9. Clocks Go Forward

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- Senhorita Bell, sua avó já acordou.

-Muito obrigada. – a enfermeira sorriu, mas seus olhos demonstravam pena.

Abri a porta devagar encontrando minha avó olhando para o teto, as mãos um pouco trêmulas por conta do medicamento. Peguei a cadeira que estava no canto do quarto e trouxe para perto da maca. Segurei suas mãos e as acariciei. Ela se virou para mim. Apenas um olhar. Com aqueles lindos olhos azuis, que não brilhavam mais, ela conseguiu transpassar toda dor que estava dentro dela. Segurei-me para não derramar uma lágrima, eu precisava ser forte ou pelo menos aparentar ser.

Amelia entrou em um estado de choque assim que viu meu avô morto no chão, desmaiando em seguida. Eu tive que ligar para uma ambulância, com um morto em meus braços e uma idosa caída no chão. Falando assim parece até engraçado, porém não foi. A força que tive naquele momento não veio de mim. Somente Deus poderia me dar àquela força e me ajudou a não ter um desmaio também.

Os vizinhos começaram a aglomerar no portão da minha casa, o barulho do tiro foi ouvido por todos. A ambulância chegou logo em seguida acompanhada por duas viaturas da polícia. Enquanto entrava na ambulância com vovó lembrava apenas do rosto da senhora Ava olhando pra mim, perplexa e confusa.

Então somente fiquei ali, quieta e fazendo carinho na mão de vovó. Nós duas sabíamos que nenhuma palavra poderia quantificar o que foi aquela noite.

-Com licença. Senhorita Bell, o detetive Bryan está te esperando. – era a enfermeira.

-Agora? Com a minha avó nesse estado? – eu a encarei. Ela ficou imóvel.

-É muito importante que você vá, eu vou ficar aqui com ela. Não se preocupe. – o que eu poderia fazer? Não tinha outra escolha...

Levantei-me e dei um beijo suave na testa de Amelia. Ela segurou minha mão e sussurrou no meu ouvido: "Vai ficar tudo bem".

Vai ficar tudo bem.

Vai ficar tudo bem?


- Senhorita Bell, sou o detetive Bryan. – ele estendeu a mão e a segurei. – Sinto muito pela sua perda. Sei que esse momento foi muito traumático pra você e que está debilitada, mas preciso saber, detalhadamente, o que aconteceu com o senhor Bell e...

-Com licença... – uma mulher alta e loira entrou na sala de depoimento da polícia. – Desculpe Alice, o detetive Bryan não tem muito jeito com esses casos. – Ele retorceu o nariz.

-O que está fazendo aqui, Banks? – ele falou pelos dentes.

-Meu trabalho. O caso está comigo. – ela puxou uma nota da bolsa e entregou para Bryan – Você pode trazer dois cafés bem fortes pra mim e para Alice? A noite vai ser longa.

-Okay. –Bryan pegou a nota rudemente e saiu resmungando pela porta. Ela olhou a porta certificando que ele tinha ido.

-Enfim, a sós. Alice, se sente confortável aqui ou prefere outro lugar para conversarmos? – seus olhos eram bem grandes e arredondados, como os de uma coruja. Ela passava confiança.

-Estou bem aqui. Vamos começar o interrogatório?

-Vamos começar assim que o café chegar. Sabe como é... O cérebro funciona melhor. – ela sorriu pra mim na tentativa de me relaxar, mas tudo o que pude demostrar foi um sorriso amarelo.

Banks tirou um gravador de fitas (qual o tipo de pessoa em 2014 que usa gravador de fitas?) da bolsa e um caderninho de anotações. Virou uma página e rabiscou com a caneta.

-Ah, eu nem me apresentei. Meu nome é Rosie Banks, sou detetive do departamento de investigação criminal de Londres.

-Alice Bell, mas acho que já sabe... – suspirei um pouco e me ajeitei na cadeira- Por que de Londres?

Odisseia (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora