uma massa dura e inicialmente incompreensível o atingiu antes que completasse de se virar. Sentiu algo em sua cintura estalar quando atingiu a parede do outro lado da rua, mas não conseguiu identificar o que ao meio a dor e todo o ar deixando seu pulmão. Quando abriu os olhos, tudo estava embaçado. Um vulto caminhava em sua direção através da agora destruída parede de pedra que os separavam antes. Não precisou esperar a visão se acertar para saber quem era; a estatura não permitia enganos. Sua armadura de pedra estava recheada de falhas que revelavam ferimentos, mas se eles fizeram alguma coisa, parecia ter sido apenas irritar o colosso que caminhava até ele com puro ódio nos olhos. Uma aberração de fato.

A Lenda da Abominação - Livro Um: AmizadeOnde histórias criam vida. Descubra agora