Capítulo 4: Procurados

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O céu estava salpicado de estrelas, e a lua jogava sua luz sobre a cidade, livre das nuvens que poderiam atrapalhá-la. A madrugada já se instalara nos arredores, e os moradores já estavam em suas camas.

Menos Ming. Ming arrastava um saco do que sobrara de suas mercadorias. Ficara horas recolhendo os restos que se espalharam pela cidade depois daquele tufão que passara pela rua. Pelo menos, ele achava que era um tufão. Parecia um. Mas podia jurar que ouvira o tufão dizer "bosta" quando acertara seu carrinho.

Ming devia ter ouvido seu pai. Devia ter escolhido outra profissão. Os negócios da família pareciam realmente amaldiçoados. Mas ele não acreditou, decidiu seguir o exemplo de determinação de seu avô, e de seu bisavô antes dele, e de seu tataravô antes dele. Mas agora era tarde demais para desistir de seus... preciosos.

O que ele podia fazer? Repolhos eram tão lindos. Tão redondos. Tão gos...

Ming ouviu um grande estrondo no final da rua. Sem pensar duas vezes, correu com seu saco de repolhos para um beco escuro próximo. Agachou-se contra a parede, escondido nas sombras, apertando seus preciosos contra o peito.

Um longo silêncio se seguiu, um silêncio horrível. Quando Ming finalmente conseguiu parar de tremer, ele ouviu passos. E, em seguida, vozes abafadas. Pareciam dois homens.

— ...reclame, não é você que vai ter que acordá-lo... — Foi a primeira coisa que conseguiu ouvir claramente. A voz que ouvia parecia ser fina, jovem, mas assustada.

— Eu reclamo da merda que eu quiser. E se não vou pessoalmente, é porque tenho coisas mais importantes para fazer do que ir acordar um maldito mercenário. — a segunda voz parecia bem mais autoritária, e estava claramente irritada. Os passos pararam de repente. — E não pense que gosto disso mais que você. Se Buma não tivesse ido junto com o Avatar para Ba Sing Se... Como se o Avatar precisasse de um guarda-costas! Devia ter ficado aqui, onde seria realmente útil...

Os passos voltaram a soar. Cada vez mais perto.

Logo, duas sombras apareceram andando paralelamente a esquina do beco. Ming congelou. Uma das sombras era razoavelmente maior e mais larga que a outra, que mal se via em contraste. Subitamente, a sombra menor parou, interrompendo o outro que começara a falar.

Um jato de água jogou Ming contra o chão. Desesperado, ele correu de encontro ao seu saco, e o abraçou.

— Por favor! Faça o que quiser comigo, mas não machuque meus repolhos! — choramingou ele, olhando para cima. À sua frente, em pé, encontrava-se a sombra menor, que agora se mostrava como um homem baixo e magrela, com um cabelo cortado muito rente, impossibilitando qualquer movimento. O seu rosto estampava uma expressão de nojo.

— Não é ninguém importante... — resmungou ele, e, da sua boca, saiu a voz autoritária, irritada. Ming o reconheceu. A sombra maior entrou no seu raio de visão, e então virou um jovem de porte médio, vestindo um uniforme indistinto.

Ambos se viraram e continuaram sua conversa como se nada tivesse acontecido. Ming esperou até não ouvir mais seus passos ou vozes, voltou para a rua e correu para o lado contrário em que eles tinham ido.

Fosse o que fosse o que tinha acontecido, não era para o bico dele. Não lhe interessava o que diabos o curador do museu e seu assistente estavam fazendo por aquelas bandas àquela hora da noite. Ele só queira ir para casa para cuidar dos seus repolhos.

No meio do caminho, no entanto, ele viu um cartaz iluminado por uma fraca lanterna de uma taverna, e de repente se interessou. Assustou-se com as acusações daquelas pessoas no papel. E, então, reconheceu um daqueles desenhos. Um daqueles criminosos.

A Lenda da Abominação - Livro Um: AmizadeOnde histórias criam vida. Descubra agora