Capítulo 11: Dunas (Parte 2)

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O silêncio criado pelo choque tomou conta do grupo. Mas não duraria muito; aproveitando a oportunidade, Rohan tomou a iniciativa, antes que os outros dois saíssem do estupor e começassem a se desesperar.

— Yan — o nômade virou seus olhos para ele. — Volte a pilotar, rápido. Ainda estamos sendo perseguidos.

O dobrador de ar não respondeu nem agiu de imediato. Parecia querer começar a falar. O seu rosto deixava claro que não seria nada construtivo. O gigante o interrompeu com uma ordem enérgica, e finalmente o barco começou a se mover.

No final, não precisou se preocupar muito com Ember. Ela estava focada demais no que acabara de fazer para falar ou fazer algo característico de sua pessoa. Bastou pedir para que ela cuidasse de Kuzou e a garota concordou sem pestanejar, apesar da cara de desconforto que fazia toda vez que via a queimadura.

Rohan entendera muito bem o que aquela mão no ombro tinha significado. A responsabilidade era sua agora. Tinha de cuidar deles e guiá-los para fora daquele lugar. Nunca tinha sido qualquer tipo de líder ou chefe na vida, mas sabia que era melhor no papel que Yan ou Ember. Não tinha escolha, mas faria o melhor possível para agir como o ex-agente e mantê-los a salvo.

Algumas horas se passaram com um relativo silêncio. Kuzou continuava inconsciente.

Precisaram dar uma pausa para Yan descansar. O nômade se jogou no chão de madeira com os braços pulsando de dor. Dobrara sem parar nas últimas horas, com todas as suas forças. O gigante estava orgulhoso, mas sabia que logo teria de pedir para o coitado voltar a dobrar. Estavam em fuga, e os dobradores de areia tinham muitas vantagens contra eles. Logo os alcançariam.

— Yan. — chamou ele. O nômade gemeu como resposta. — Quando você voltar a pilotar... — Outro gemido. — Mude o curso para sudoeste.

— Mas... — tímida, Ember começou a falar pela primeira vez em horas. — O tal posto dos dobradores de areia não fica à sudeste? Acredito que estamos perto, aliás.

Mentalmente, o dobrador de ar agradeceu a garota. Queria perguntar a mesma coisa, mas não tinha forças nem para falar.

— Sim, mas acredito que não podemos arriscar. Estaríamos indo direto para território inimigo, e duvido que os dobradores de areia lá já não estejam informados do nosso roubo. — respondeu Rohan.

— Mas não temos escolha, temos? Mal temos suprimentos — rebateu ela.

— Realmente. Mas fiz uns cálculos, e com esforço, conseguiremos chegar no Oásis de madrugada. Lá poderemos reabastecer mais calmamente. Não teremos de nos preocupar com uma horda de dobradores de areia em cima de nós, pois eles não têm poder algum lá.

— Teremos outro problema em um lugar turístico como aquele. Com certeza lá está recheado de cartazes nossos. — Ela estava perturbada.

— É a nossa melhor aposta — insistiu o gigante, com um tom leve, para acalmá-la. — Talvez possamos até tomar um banho.

Aquela ideia tentou Ember o suficiente para ela aceitar. Rohan entendia perfeitamente. Nenhum deles conseguira se lavar de forma própria desde que essa loucura havia começado. O máximo que conseguiam era uma mergulhada em rio de vez em quando, e isso dificilmente era ideal. Sem contar que tinham de colocar as mesmas roupas após o mergulho, e ia apenas um de cada vez, por motivos de pudor. Um banho decente era uma bênção.

— Então vamos logo, nesse caso — soltou Yan, se forçando para levantar. — Mas não quero nem saber, a prioridade do banho é minha.

Após a surpresa, ambos os outros deram leves risadas.

A Lenda da Abominação - Livro Um: AmizadeOnde histórias criam vida. Descubra agora