11. Free Falling

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Era uma tarde cinzenta como todas as outras em Cambridge. Os carros estacionavam na rua próxima a nós. Os músicos se preparavam junto com o coral e flores brancas decoravam toda a igreja. Mais pessoas entravam e sentavam nas inúmeras cadeiras. Pessoas de todas as partes da Inglaterra. Vizinhos, funcionários, colegas, alguns amigos e irmãos da igreja Batista (no qual meus avós eram membros há muito tempo).

Senhora Ava estava com um vestido preto e um casaquinho cinza. Natalie de vestido preto de renda acompanhada de Dylan, Harry e David. Eu fiquei nas primeiras fileiras junto com minha família. Tinha acabado de receber uma ligação de Tia Suzana. "Fique firme e não pire." Ela disse.

Meu avô estava em um caixão de madeira caramelo com detalhes dourados. Sua expressão serena era coberta de um fino véu branco rendado. O pastor nos cumprimentou, pegou sua bíblia e subiu para o púlpito. Ele iniciou uma oração e depois começou a falar:

- A paz do Senhor, um bom dia a todos. Espero que estejam todos acomodados... Neste dia queremos homenagear a memória do nosso amado irmão John. Um homem fiel, respeitador e que amava sua igreja e família. Sabemos que a dor de todos nós é grande, como se uma parte de nós fosse embora, mas devemos celebrar, pois ele está na Glória junto ao Pai e os anjos... E deixo uma palavra para todos: "Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé." 2 Timóteo 4:7. Que venhamos sempre lembrar, mesmo em dificuldade, que Deus nos ensina uma lição. Tudo há um propósito, até o luto. Talvez pessoas entraram aqui magoadas, perdidas. Pessoas que guardam rancor por alguém. Eu digo, como anunciador das boas novas do Senhor: Perdoe. Ame. Viva. Faça com que cada momento venha valer a pena. A vida é curta demais para ser desperdiçada com coisas que só nos atrapalham. O nosso irmão viveu uma vida boa. Conquistou sonhos, realizou projetos e venceu. Mas o bem mais valioso que Jesus o deu foi a sua salvação e família. Lembrem-se sempre disso. Vamos louvar ao Senhor.

O pianista começou a tocar os primeiros acordes de Awesome God do Michael W. Smith, o louvor favorito de vovô, segundo minha avó. (Aperte o play)

"Our God is an awesome God

He reings from heaven above

With wisdom, power and love

Our God is an awesome God"

Não conseguimos conter as lágrimas, todos cantavam em um único som que ecoava no templo. Senti uma paz tão grande que meus pulmões começaram a inspirar com maior facilidade, sentia que cada parte de mim estava sendo preenchida e a dor começando a diminuir. Todos aplaudiram e ouvia alguns Aleluias. O presbítero que estava ali fez uma oração.

O pastor levou meu pai até o púlpito, ele enxugava suas lágrimas com uma toalha de seda.

- Bom... John era o tipo de homem em que todos queriam ficar perto. Ele tinha esse dom. Era um homem que você olhava e falava: "Uau, eu ainda quero ser como esse cara!". Às vezes eu era teimoso com John, mas ele tirava uma paciência quase "santa" para me corrigir e dialogar. Isso eu estou tentando aprender. – ele deu uma risada baixa. - Ele me ensinou ser o homem que sou e me ensinou a amar. Papai me dizia quando era criança: "Filho, não importa onde você está ou quem seja você, ame e respeite quem está a sua volta. Pode parecer complicado quando você crescer, mas a recompensa é eficaz. Você vive melhor...". Eu amo meu pai e quero seguir o legado que ele deixou como pai, marido e pessoa. Minha família agradece muito a cada um de vocês por estarem aqui e somos gratos por cada mensagem de carinho de todos. Sei que não está sendo fácil pra nós, mas estamos seguros que Deus cuida de nós. Obrigado... – todos aplaudiram papai. Amelia abraçava mamãe. Vovó não conseguiria falar, pois ainda estava muito abalada. Foi a vez de Anna falar.

- Queria primeiro agradecer a cada um que está conosco nesse dia. E agradecer a Deus por fazer parte dessa família e de ser nora de John Bell... A primeira vez que eu o conheci foi no Brasil, eu estava em uma festa onde eu tinha acabado de conhecer William, meu marido. Ele apenas olhou para mim e disse: "Meu bem, eu acho que vamos ser parentes" e... Bom, estou aqui. – ela sorriu e nós também. – Sou muito feliz de ter feito parte desses anos, mesmo que às vezes distantes, mas sentíamos o amor dele e a preocupação conosco a cada momento. Sou grata a Deus pela minha filha ter os avós que tem e por aprender com eles. John foi o pai que eu não tive. – ela inspirou – Muito obrigada. – mais aplausos.

Odisseia (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora