14. Runaway

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- Segurança? É sério?

- Sim, um segurança. E amanhã mesmo vou procurar um. Fechado? – papai coçou a nuca e passou suas mãos em seus finos cabelos. Olhou para mim e olhou novamente para mamãe soltando o ar.

-Quero o melhor segurança da Europa. – ele falou firme. Mamãe deu um pulinho de alegria e o beijou passando suas mãos em sua nuca. Logo a cara séria de papai ficou mais suave.

Mamãe me encarou sorrindo e voltou para sua panela de carne cheirosa.

- Vou ver como a vovó está... – papai juntou as mãos e assentiu. Virei-me para o corredor em direção a segunda porta.

A porta estava entreaberta e uma fraca luz emana do quarto. Empurrei a porta com meus dedos encontrando Amelia semi sentada em sua cama com suas costas em sua cabeceira. Seus olhos estavam fechados e suas mãos entrelaçadas como se estivesse orando. Tive medo de chegar mais perto e estragar aquele momento tão tranquilo, mas vovó percebeu minha presença.

Ela abriu um dos seus olhos e piscou duas vezes, deu uma batidinha na cama para que eu ficasse ao seu lado. Tirei meu chinelo subindo na cama e deitando ao seu lado. Com meus braços envolvi seu corpo já fraco da idade e descansei minha cabeça em seu peito.

Senti suas mãos acariciando minhas costas e meus cabelos. Deixei meus olhos fecharem por um instante apreciando aquele momento. Seu cheiro gostoso de lavanda suave subia em minhas narinas.

- Você devia prestar prova para a Universidade de Cambridge. – falou Amelia em um tom de sussurro me dando um susto.

- Acho que não tenho cabeça pra pensar nisso, vovó. – falei no mesmo tom. Eu sabia que aquilo era meu sonho, mas como eu iria me concentrar em uma universidade enquanto o assassino de John está livre?

- Você deveria considerar. O processo seletivo irá abrir em fevereiro.

- Como a senhora ficou sabendo? – sentia suas mãos passearem em minhas costas.

- Ouvi uma das secretárias do escritório do Sr. Hamilton comentar com outra funcionária enquanto fui ao banheiro. Ela disse que a filha vai tentar pela primeira vez esse ano.

- Talvez, vovó. Talvez... – inspirei um pouco o cheiro de sua camisa e relaxei. Depois de dois minutos de silêncio, o dedo de Amelia me cutucou.

-Quando vai conhecer sua nova casa? – sua voz dava resquícios de animação.

- Em breve, se Deus quiser. – Eu ainda nem tinha procurado a rua no Google Maps. Não fazia ideia de como era a minha casa... – Isso é tão estranho pra mim.

- O que, meu amor?

- Ganhar uma casa aos 18 anos. – Falei sorrindo. Vovó suspirou.

- Na sua idade eu já estava me preparando para ser a esposa de um dos grandes empresários da nova geração britânica.

- Okay, a senhora venceu. – sorrimos e vovó beijou o topo da minha cabeça.

"JANTAAAAAAAAAAAAAAAAAAR"

Vovó levantou da cama lentamente, podendo ouvir alguns estalos de seus ossos.

- Eu estou com muita fome. – ela falou massageando sua barriga e concordei. Desligou seu abajur deixando a escuridão tomar conta do quarto. Saltei da cama caçando meus chinelos e fechando a porta.

Anna já despejava a carne nos pratos enquanto William arrumava a mesa e tirava o arranjo de flores de cima. Ele separava os talheres e as torradas em pratinhos. Vovó deu um beijo em sua cabeça recebendo um dos lindos sorrisos de papai.

Odisseia (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora