-Alice, tem certeza que pegou TUDO e colocou na sua mala?
-Mãe, eu já fiz essa mala três vezes. Tenho certeza absoluta.
Anna com certeza estava mais nervosa que eu. Papai já descia com a mala e a depositava no porta-malas. Chequei novamente minha bolsa de colo e verifiquei tudo: documentos, remédio, um pouco de dinheiro, meu celular, chiclete, um pacotinho de amendoim e meus fones novos. Não tinha feito muitas malas, apenas uma, grande. Como ficaria na minha avó, reduzi algumas peças de roupa, mas caprichei nos sobretudos e jaquetas já que estaria bem frio.
-Vocês não vão descer? Alice vai perder o horário do check-in. – olhei para mamãe que alisou seus cabelos com a mão, pegou sua bolsa e desceu comigo.
William tinha colocado músicas instrumentais de alguns clássicos brasileiros, talvez seria o método de acalmar a mim e a mamãe, ou a ele mesmo. Anna não parava de roer a unha e olhar pela janela. Meu coração disparava cada vez que chegávamos perto do aeroporto do Galeão. Eu pegaria um avião direto para Londres. Depois meus avós me buscaram de carro. Tudo já estava programado. Além disso, minha mãe conseguira comprar um chip Internacional para falar com eles.
- Não esquece de ligar pra mim assim que embarcar e quando estiver desembarcando. – mãe falou verificando o espelho do carro.
- Okay, eu vou ligar. – falei em um tom quase robótico que fez meu pai soltar uma gargalhada e mamãe o encarar feio.
Enquanto batucava minhas mãos no banco ao som de Garota de Ipanema, avistei o estacionamento do aeroporto. Agora sim, a minha aventura está só começando...
Fomos para o guichê para fazer o check-in e apresentar meu visto a embaixada. Reparei em cada rosto presente na fila: uns ansiosos, outros impacientes, alguns estavam despreocupados. Papai olhava no grande televisor os horários para cada voo. Eram 4 horas da madrugada.
Sentamos em algumas cadeiras perto do portão de embarque que ficaria. Papai tinha comprado uma lasanha para nós três. Rapidamente fui ao banheiro. Molhei meu rosto e apliquei um pouco de gloss em meus lábios, porém as olheiras eram gritantes. Comemos ali mesmo e pude cochilar um pouco no braço do meu pai. Somente despertei quando ouvi a chamada do meu voo.
-Filha, pelo amor de Deus, não esqueça de ligar pra nós. E muito cuidado com esses documentos. - mamãe limpava minha blusa que tinha sujado de carne.
-E fica alerta com a sua mala e com seus avós. - papai coçava a cabeça em sinal de preocupação.
-Eu vou ficar bem. Vem cá...- Puxei os dois para um abraço. Senti a respiração de mamãe mudar. Ela chorava. Limpei as lágrimas de seus olhos e beijei os dois. Peguei a mala e andei até a fila de embarque. Olhei para trás e dei um tchau.
A senhora do balcão verificou meu passaporte e passagem:
-Sua poltrona é a de número 12. Uma boa viagem.
-Obrigada. - sorri.
Entrei no avião e me acomodei na poltrona. Peguei tudo que precisaria: Um travesseiro, fone de ouvido, celular e chiclete. Antes do capitão começar a falar, abaixei minha cabeça e orei.
-Atenção, senhoras e senhores. Sou o capitão Eduardo e desejo a todos uma agradável viagem. - Ele falou a mesma coisa em inglês. - Nosso voo terá a duração de 11 horas e 25 minutos.
As aeromoças nos instruíam para o uso do material de emergência e como proceder se algo acontecesse. E não ia acontecer, por favor Jesus.
Um rapaz andou até a minha direção. Colocou sua bolsa no compartimento acima de nós e sentou na poltrona, passou a mão pelos cabelos e soltou um "ufa" enquanto fechava seus olhos. Reparei sem que ele percebesse e vi o quanto ele era lindo: Cabelos encaracolados e castanhos, a pele bronzeada, o nariz fino e a boca rosada. Quando abriu seus olhos, virei meu rosto rapidamente para a janela.
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Odisseia (EM PAUSA)
Mystery / Thriller" Não espere uma princesa, uma garota rica e maravilhosa ou a filha do presidente dos Estados Unidos. Se estiver esperando uma história com esse tipo de garota, existem outras por aí, sou somente uma garota normal que descobriu uma parte de sua vida...