Segundo

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Acordar é um dos maiores desafios que lido constantemente, o fato de ter que tomar coragem para levantar da cama e aceitar que tenho um dia inteiro pela frente é um grande passo que tenho que tomar todos os dias. Pode parecer drama mas é assim que me sinto. Dentro de mim tento me convencer que tenho tudo sobe o controle, que tudo vai dar certo, que está tudo bem. Vou fazer um livro, entregar pro senhor Sherper e assim que fizer isso estarei livre da faculdade. Bem meu plano vai até ai porque depois da faculdade não tenho a menor ideia do que fazer e não ter planos me deixa maluca, então vou parar de falar sobre isso. Ao em vez de pensar no futuro vou pensar no agora, em como estou quase atrasada enquanto tento acelerar minhas pedaladas. 

Já falei que vou pra faculdade de bicicleta? Então, eu vou. Me orgulho de falar isso porque me faz parecer menos sedentária e preguiçosa mas continuando. Agora pela manhã vou pra faculdade e logo depois eu, Chloe e Nícolas vamos fazer compras pro apartamento deles. Ontem a noite antes de dormir fiquei pensando sobre como seriam estas compras e o quanto me esforçaria pra que o clima estranho entre eu e Nícolas não surgisse novamente. Não sei exatamente o que fez com que ficássemos tão estranhos um com o outro mas eu definitivamente faria com que isso mudasse, não quero que nada mude entre nós dois. Quero ter a certeza que tenho ele como um irmão novamente.

Ao entrar na sala de aula era sempre a mesma coisa: Pessoas com sono, outras abrindo os cadernos, a grande maioria mexendo no celular e ele como sempre no fundo escrevendo. Não sei como ele não cansa, sério. Não que eu odeie escrever, não é isso, mas é que eu amo escrever o que eu quero, o que tenho vontade. É extremamente frustrante pra mim me forçar a escrever o que os professores pedem, todas as aulas e o senhor Sherper é o pior deles, ele dá uma aula inteira sobre leões marinhos e pede um texto sobre a segunda guerra mundial! Pra completar ele é meu orientador. Eu sei, fui eu que o escolhi mas é que eu achava e ainda acho, que ele pode me surpreender. Vamos torcer para que eu esteja certa.

Sempre sento no fundo porque é mais confortável pra mim. O ruim do fundo é David Salvatore escrevendo. Todo santo dia ás seis da manha ele está escrevendo, dá até pra ouvir o barulho irritante do lápis contra o papel. Não sei como ele tem energia e criatividade mas pra quem se acha o centro do universo ele tem mesmo que fazer jus a imagem que passa. De verdade, nunca conheci alguém que se ache mais foda que ele. Só pela sua postura, pelo seu jeito de andar, dá pra perceber o quanto ele se acha demais. Além de que está sempre impecável com aquela jaqueta de couro preta, o cabelo milimetricamente arrumado e o seu perfume característico. Admito que me dá muita vontade de chegar perto dele bagunçar aquele cabelo, tirar aquela jaqueta e dar uma arrotada na cara dele só pra ver sua reação. Esse pensamento me rende umas boas risadas mas que logo se cessam quando o senhor Sherper entra.

" A chamada." Acho que ele é o único professor que ainda leva esse negócio de chamada a sério. Encosto minha cabeça na mesa enquanto ainda escuto o barulho do lápis de David, que vontade de quebrar aquele lápis!

Depois de uns minutos desperdiçados na chamada inútil, o professor surpreende a todos quando sobe em cima da cadeira. Sim, ele subiu na cadeira. Finalmente uma aula sem leões marinhos ou gaivotas australianas.

"Estamos no último ano e ao contrário dos outros anos, esse será diferente." Ele falou pela primeira vez observando os alunos sentados no fundo, os que assim como eu não queriam ser notados. " A maioria de vocês mesmo não me tendo como orientador vão escrever um livro esse ano. Espero que já tenham uma ideia pronta e se não tiverem, corram contra o tempo."

"Para a próxima semana vocês terão que trazer uma história. Vai ser em grupo, não me interessa com quem farão, só não me entreguem qualquer porcaria." Como assim o professor entediante de repente se transforma nessa coisa que estou vendo em cima da cadeira? Parece que eu tinha razão quando senti que ele me surpreenderia "Tragam na próxima aula a história com trinta páginas no mínimo e pode ser sobre qualquer coisa mas precisa ter personalidade, autenticidade e verdade. Se nas primeiras páginas vocês não me conquistarem, não vou nem me dar o trabalho de continuar lendo."

De Repente AméliaOnde histórias criam vida. Descubra agora