Unsparing life

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- Curiosamente, unsparing significa impiedoso, mas unsparing life também pode ser traduzido como vida sem preconceitos.

Chovia - mas isso não era novidade. Embora fosse verão, ventava, e o clima era frio. A própria natureza manifestava sua revolta, com nuvens pesadas e escuro, mesmo que estivessem no pico da tarde. O ar estava denso, e o próprio tempo parecia arrastar-se, teimoso.

Harry era o último ali. Sob um grande guarda-chuva preto, os olhos pesados fitavam um único ponto. Usava pesadas botas sobre a grama, e o sobretudo que caía em seus ombros o protegia das rajadas gélidas. A sua volta, ele se encaixava com as gotas de chuva, e, embora seus olhos estivessem inchados, já não chorava mais. A cerimônia havia acabado há muito, mas ele não queria deixá-lo.

A maioria das pessoas sentiam-se desconfortáveis, mas Harry via certa beleza em cemitérios. Eles guardavam, em cada cova, uma história. Uma pessoa que havia deixado entes queridos, família, emprego, uma vida de sucessos e fracassos. Seus nomes iriam ser apagados com o tempo, mas sua memória permaneceria ali. O campo era aberto, e estava úmido da chuva. Parecia quase clichê demais que chovesse no enterro.

Harry abaixou a cabeça, e vez uma reza breve. Rezou por um Deus que há muito odiara, que aprendera a perdoar para ser perdoado. Era isso que ele queria, no final. Sentiu-se mais leve quando uma brisa diferente soprou em seu ouvido. Quase conseguiu sorrir. Sua presença ainda era palpável e jovem. Em uma das mãos, o guarda-chuva, e na outra, uma rosa - branca, límpida. Pura, como ele era. Ajoelhou-se e depositou ao pé da lápide.

Louis William Tomlinson-Styles

Amado esposo, pai, amigo. O mundo se tornou um lugar mais sombrio sem você. Para sempre será lembrado.

- Oi, Lou. - sussurrou. Sua voz era rouca, e as marcas do tempo já o abatiam com mais força que outrora - Espero que tenha chegado bem no céu. Não doeu como eu achei que doeria, mas, ainda assim, foi difícil. Você já sabia. Você sempre sabe. Estava tão sereno, meu amor. Nós dormimos, e você estava sorrindo. Você disse que me amava. Você sempre dizia ao dormir. Eu sinto que nos veremos em breve. As crianças não entenderam, mas Darcy foi a que mais chorou. Ela sempre foi sua princesa. Irão sentir sua falta. Mas eu sentirei mais. Você foi o amor da minha vida, Lou. Eu te amo. Eu sempre te amei, e sempre irei amar. Você foi meu anjo, minha benção. Obrigado, Lou. Obrigado por tudo. Até logo.

Harry se levantou, e sorriu. Eles tiveram uma vida boa. Durou três anos, mas Louis conseguiu vencer o câncer, e se recuperou bem. Ele e Harry se casaram um ano depois, e se mudaram para um bairro afastado de Londres. Nunca houve um dia em que Harry se arrependesse de suas escolhas. Se afastou completamente de sua antiga vida, e construiu um estúdio para jovens talentos. Ele e Louis adotaram Darcy, e, em seguida, Freddie. Eram uma família, completa e feliz.

Louis morreu como sempre desejou - dormindo, na serenidade de sua casa. Haviam se deitado após um jantar para comemorar a aprovação de Carlson, a neta mais velha, filha de Darcy, na faculdade. Louis já sabia que seria naquela noite, e estava feliz. Deitou-se com Harry, seu esposo, e entrelaçou seus dedos. Em 60 anos de casamento, não houve um dia em que não se amaram verdadeiramente. Houve altos e baixos, mas superaram os problemas como sempre fizeram.

E foi uma vida boa.

Niall e Zayn sempre permaneceram ao lado dos amigos. Também tiveram vidas longas e felizes, e plenamente realizados. Eles estiveram no enterro, ao lado de Harry, e não se entristeceram, pois sabiam que Louis havia vivido e sido feliz com as pessoas que amava.

Ao longo do tempo, Harry passou por diversas situações que o fizeram fraquejar, duvidar e mudar. Ele havia sido julgado, e também aprendera sobre perdão e amor. Ele lutou, e também perdeu. Ele ganhou, e foram grandes vitórias. Quando pensava em desistir, sabia que tinha Louis ao seu lado, e as coisas ficariam bem.

Ele aprendeu a ter fé.

Deu as costas para a lápide, e sentiu seu espírito livre. Avistou o filho e seus netos o esperando no carro, e começou a andar, apoiado sob a bengala. Soprou um dos fios brancos e sorriu. Teve vontade de se molhar na chuva, mas sabia que seus filhos morreriam de preocupação. Sentia-se pleno, porque Louis estava consigo. Ele estava em cada célula sua, em cada gota de sangue que percorria suas veias. Louis foi seu passado, presente e futuro. Era dele, e ele era de Louis. Seu coração batia por um amor que fora julgado, omitido, posto em prova. E havia vencido. Seu amor era mais forte que qualquer coisa.

As pessoas se perderam no tempo, como meras lembranças inconvenientes de um passado há muito esquecido. Somente a vida sabia que rumo haviam tomado, mas esse era um segredo que não era da conta de Harry. Ele estava feliz sabendo apenas do necessário. Era o suficiente.

Olhou para trás e viu a lápide uma última vez. Uma história, no meio de tantas. Uma pessoa que deixava para trás entes queridos, família, sentimentos, e uma vida de feitos grandiosos. Seu nome seria esquecido, mas suas lembranças não. As pessoas que ele marcou perpetuarão sua existência, e ela será contada para as gerações que virão, e elas saberão a pessoa incrível que Louis Tomlinson-Styles foi.

Harry sorriu novamente.

Se havia um Deus ou não, ele agradeceu por ter tido a chance de viver uma vida toda ao lado de Louis - se a vida era impiedosa, se a relação deles era pecaminosa, Deus era bondoso. E isso era tudo que importava.

Fim?

Unsparing (Larry Stylinson AU | Book II)Onde histórias criam vida. Descubra agora