Kuzou matutava sobre tudo que acabara de ouvir. Percebeu que pensar deitado enquanto admirava um céu estrelado era muito bom e relaxante. Já o gigante ao seu lado demonstrava anseio.
Era de fato um motivo razoável para o ranço que o amigo sentia por Norkka, mas, como esperado, aquilo não era surpresa alguma. Se Rohan esperava que a história dele causaria qualquer tipo de mudança por sua parte, ficaria desapontado. As ações se encaixavam bem com o perfil que conhecia do infeliz.
O ex-agente também reparou que houve alguns detalhes omitidos de propósito no decorrer da história, mas preferiu não interromper nem mencionar que percebera. Muito menos comentar que, ao final da história, notara exatamente o que o amigo tentava esconder. Ele tinha direito aos seus segredos, ainda mais algo tão pessoal e que não lhe dizia respeito.
— Então? — inquiriu o gigante, ansioso.
— Seu rancor é justificado — respondeu Kuzou."Principalmente pelo fato que você omitiu", pensou, solidário.
— Mas...? — disse o amigo, percebendo o "porém" que viria em seguida.
— Mas não estou surpreso. É o perfil dele.
— Então eu não entendo. Por que estamos seguindo o conselho dele? É obviamente uma armadilha!
— Porque o que Norkka pode nos oferecer vale o risco. Com toda a documentação falsa, poderemos desaparecer completamente do radar.
— Você confia demais nas habilidades dele. Duvido que aquele inútil seja tão eficiente assim.
— Com o estimulo certo, ele pode ser bem útil. Sou a prova viva disso.
Aquilo pareceu intrigar Rohan, que não esperava aquela reviravolta.
— Como assim? — perguntou o gigante, com honesta curiosidade.
— Sem o trabalho dele, talvez eu não estivesse aqui com vocês. Para não ser encontrado pelo Dai Li, todo cuidado é pouco.
— Espera... — Rohan parecia processar a informação. — Você... está sendo perseguido... pelo Dai Li?! Mas você disse que era do Dai Li... — A confusão era clara em seu rosto.
Kuzou ficou um pouco surpreso. Achava que a situação dele era óbvia, principalmente para alguém perspicaz como o amigo ao seu lado. Talvez o erro fosse seu; deixara muita coisa no ar. Tinha que lembrar que não era qualquer pessoa que era treinada como ele fora para analisar com afinco as "entrelinhas" da vida.
— Exato. Era — O ex-agente começou a explicar. — Eu deixei o Dai Li. Só que ninguém simplesmente deixa o Dai Li. É um serviço para a vida toda. São muitos segredos em perigo. Portanto...
— Oh.
— Pois é.
O gigante ficou desconfortável. Novamente sua ignorância perante o colega que os mantinham vivos o deixou envergonhado. Porém, ainda não conseguia acreditar que aquele lixo de ser humano poderia ser tão eficaz.
— Entendo — disse Rohan. — Mas acho que você está superestimando as habilidades daquele... cretino, e diminuindo as suas.
Kuzou deu uma curta risada daquele elogio velado.
— É, eu sou bom, modéstia à parte — brincou. Foi a vez do amigo de rir. — Mas não tenho superpoderes. Sou apenas uma pessoa. O Dai Li são muitos, e possuem habilidades inacreditáveis. Se você for o alvo do Dai Li, você vai ser encontrado. Aliás, devemos ser gratos à guerra civil de Ba Sing Se por distraí-los, do contrário, estaríamos enrascados.
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A Lenda da Abominação - Livro Um: Amizade
FanfictionFaz aproximadamente mais de 200 anos desde a Avatar Korra. Nesse tempo, avatares vieram e foram, e o mundo regrediu. O ciclo se refez, e o atual Avatar da tribo da água criou uma paz duradoura e se transformou em celebridade. Uma divindade. E então...