"Voltando, achou-os dormindo; e disse a Pedro: Simão, dormes? Não pudeste vigiar uma hora?"
(Marcos 14.37)
São Paulo, 13 de outubro de 2012,
Eram várias pessoas pelos cantos da Avenida o que doía na alma de Teresa. A chuva havia parado, mas as calçadas ainda estavam úmidas, mesmo que a jovem tivesse usado guarda-chuva metade da sua calça estava molhada.
Teresa se lembrava apenas de uma vez que havia ido evangelizar naquela Avenida, havia sido levantada obreira ainda muito cedo e apenas maiores de idade podiam ir à lugares como aquele, da vez que fora foi apenas por acaso, depois de tudo havia recebido uma bela bronca do pastor, mas nada daquilo a abalou. Havia sido ali que tinha conhecido Rafael.
Lembrava claramente da situação do rapaz, e lembrando daqueles momentos não poderia nunca imaginar que aquele mesmo garoto, sem família, sem esperanças e sem vida, viesse a ser um grande homem de Deus.
Teresa sentiu uma certa felicidade, Deus só precisava de alguém disposto para ser usado por Ele. O resto podia deixar que estava em suas mãos. A jovem sentiu uma necessidade de sair de lá não apenas com um jovem, mas se possível bem mais. Ela queria ajudar todos eles, e quando um não queria e apenas a ignorava Teresa partia para o próximo sem hesitar.
Enquanto falava de Jesus para todas aquelas pessoas o tempo parecia correr mais depressa possível, quando já estava na hora de ir embora e só esperavam o obreiro Mateus terminar de atender um jovem, Teresa avistou algo do outro lado da Avenida que chamou sua atenção.
A jovem se levantou do banco que estava sentada e fez a menção de atravessar a rua, mas Nathan a parou:
-Ei? Aonde você vai?
-Só dois minutinhos, depois eu volto. -Ela respondeu sem olhar para ele. A garota começou a andar até o outro lado. A cada passo a certeza era maior em seu peito.
Quando chegou perto do rapaz o bastante para ser ouvida, ela sussurrou: -Patrick?
O rapaz se virou para ela assustado. Estava com a metade do rosto coberto pelo capuz da blusa e havia um roxo enorme em seu rosto do lado esquerdo, sua barba loura havia crescido e seu cabelo também. Um cheiro de suor e cigarro vinha dele, em seus dedos haviam vários cortes e suas roupas totalmente sujas e rasgadas, Teresa olhou novamente para o rosto do rapaz, não restava dúvidas, era Patrick.
-Teresa? -Patrick a olhou assustado. -Oi, o que você está fazendo aqui?
-Patrick! Eu estava no evangelizando com alguns obreiros, e... -Ela o olhou de cima a baixo. -O que aconteceu com você?
Patrick reprimiu uma risada sarcástica.
-O que acha que aconteceu comigo, Bela Adormecida? Fui tirado de pastor, não me restou mais nada. Não tenho escolaridade suficiente para arranjar um emprego, e vim parar aqui.
-Mas e os seus pais?
-Eles não sabem. -Patrick falou derrotado.
-Por que você não contou para eles, Patrick? -Teresa buscava o olhar do rapaz, mas ele apenas olhava para as pontas dos dedos que estavam enegrecidas por conta dos cigarros acendidos.
-Eu? -Ele bufou. -Desde pequeno Teresa eles me veem como um príncipe. Ambos são obreiros, não podem sequer pensar que o filho que eles tanto cuidaram para se tornar pastor agora é um viciado em drogas!
Um silêncio recaiu sobre os dois.
-Patrick, você se tornou pastor por Deus ou por eles?
-Quer a sinceridade? -Ele a encarou e hesitantemente Teresa concordou, tinha medo do que estava prestes a descobrir. -Foi por mim.
-Por você? Como assim?
-Na escolinha eu era a criança mais paparicada pelos obreiros e pelos pastores. Quando me tornei adolescente, logo virei líder de uma tribo no grupo dos adolescentes, e todos me olhavam como um exemplo. Me perguntaram se eu tinha vontade de ser pastor e vi superficialmente como a vida deles era fácil. Não trabalhavam, não precisavam de estudo, apenas tinham que cuidar da igreja.
"Logo me tornei obreiro e líder do grupo dos jovens, sei o que você deve estar se perguntando como? É muito fácil fingir ser de Deus! E não me olhe assim, você também sabe que é fácil! -Teresa fechou os punhos e continuou escutando Patrick. -E aí eu me tornei pastor... foi aí que toda a minha vida desgraçou. Não era só uma pessoa de olho em mim, para onde eu olhasse eram vinte dedos apontados para mim, e o pior eu não sabia como ajudar aos necessitados que vinha até mim, porque eu mesmo não me ajudava.
-E aí, a sua ficha caiu...
-Não me arrependo de tê-la traído com a Jennifer. Se é o que você está pensando.
-Não estou aqui para que você peça perdão para mim... -Teresa tirou o cabelo que caia no rosto por causa do vento. -Estou aqui para te ajudar a voltar para a igreja, e de verdade ser de Deus.
-E quem disse que eu quero voltar para a igreja? -As palavras de Patrick soaram como tiros no peito de Teresa. -Você não me escutou? Eu não me arrependo de nada! -Ele gritou.
-Então vai me dizer que quer continuar assim? -Ela arrancou o cigarro do bolso dele. -Dependendo disso ao invés de procurar ajuda?
-Sim! -Ele agarrou o cigarro de volta e começou a andar para o meio da rua. A chuva começava a cair deixando as pistas molhadas. -Eu aceito qualquer coisa, menos voltar para a igreja!
Teresa sentiu as gotas da chuva descerem pelo seu rosto.
-Mas Jesus é a sua única saída! -Ela correu até o meio fio e gritou.
Patrick parou no meio da rua e soltou uma risada sarcástica.
-Jesus? Por favor, Teresa! Cadê a Bela Adormecida que namorei alguns meses atrás?
Antes que Teresa pudesse responder uma moto em alta velocidade entrou em seu campo de visão vindo em direção à Patrick.
Teresa abriu a boca para gritar, mas nenhum som saiu. Sem pensar muito bem no que estava fazendo suas pernas correram até o rapaz.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Feita de Sentimentos
SpiritualLivro I - Feitos por Deus Teresa é uma garota que depois da morte de seu irmão, ao invés de se aproximar de Deus usando a sua fé e praticando o que aprendeu ao longo dos anos na igreja, ela começa a basear todas as suas escolhas em suas emoções, tor...