Watch my eyes are filled with fear, hold me in your arms again

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Não havia ressentimento, ou lembranças, ou rancor. Não havia palavras rudes ou esclarecimentos. Era puro e singelo – como o amor entre eles. Era o ressurgimento de algo mais forte e inexplicável, algo que superava qualquer tipo de adversidade. Haveria tempo mais tarde para que toda cólera fosse posta em pratos limpos, mas, naquele momento, apenas não se importavam com isso.

Se encaixavam tão perfeitamente quanto era para ser. Moldados um para o outro, completando-se como duas peças lapidadas. Os braços de Harry circundavam todo o corpo de Louis confortavelmente, o afundando-o contra seu peito, da mesma maneira que as mãos do menor se entrelaçavam sublimemente nas costas do maior. Louis apoiava sua cabeça no próximo a clavícula, e conseguia ouvir as batidas irregulares que o coração de Harry emitia. Este atrelava seu queixo contra a curva do ombro de Louis, afundando seu nariz e inspirando ruidosamente, embebedando-se no cheiro doce e calmante. Se fossem feitos sob medida, não se encaixaram de maneira tão harmoniosa quanto.

Mais que fisicamente, suas essências se reconheceram. Se conectaram através do toque, moldadas e amalgamadas, reconhecendo o sentimento, a necessidade desesperadora de sentir-se. Se apertavam um no braço do outro, tentando se fundir, substituir dois anos de saudade e míngua, de urgência pungente.

Minutos se passaram, e nenhum deles se moveu, temendo despertar de um sonho. Respiravam com dificuldade, molhando as vestes de ambos com lágrimas, grossas e quentes, derramadas sem vergonha. Lavando qualquer tipo de sentimento ruim. Harry distribuía beijos molhados e sem jeito pela extensão do pescoço, chegando a mandíbula e voltando. Louis, sem conseguir segurar-se, soltava palavras desconexas e soluços trêmulos, apertando-se contra a cintura de Harry quase dolorosamente. O perfume mesclou em sua pele, e, finalmente, sentiram que estavam em casa.

Louis foi o primeiro a se afastar, e, mesmo enxergando pouco através do choro, escaneou cada parte, por menor que fosse, do rosto de Harry, memorizando os traços, recordando-os. Suas maçãs pareciam mais salientes, e o rosto estava ligeiramente puxado, como se pouco alimentado. Haviam bolsões arroxeados embaixo dos olhos, mas estes continuavam com o brilho familiar e contagiante que Louis se lembrava e amava. Os lábios ressecados repuxaram em um sorriso verdadeiramente alegre.

Por todo aquele período que se passara, Louis rezara muito para Deus – a cada nova noite e manhã, durante o dia, quanto sentia o coração apertar. Ele suplicava para que, acima de tudo, quando encontrasse Harry de novo, que Deus livrasse seu coração de todo o ódio que poderia ser cultivado. Pedia a capacidade de perdoar, de recomeçar, o dom de reconhecer o amor e deixar-se banhar por aquele sentimento. Naquele momento, fitando o rosto do homem que amava, pôde perceber que Ele havia atendido seu pedido.

– Lo-louis... – Harry soluçou ao tentar falar, tamanha sua emoção. Ter o garoto novamente em seus braços eram bem mais do que pedira, do que, de fato, merecia. Todas as noites em claro, clamando por uma misericórdia divina, para que pudesse, ao menos, ver o garoto uma última vez, e agora estava sendo presentado, podendo senti-lo, abraçá-lo. Naquele momento, Harry era grato. – E-eu, me perdoa, eu te-te amo, me perdoa, meu amor, me-me perdoa, eu te amo, por favor, eu te amo, eu só queria o-olhar seu rosto uma última vez, e-eu tive tanto medo, tan-tanto medo... – sua voz falhava e saía entrecortada com soluços desolados. Voltou a afundar em seu torso, e Louis engoliu em seco, deixando-se derramar mais lágrimas. Seus dedos apertavam a roupa do outro com tanta força que seus nós esbranqueciam.

– Shh, tudo bem, está tudo bem, meu amor... – Louis o tranquilizou, afagando sua cintura, a voz abafada contra o ombro – Eu estou aqui, eu te amo, está tudo bem.

Permaneceram daquela maneira por mais alguns minutos, enquanto o mundo a sua volta ignorava aquele momento. Não importava. Eles estavam presos em sua própria bolha, alimentando-se de sua própria energia. Levou um certo tempo até que os dois homens se acalmassem, respirando fundo e ritmando sua pulsação. Quando Louis sentiu os batimentos tornarem-se lineares, se afastou uma nova vez, mas, ainda assim, permanecendo com as mãos entrelaçadas sob sua cintura. Harry o puxava pelas costas, as mãos espalmadas. Liberou uma para limpar os olhos, voltando-a rapidamente, não querendo mantê-la longe de seu garoto.

Unsparing (Larry Stylinson AU | Book II)Onde histórias criam vida. Descubra agora