Mudanças

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— Com licença, senhor Magalhães! Será que posso encerrar meu expediente mas cedo hoje?

— Se você me contar o porquê, pode sim, Naty.

— A forma de tratamento é igual pra todos, inclusive, para você. Portanto, me chame de senhora Almeida, todos os dias e sempre que for se dirigir à mim.

— Tudo bem, mas me diga o pporquê, senão, te faço fazer hora extra.

— Que absurdo! Isso é chantagem, Guilherme, e isso me irrita!

— Quem me irrita é você! Vai me explicar o porquê ou não? A ameaça de mantê-la aqui na empresa, até tarde, ainda está de pé!

— Vou me mudar, pronto! Satisfeito? Agora posso ir ou não?

— Pode sim! Depois, vai me explicar direitinho essa sua briga com a Paty e pode ter certeza que vai!

— Vai sonhando, pois eu não vou te contar! Não te devo satisfações, não mais! Com licença!

— Está dispensada e se demorar mais tempo, te tranco aqui dentro, apenas para ver se essa sua marra, não vai se desfazer em apenas um segundo trancada, comigo.

— Idiota!

Ralho irritada e saio rapidamente dali, pois sabia que ele não estava brincando e sim, falando bem sério.

Mal saí da empresa e já senti uma forte dor no coração. Eu tinha que ser forte e também, ter uma coragem imensa para ir pegar minhas malas no apartamento da Paty. Depois, ir embora sem olhar para trás.

Peguei um táxi e desci em frente ao apartamento dela, respirei fundo e subi. Toquei a companhia por tocar, pois sabia que não era necessário, afinal, eu tinha uma copia da chave, mas em meio as circunstâncias, era bom fazer analisar. Demorou um pouco, até que a porta foi aberta, quem me atendeu foi o Marcelo e com certeza ela sabia que era eu e não queria me ver. Era melhor assim! Fui até o meu quarto, peguei minhas malas e me preparei pra levá-las até o elevador. Foi quando à vi, parada na porta de meu antigo quarto.

— Vai mesmo fazer essa besteira, Naty?

— Não é besteira e você sabe disso! Por favor, não vêm com essa agora.

— Naty, não faz isso, por favor! Me perdoa, foi sem querer! Você sabe mais do que ninguém, que eu nunca faria uma coisa dessas contigo, para e pensa.

— Já pensei, Paty e minha decisão é essa! Vai ser melhor assim! Se me der licença, preciso levar minhas malas até o elevador.

— Tudo bem! Se essa é sua decisão, vou respeitar, Naty, só não tenho condições de ficar aqui e ver essa cena. É demais para mim, ter que presenciar você, tirando tuas malas de nossa casa.

— Faça como bem te der na telha!

— Marcelo, ajuda a Naty com as malas, por favor! Se você quiser alguma coisa, estarei lá quarto.

— Está bem, eu ajudo! Não se preocupa, Paty.

Ela se foi, mas antes disso, à vi chorando e por mais que eu tivesse tentando ser forte, às lagrimas insistiram em sair dos meus olhos. O Marcelo pegou todas as minhas malas e colocou perto do elevador, aproveitei esses minutos para olhar cada cantinho daquele quarto e guardar na minha memoria. Foi naquele quarto que eu passei os melhores e os piores momentos da minha vida e também, como conseguiria ir embora, sem olhar pra trás? Impossível! Meus pensamentos foram interrompidos pela volta repentina do Marcelo.

— Posso mandar a real contigo, Naty?

— Pode falar, Marcelo.

— Bem, não vou pedir para ficar, afinal, isso é muito bom para mim.

— Jura, Marcelo?! Nem acredito em ti. — Falo debochada.

— Pode acreditar! Assim, você não precisará ceder aos meus caprichos e se depender de mim, vocês duas não vão voltar a se falar nunca!

— Para de falar, Marcelo! Eu não quero mais te escutar. Agora, sai da minha frente! Quero sair daqui e esquecer de tudo e de todos.

— Não curtiu a ideia? Deixa de ser otária! A gente se pega e pronto! A Paty nem vai desconfiar.

— Você é um canalha! A Paty merece coisa melhor. Agora, por favor, sai da minha frente! Sinceramente, você me dá nojo!

— Tudo bem, vadia! Some logo daqui, porque estou puto da vida contigo. Sai!

Sai daquele quarto me sentido um lixo e me perguntando como minha amiga ainda não tinha se dado conta do quão canalha o Marcelo era. Comecei a chorar e o porteiro tentou me ajudar, mas pedi a ele que seria de grande ajuda se ele chamasse um táxi. Assim que o táxi chegou, foi embora o meu choro e não era muito bom, acho que nem nos meus piores dias depressivos eu chorei tanto na minha vida.

Cheguei no meu novo lar, porém, ao contrario do que eu pensei e imaginei aquele momento, eu não estava feliz e claro que era devido a maneira como eu vim parar nesse apartamento, após à briga com minha melhor amiga e ainda por cima, o namorado dela me declarando guerra oficialmente, por eu não querer transar com ele. À partir daquele momento, passei a ter nojo do Marcelo.

Tomei um banho e não tive coragem nenhuma de desarrumar minhas malas. Na verdade, a única coisa que fiz desde a hora que cheguei foi chorar descontroladamente e fiquei assim, até adormecer. Eu só conseguia pensar, em como minha a vida, era irônica, pois ela num instante estava perfeita e no outro, todo um inferno já estava instalado, sem nem ao menos me dar conta!

Entre A Culpa E O DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora