Já era tarde de mais, com toda a certeza eu não tinha como sair do carro sem dar uma explicação para aquele homem. As lagrimas saiam molhando sua blusa, seu braço em torno de meu corpo me passava segurança e confiança, eu poderia apenas inventar uma mentira qualquer, mas, não agüento mais esse tormento.
Puxei o ar nervosa, tentando acalmar meu psicológico e controlar as tremedeiras em meus lábios para poder formular palavras sem gaguejar. O abraço acolhedor acariciava minhas costas, me ajudando a relaxar com paciência.
- Está se sentindo melhor? – beijou sobre meus cabelos, permitindo que eu me afastasse um pouco para limpar as lagrimas.
- S-sim – parei de esfregar meus olhos e me ajeitei em meu banco.
- Você quer conversar?
Sim, eu quero.
As lembranças de um passado avassalador assombravam minha mente, me impedindo de ter noites tranqüilas. Por mais que eu tentasse, por mais que eu rezasse, por mais que eu chorasse, tudo parecia em vão durante a noite, quando eu apagava as luzes e ia me deitar. Um pesadelo mútuo, daqueles repentinos em que, num segundo você está bem e no outro acorda desesperada, prestes a ter um ataque cardíaco.
Suspirei.
Eu queria falar com ele sobre aquilo, queria desabafar mais, as palavras simplesmente não saiam. Estavam todas lá, na ponta da língua, desesperadas para se libertarem mais, elas simplesmente não saiam.
- Se não quiser falar, tudo bem...
- Não – o cortei, assustando a mim mesmo pela forma como o interrompi. – Desculpe, eu não queria ser grossa – ele iria acrescentar algo, no entanto, ergui o dedo para que ficasse em silencio. – Muita coisa aconteceu, eu, eu estou tentando encontra o ponto de partida para lhe falar.
Sua expressão suavizou, ficando relaxado em seu banco no qual estava sentado de lado, olhando para mim.
- Você não quer conversar em outro lugar? Um local mais apropriado que o interior de um carro?
- Não. Se eu sair daqui não terei coragem novamente para prosseguir – me virei, ficando de lado igual a ele, encarando sua figura máscula.
Olhei em seus olhos, para em seguida vasculhar cada traço de sua face até morrer em seus lábios tensionados. Fechei os olhos, anelei e tomei coragem, eu tinha que por muita coisa para fora. Eu precisava me livrar de tudo aquilo, precisava deixar claro por que eu e ele não poderíamos dar certos mesmo eu querendo o contrario.
- Meu pai – a palavra saiu amarga assim como minhas lembranças -, um homem de personalidade forte, agressiva e estúpida, era um monstro – de repente suas sobrancelhas se juntaram, os olhos negros ficaram vagos, quase como se estivesse, de algum modo, prevendo minha infância antes que eu terminasse de contar. – Minha mãe, uma mulher forte ao mesmo tempo em que fraca, ela amava aquele homem de uma forma que eu nunca irei compreender.
Precisei parar por um breve segundo, tencionando os lábios com força, respirando com pesar e tentando não chorar diante do ardor em meus olhos.
- Ele a agredia – nesse momento, as lagrimas desceram e minha voz já não estava firme como anteriormente, ela vibrava e minha garganta doía, eu estava forçando aquelas palavras a saírem a todo custo.
- Sakura...
- Não me interrompa! – o repreendi chorosa. Se eu parasse, nunca mais falaria novamente sobre aquilo. – Ele bebia todas as noites e, sempre que voltava humilhava minha mãe. A comida nunca prestava, era sempre uma porcaria posta à mesa. A casa nunca estava limpa, avagabundinha não ajudava em nada na casa. Eu odiava aquele homem, você não imagina o quanto, Madara. Às vezes, quando bater em minha mãe não lhe era suficiente, ele também me agredia.
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Aquele que me possui
FanfictionComo permitiu que aquele ser a tratasse daquele modo? Não sabia. Viu sua mãe ser tratada daquele jeito a infância toda e, sentiu na pele o pior "quase" lhe acontecer. Era estranho as sensações que ele causava em si, era novo, era diferente. Quando s...