Os dias passaram.
Nada na rotina mudou. As conversas dos guardas continuaram da mesma forma desatenta de antes, e nada pareciam saber sobre a visita do comandante. Reclamavam dele e dos piratas como se nada tivesse mudado porque, para eles, nada havia de fato.
Dentro da cela, entretanto, a atmosfera tinha se alterado. Estava pior que nunca. A cada dia indigno de nota que se passava, as emoções negativas se intensificavam. O sofrimento de antes da visita do agente parecia minúsculo em comparação.
Não havia muito o que Kuzou podia fazer para ajudá-los. Com um membro do Dai Li presente, ele não podia se dar ao luxo de cometer erros, ou permitir que os amigos o fizessem. Fazia o possível para acalmá-los, mas suas opções eram limitadas.
E assim, os dias, recheados de seu silêncio doloroso, se seguiram.
Até que o som da mudança enfim veio, em forma de gritos.
Kuzou abriu os olhos de imediato. Seus colegas continuaram a dormir.
A gritaria foi seguida pelo barulho de conflito. Os guardas não estavam em seus postos de costume. A chance desses fatos não terem relação alguma eram mínimas.
Resoluto que era o sinal, Kuzou finalmente agiu. Balançou os braços e os grilhões que o prendiam soltaram-se. Tinha desmontado aquela piada de algema no primeiro dia que voltara à consciência, mantendo-as nos pulsos para não levantar suspeitas.
O barulho das correntes acordou os amigos. Ignorando o susto que eles tomaram, ele atravessou a cela e começou a soltar Ember.
— Sem tempo para perguntas — interrompeu o ex-agente, antes que eles começassem. — Ember, assim que eu te soltar, derreta as correntes de Yan, eu lido com as algemas no pulso dele depois. Rohan, você consegue arrebentar as correntes sozinho.
Seguindo as instruções, logo todos estavam soltos. Kuzou se dirigiu para a porta e agarrou as grades. Como se fizesse isso todo dia, ele levantou a porta, forçando as juntas, expondo a conexão da fechadura com a parede.
— Rohan, dê um chute nisso, por favor — pediu ele. — Com vontade.
Apesar de confuso, o gigante fez o que lhe foi pedido. A porta abriu com tamanha força que quase saiu do seu eixo.
— Ember, Yan — chamou o ex-agente, alertando-os. — Dependemos de vocês.
Por sorte, eles entenderam rápido. Eles eram os únicos que podiam usar dobras naquela situação. Apesar de nervosos, ambos acenaram a cabeça, determinados.
Sem mais delongas, Kuzou seguiu em frente, com seus amigos logo atrás.
O convés deles estava deserto. A mesa onde seus captores antes jogavam conversa fora estava bagunçada, deixando claro que quem estivera ali saíra às pressas. Os sons abafados da confusão nos decks superiores ecoavam pelo espaço vazio, vibrando os utensílios espalhados pelo local.
Esses mesmos sons confirmaram as suspeitas de Kuzou: estavam abaixo do nível do mar. Teriam uma árdua subida pela frente.
Correram até a escadaria no final do corredor em uma formação desajeitada que o ex-agente não tinha tempo de arrumar. Conforme subiam os degraus, o som ia ficando mais alto, trazendo o caos para mais perto.
Com um gesto que não deixava dúvidas, Kuzou os mandou parar. Ele se escondeu no canto da saída de um dos corredores. Um segundo depois um homem entrou no lance de escadas.
Era um dos guardas da cela.
Ofegante, ele estacou ao ver os fugitivos. Antes que pudesse reagir, Kuzou, fora do seu campo de visão, o agarrou por trás, sufocando-o. Suas tentativas em tirar o braço de seu pescoço logo pararam, conforme ele perdia a consciência. Assim que sentiu o guarda apagar, o ex-agente o largou contra as escadas e, sem olhar duas vezes, voltou a subir os degraus. Com medo de ficarem para trás, os colegas os seguiram, desviando da pessoa inconsciente.
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A Lenda da Abominação - Livro Um: Amizade
FanficFaz aproximadamente mais de 200 anos desde a Avatar Korra. Nesse tempo, avatares vieram e foram, e o mundo regrediu. O ciclo se refez, e o atual Avatar da tribo da água criou uma paz duradoura e se transformou em celebridade. Uma divindade. E então...