4. The Starting Line

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Dois meses se passaram. Estamos no final de setembro, o mês da primavera. O mês das brisas tranquilas e do perfume exalando das flores por todas as ruas. Mas não para o Rio de Janeiro, é claro. Estava fazendo 38 graus naquela manhã e nada de brisas tranquilas, apenas o calor costumeiro e absurdo.

Acordei cedo, porém implorando para ficar mais na cama. Era mais uma segunda-feira. Mas não apenas uma segunda-feira, hoje seria o resultado final do concurso. Nesses meses me dediquei ao máximo para deixar a história como eu queria. Confesso que foi nada fácil. Tive muita ajuda das meninas e do Professor Victor, que me mandava alguns materiais que seriam bons para a construção do enredo da história. Minha mãe acabou falando para meu pai sobre o concurso, e é claro que ele brigou comigo, mas consegui desbancar seus argumentos, até que aos poucos eles se acostumaram com a ideia e queriam ler a história. Não só eles, toda a família estava animada com o concurso e meus avós queriam mais que nunca que eu ganhasse para ficar pertinho deles.

-Alice... Posso entrar? - mamãe bateu na porta.

-Sim, mãe.

-Queria te desejar boa sorte, antes de você ir pra universidade. - ela me abraçou apertado – Sei o quanto você quer isso, mas que seja feita a vontade de Deus.

-Amém. - eu me virei para o espelho do quarto e mamãe me abraçou por trás. Ela reparava em meu rosto.

-Sabia que você é muito parecida comigo quando mais nova? É impressionante. - eu soltei um riso e acariciei suas mãos que estavam em meus ombros, e então reparei em mim mesma: Cabelos castanhos claros, pele clara, nariz pequeno, sobrancelhas cheias e bem negras e meus olhos castanhos-esverdeados.

-Você é linda, Alice. Não se deixe abater por pequenas coisas. - eu me virei para mamãe e a abracei por alguns minutos. Aquela sensação de segurança invadiu meu corpo e me senti mais preparada para encarar o dia.

-Preciso ir. - ela apenas sorriu e concordou com a cabeça. Dei um beijo em sua testa, peguei minha mochila e desci até a garagem.

O resultado seria celebrado no auditório da UFRJ. Os professores e organizadores estavam já arrumando todos os preparativos. Era somente isso que os alunos comentavam semana passada. Gabriela tinha vindo toda produzida e esperançosa para me encontrar, Juliana também estava, ela nos ajudou muito durante esses meses lendo nossos textos e suportando nossas crises.

A maioria dos alunos estavam ao redor do auditório esperando que a porta fosse aberta.

-Ai meninas, eu estou quase desmaiando de tanta ansiedade. - Gabi falava histericamente. Bom, digamos que ela fica histérica quando nervosa, muito histérica...

-Vai dar show aqui não. Qualquer coisa eu te apago com um soco. - Juliana também estava nervosa, mas não queria transparecer isso. Por bem de todas nós. - Lice, você parece tão tranquila... - Ju comenta enquanto brinca com o cabelo de Gabi.

-É porque você não é meu estômago. - Todas riram. Sentei no meio delas tentei puxar algum assunto, para tirar aquele nervosismo no ar. Eu estaria mentindo se dissesse que não estava ansiosa, eu não parava de pensar como seria finalmente conhecer a Inglaterra. Porém, uma parte de mim já esperava o resultado negativo. Eu sabia que existia alunos muito mais evoluídos do que eu e mais preparados, não tinha como negar. Apenas fechei meus olhos, tentando normalizar meu coração, como de costume.

-Merda, o portão abriu! - Gabi levantou rapidamente, seguida por mim e Ju. Olhamos uma para a outra e respiramos fundo. Esperamos que a manada desesperada fosse na frente e entramos. O auditório estava quase lotado de alunos, que chegavam por todos os lados. Por sorte, conseguimos encontrar três cadeiras na sétima fileira.

Odisseia (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora