Lembro-me de uma vez quando criança. Eu tinha conhecido uma menina, ela parecia ter a minha idade então fiquei muito feliz quando me chamou para brincar. Era a primeira criança que se interessava em ser minha amiga.
A menina era diferente de todas as crianças que tinha visto antes. Sua beleza era de um anjo, o cabelo longo e cacheado escuro como as sombras, os olhos amendoados e brilhantes, a pele morena esbelta. E seu sorriso era contagioso.
Lembro-me que ela era um pouco menor do que eu e mesmo assim parecia ser mais velha. A menina me chamou para brincar no cais. Disse que tinha algo muito interessante para me mostrar e como curiosa que sou, aceitei.
No bairro que morávamos tinha um rio gigantesco, onde alguns barcos mercantes navegavam para chegar a outra cidade. Sempre que podia, ficava na janela ou na loja dos meus pais olhando os barcos zarparem para longe até sumir de vista no horizonte, mas nunca podia sair e ir até o cais olhá-los de perto.
Quando aquela menina me fez o convite para ir até o cais, estava tão feliz que aceitei sem ao menos pensar duas vezes, esquecendo-me das regras de meus pais. Até menti para eles, dizendo que brincaria o dia todo no meu quarto.
Ao chegarmos lá, a menina sentou-se na beirada deixando os pés mergulhados na água, de repente, tirou do vestido um mini barco de papel e colocou sob a água, deixando-o livremente seguir seu curso e a brisa que soprava ajudou bastante.
— Eu gosto de barcos — declarou a menina, mas fiquei tão fascinada olhando aquele origami de papel flutuando na água, que nem percebi o que disse. — Acho que você também gosta!
A menina riu, sua risada fez com que eu olhasse para ela. Uma risada tão inocente, mas ao mesmo tempo tão envenenadora, era como se através do riso pudesse entorpecer os sentidos das pessoas à sua volta e comecei a me sentir uma marionete.
— Qual o seu nome? — consigo perguntar, tentando entender porque estava tão atraída por sua risada.
Ela me olha cessando o riso e sinto meu corpo mais leve. A menina ficou me encarando por alguns segundos e então sorriu.
— Eu digo se disser o seu.
Pensei bastante a respeito, meus pais me alertavam muito sobre estranhos, mas ela era uma criança igual a mim, não tinha mal algum nisso.
— Chamo-me, Melissa.
— Como mel! — ela sorri. — Eu gosto de mel.
Estranhei o motivo dela ter relacionando as três primeiras letras do meu nome a um alimento produzido por abelhas, mas ignorei.
— Mel me lembra, Nice — ela ri com uma gargalhada espalhafatosa, fazendo com que eu sinta meu corpo pesar novamente. — Nice, meu nome, Nice — ria.
Não conversamos muito depois disso, Nice dizia coisas que eu não entendia, era como se ela não soubesse falar direito, como se as palavras não fizessem sentido para si mesma.
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A Filha da Lua e a Profecia | Livro 01 (REPOSTANDO)
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