Foram seis longos dias de viagem até a fronteira norte do deserto. Seis dias basicamente silenciosos, com poucas palavras proferidas e grande tensão no ar.
Kuzou sempre estava à frente, guiando o caminho e as ações do grupo. Yan vinha ao seu lado, distribuindo comida para os companheiros — depois de comer, óbvio. Rohan ficava atrás, distante o suficiente para garantir a tensão, mas perto o suficiente para ouvir as instruções dadas. Ember seguia ao seu lado, mas não conseguia arrancar uma palavra do gigante, deixando-a cada vez mais deprimida.
Apesar do clima, eles conseguiram chegar em seu destino sem problemas, evadindo novamente com sucesso os guardas da grande — e única — ponte que os separavam da parte sul do reino da terra. Não havia sinais de que estariam sendo perseguidos, então a caminhada foi relativamente calma e devagar. Os únicos problemas pareciam ser o sol e ter de mastigar a maldita carne seca, que por algum motivo eles decidiram comprar em maior quantidade no mercado clandestino dias atrás.
Como de costume, eles pararam para descansar logo antes do deserto, que já cobria todo o horizonte norte. Nenhuma nuvem flutuava nos céus, deixando a vista do norte completamente azul e amarela. Lindo, mas terrível ao mesmo tempo. Aquilo seria um problema sério.
"Nós vamos morrer", pensava Yan, a cada quinze minutos. Quilômetros e mais quilômetros fritando embaixo do sol, sem uma sombra sequer. O nômade já sofria por antecedência. E não era o único, julgando pelos rostos que o rodeavam.
— E agora? — soltou Ember, desesperada para quebrar o silêncio desagradável.
Kuzou demorou para responder à pergunta.
— Logo à frente, um pouco adentro no deserto, tem um posto de abastecimento dos dobradores de areia. Lá devemos conseguir um barco. Aí seguiremos para outro posto deles no meio do deserto para abastecer os mantimentos.
Então o silêncio retornou. Ninguém tinha mais o que dizer; descansaram o suficiente e voltaram a caminhar, no mesmo esquema de antes.
A areia torrava o pé deles e o sol, o resto. A pouca brisa que havia apenas trazia mais ar quente. Eles já viam o horizonte tremido por causa do calor. Porém, nem mesmo o calor quebrou a tensão; se fez algo, foi intensificá-la.
Por sorte, logo chegaram ao pequeno posto de abastecimento. Via-se uma quantidade razoável de casinhas de barro, que abrigavam desde bares até lojas artesanais. Vários barcos de areia estavam espalhados pelas "ruas" formadas pelos espaços entre as casas. Pessoas andavam pelas ruas cobertas de areia, todas vestindo a roupa padrão do deserto, a maioria com detalhes que os identificavam como dobradores de areia. O resto era composto de pessoas perdidas e turistas iludidos. Todos alvos fáceis.
— Eu não gosto do jeito que eles olham pra gente... — falou Yan, nervoso.
Os olhares os seguiam pela vilazinha. Eles não pareciam ser bem-vindos.
— Estamos sendo avaliados. Muito cuidado agora. Atenção aos bolsos e aos arredores — avisou Kuzou, fazendo sua própria avaliação das pessoas.
— E eles roubariam o quê? Nem nossas roupas prestam no momento — cutucou Rohan, falando pela primeira vez desde a Grande Divisão.
O ex-agente simplesmente ignorou o comentário.
Eles seguiram, quietos e atentos. No final da vila, encontraram o que deveria ser o equivalente a um porto para os barcos de areia.
— Ali. Lá poderemos alugar um barco — disse o dobrador de terra.
— Não temos dinheiro suficiente para alugar um barco. O que te faz pensar que eles iriam nos emprestar um? — cuspiu o gigante.
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A Lenda da Abominação - Livro Um: Amizade
FanfictionFaz aproximadamente mais de 200 anos desde a Avatar Korra. Nesse tempo, avatares vieram e foram, e o mundo regrediu. O ciclo se refez, e o atual Avatar da tribo da água criou uma paz duradoura e se transformou em celebridade. Uma divindade. E então...