Sair da Grande Divisão foi um problema bem maior que o imaginado. Após a vitória sobre o mercenário, a última coisa em suas cabeças era como sairiam dali. A adrenalina os movia, nada parecia poder incomodá-los. Logo ela se dissipou, no entanto, e as prioridades mudaram.
Ember não aguentou carregar Yan por muito tempo — também estava cansada —, então o nômade teve de ser colocado no leito, junto com Rohan. Infelizmente, não demorou para o leito em si também se tornar um estorvo. Foi fácil o suficiente transportar os amigos através do solo plano do fundo do Canyon, com pequenas exceções aqui e lá; mas era basicamente impossível levá-los para fora de lá, quando chegaram no grande paredão de uma de suas extremidades.
Há tempos não existiam mais rampas ou trilhas para entrar ou sair do Canyon, muito menos guias. A Grande Divisão não tinha mais o potencial atrativo de décadas atrás. Sempre havia os peregrinos, mas era um número muito ínfimo; o resto das pessoas não se interessava, simplesmente porque havia pontos turísticos melhores e mais seguros. Nem como passagem o lugar servia mais: com a tecnologia atual, existiam dezenas de formas de se chegar do outro lado da Divisão sem precisar necessariamente cruzá-la. Em consequência disso, o antes famoso ponto turístico se tornou um buraco selvagem e perigoso. E os dois estavam sentindo isso na pele.
Kuzou não tinha forças para criar um caminho novo, e mesmo que tivesse, o tempo estava contra eles. Rastejadores tinham sido um problema constante durante a viagem, e com a lua em seu ponto mais central no céu, eles pareceram ficar mais ousados. Metade dos mantimentos foi perdida. Sem falar da ameaça constante de mais mercenários.
Ember sentou na lateral do colchão de pedra, ao lado dos amigos, exaurida.
— Como... como vamos chegar lá em cima? — bufou, olhando para o céu estrelado.
"Boa pergunta", pensou o ex-agente.
— Você consegue usar seu fogo como propulsão? — tentou o dobrador de terra.
Se ela conseguisse, poderia levar Yan nos ombros, e aí...
"E ai, o quê? Levaria Rohan nos ombros também? Ela mal conseguiu carregar o nômade a pé, imagina voando... não, essa é uma péssima ideia. O cansaço está prejudicando seu raciocínio, seu grande idiota"
— Não, não consigo.
A garota parecia contrariada de ter de admitir isso.
"Mas admitiu. Ela nunca teria feito isso antes. É uma boa evolução"
Kuzou estava feliz de ter conseguido deixar ela mais amigável. Ninguém sobrevive sozinho.
"Queria ter aprendido isso dez anos atrás...", lamentou-se ele.
— Você não consegue, sei lá, jogá-los lá pra cima? — perguntou a dobradora de fogo, tirando-o de suas lembranças.
— Não sem matá-los.
— Oh... então, é... esquece...
O ex-agente se permitiu um sorriso.
— Continue tentando — provocou ele.
— Ah, não sei. Tu não aprendeu nada de útil no Dai Li pra isso?
Durante o silêncio que se seguiu, ela percebeu o que tinha dito.
— Foi mal, eu não queria...
— Na verdade... — interrompeu Kuzou, perdido em pensamentos, sem perceber que a garota falava. — Mas geralmente são necessários dois dobradores de terra para funcionar, no mínimo.
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A Lenda da Abominação - Livro Um: Amizade
FanfictionFaz aproximadamente mais de 200 anos desde a Avatar Korra. Nesse tempo, avatares vieram e foram, e o mundo regrediu. O ciclo se refez, e o atual Avatar da tribo da água criou uma paz duradoura e se transformou em celebridade. Uma divindade. E então...