22. Adria, parte I

55 5 5
                                    

Olho para meu pijama e minhas meias coloridas nos pés. Isso deveria ser alguma pegadinha comigo, apenas uma pegadinha.

- Você não está falando sério, está? - Papai me olha e acaricia minha testa.

- Foi você que quis aparecer na porta, filha. - Ele diz com um meio sorriso nos lábios.

- Mas... Mas... E a minha aula?

- Vai ter que ir virada. Vou parar em alguma cafeteria e comprar algo pra você. - Falou Jeremiah olhando para o retrovisor - E também em alguma loja de roupas.

Reviro os olhos e esfrego minhas têmporas na escuridão das ruas de Cambridge, Jeremiah começou a dirigir em alta velocidade entrando na estrada principal que ligava a cidade a outros condados da Inglaterra. Minha sorte era que tinha meu celular em mãos, assim não deixaria minha mãe e avó mais preocupadas do que já irão ficar quando sentirem nossa falta.

- Ah... Toma isso. - Jeremiah me entrega um fone de ouvido - Para ficar mais calminha.

Pego o fone com um pouco de raiva e vejo Sykes soltar uma risada fraca.

- Quando vão começar a contar o que estão escondendo?

- Assim que entrarmos na estrada para Manchester. Enquanto isso descanse um pouco. Temos bastante chão pela frente. - Fala Jeremiah.

Assinto e coloco meus fones no ouvido, observando o vidro da janela ficar molhado pela fina neve que caía.

"Alice? Levanta, chegamos no café"

Abro meus olhos sentindo minhas pálpebras pesadas e vejo papai com a porta aberta em um estacionamento escuro.

-Jeremiah vai pagar um café expresso do jeito que você gosta...

-Eu vou pagar? - Fala Jeremiah enquanto tentava sair do carro sem cambalear de sono - Os milionários aqui são vocês, apenas sou o guarda costas.

Eram 2h da manhã quando sentamos em uma cafeteria 24 horas que fedia a desinfetante de hospital. Uma senhora volumosa com os cabelos grisalhos se aproximou da nossa mesa para pegar nossos pedidos.

Seu olhar tedioso nos capturava de tal forma que senti uma ligeira culpa de estar tomando um café inocente em um buraco à beira da estrada.

-Dois expressos grandes e um americano médio para viagem, por favor.- meu pai entregou o pedaço de papel que chamavam de cardápio para a senhora que não abriu a boca nem para dar um okay.

Jeremiah puxou uma pasta transparente que estava no seu colo para a mesa e abriu-a para nós.

-Agora a senhorita vai entender porque tivemos que pegar a chave do seu apartamento... - Ele pega um documento e entrega em minhas mãos. -Acho que sabe o que é isso, certo?

Verifico todas as palavras e percebo o quão rápido o tempo passou, mais especificamente o dia da morte de vovô.

-É o testamento.

-Sim, é o testamento... - Ele aponta para o último parágrafo da folha - Essa foi a herança que John deixou pra você, certo?

- Sim.

- Então andei pensando... Seu avô era um homem muito inteligente, a prova disso foi a bailarina que você recebeu com meu número. Mas será que Manchester também é mais uma das pistas que seu avô deixou pra você? Por isso convenci seu pai a irmos somente nós dois para o apartamento... Era só nós dois até você se intrometer.

- Eu? Me intrometer? Como posso me intrometer naquilo que é meu por direito? - Falo um pouco mais alto e levo um olhar repreensivo de papai.

- E como pode uma filha esconder do pai que estava investigando um assassinato a conta própria? - Falou papai irritado - Sabe como eu tomei conhecimento de Jeremiah? Porque Thomas estava cansado de esconder isso de mim, pelo fato de eu sempre perguntar sua rotina... Mas agora que vocês estão caminhando a mais uma descoberta, eu vou acompanhar tudo de perto. Não irá esconder nada de mim, entendeu Alice?

Odisseia (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora