Estava com raiva.
Raiva de mim mesma por ser egoísta, ingênua e patética.
Tinha o queijo e a faca na mão e deixei que escapasse entre os dedos.
Parei para pensar nos meus erros e cheguei à conclusão de que talvez, se eu tentasse consertá-los, só iria piorar as coisas. Então conclui que o melhor era deixar tudo como estava. Por tomar essa decisão, senti o ódio crescendo dentro de mim, o sangue fervendo em minhas veias e a raiva tomando posse.
Uma raiva que não conseguia controlar.
Sempre tive a fama da garota “certinha”, por isso sempre achei que tudo que fizesse era o certo e ninguém nunca me contradisse até agora. Não sei se sinto raiva ou agradeço por alguém finalmente abrir os meus olhos mostrando-me a verdade que sempre mantive escondida atrás da névoa de mentiras e elogios.Agora me sinto uma farsa, uma pessoa totalmente superficial, alguém que esteve mentindo por tanto tempo. Enquanto julgava as pessoas por serem egocêntricas, eu estava agindo como elas por trás das cortinas escolhendo ignorar o que estava na minha frente o tempo todo, inflando meu ego com elogios supérfluos. Fez-me questionar quem sou de verdade, a Melissa que todos conhecem e amam? Ou a personagem que escolhi para mim?
E isso me deixou completamente irritada.
Irritada por não saber a resposta.
Olhei para o meu reflexo no espelho vendo a imagem de alguém que já não sabia se era real. Vendo meus olhos arderem como brasas, meus olhos… Meus… O que era isso?
Ou a raiva subiu pela cabeça a ponto de causar alucinações, ou estava inconsciente tendo os sonhos mais estranhos. Seja qual for a resposta, naquele mesmo momento, meus olhos ganharam um tom ardente de vermelho-sangue.
Com o susto, tentei afastar aquela imagem sacudindo a cabeça para ambos os lados, olhei novamente no espelho, meus olhos ainda estavam vermelhos. Eu estava ainda mais assustada e por isso, a raiva que sentia começou a sumir, meu sangue foi esfriando aos poucos. Cai de joelhos no chão ainda de frente para o espelho, agora de cabeça baixa.
Encarei o chão de madeira perguntando-me a que ponto cheguei para estar vendo coisas. Primeiro os gnomos, depois vozes na minha cabeça e agora isso? O que diabos tinha naquela ilha? Por que todas essas coisas estavam acontecendo?
Agora que estava pensativa decidi me render ao meu desespero, encarar a verdade e aceitar tudo de uma vez só. Não estava mais sentindo raiva, não estava nem sequer sentindo alguma coisa. Mas, me entreguei as lágrimas, não tinha mais volta, fiquei maluca. Talvez eu esteja internada num hospício, sendo medicada regularmente para que essas ilusões não me consumam, voltando a minha teoria de que tudo não passa de fantasias na minha cabeça e agora estou à mercê do meu próprio delírio.
Nice…
Meu rosto está completamente molhado, minhas coxas encharcadas, uma dor no peito me faz perder o desequilibro e me afogo na tristeza desejando sair desse sofrimento, dessa prisão que criei na minha mente. Ao encarar outra vez meu reflexo, minha respiração ofegante desaparece, não simplesmente se acalma, é que já não posso ouvi-la.
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A Filha da Lua e a Profecia | Livro 01 (REPOSTANDO)
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