Vigésimo quarto

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Andava com a ponta dos pés descendo as escadas torcendo pra que ninguém me visse. Eu nunca fui fã de despedidas.

Precisava ir pra algum lugar sozinha. Não conseguia mais dormir ao lado de Nicolas pensando em outra pessoa. Não conseguia fingir pra minha melhor amiga que estava tudo bem comigo. Na verdade a bagunça que estava minha vida parecia nunca acabar. Tinha que ir embora mas também não queria simplesmente desaparecer por isso usei o que eu tinha de melhor naquele momento: as palavras. Eu sempre fui melhor escrevendo por isso não economize energia em escrever uma carta pra Nicolas. Ele merecia a honestidade que eu estava disposta a dar.

Assim que entrei no táxi percebi o peso das decisões que andei fazendo. Eu estava seguindo meu coração a todo momento e isso me fazia acreditar que estava tudo bem. Mas não estava. Eu sentia falta de David quando estava com Nicolas. Sentia sempre que estava faltando algo e pensei em todo o caminho até o aeroporto se era David a solução dos meus problemas.

Olhava a grade de vôos com os horários me perdendo em tantos destinos diferentes. Estava prestes uma passagem de volta pra Dellwood mas não era isso que eu precisava. Eu precisava de um tempo comigo. E era isso que estava errado. A todo momento que Nicolas dizia que eu era dele sentia meus sentimentos estranharem. Nosso corpo inteiro tenta nos avisar quando precisamos mudar.

Eu nunca poderia ser de outra pessoa se não era minha. Nunca me sentiria segura em deixar outra pessoa me amar se nem eu mesma me amava. E esse era o grande problema. Antes de me envolver em um relacionamento eu precisava me resolver comigo mesma.

Desde que meus pais morreram eu me fechei pra todos os horizontes e oportunidades. Estive todo esse tempo fechada e murchando cada vez mais. Precisava pensar sobre o que eu realmente queria, porque iria me formar em semanas e ainda não tinha certeza se queria mesmo ser escritora. Na verdade acho que grande parte de mim sabia que estava seguindo um sonho que não era meu.

Me sentei num cadeira do aeroporto com uma passagem pra Milão só de ida. Eu tinha toda a herança dos meus pais nas minhas mãos e estava na hora de gastar ela comigo mesma. Esperava que eu conseguisse ao menos organizar meus pensamentos nessa viagem e talvez as coisas começassem a fazer de fato sentido na minha vida e eu não sentisse mas falta de nada.

Por favor, não me odeie.

Eu ainda não seu como tenho coragem pra deixar você dormindo tão lindo nessa cama e ir embora. Mas eu preciso disso Nícolas. Não vou atrás de outra pessoa, vou atrás de mim mesma. Ainda me sinto perdida mesmo depois de tantos anos e acho que preciso encarar meus fantasmas de uma vez. Tentei ignorar tudo o que estava sentindo desde a morte dos meu pais e já faz muito tempo que estou acostumada a sufocar o que eu sinto. Mas foi você que me deu coragem pra não fazer isso continuar. Eu tenho que ser honesta com você Nic e admitir que ainda penso em outra pessoa. Ainda sinto vontade de estar com outra pessoa e sei bem que isso não é o que você quer num relacionamento. Você merece alguém que esteja contigo por inteiro, de corpo e alma. Eu, infelizmente, não sou essa pessoa.

Eu te amo, acredite nisso com todas as duas forças. Se não amasse não me preocuparia tanto. Você sempre esteve num lugar especial no meu coração e sempre vai estar. Eu te amo como um irmão, um amigo e um amante. Você acompanhou todas as minhas fases e nesse momento estou passando por uma nova e espero que entenda que preciso começa-la sozinha. Você é bem mais do que eu poderia pedir, Nic você foi um presente pra mim nesses últimos 5 meses. Eu espero que nenhum ressentimento reste em seu coração e que possa tentar me entender com toda a compreensão que eu sei que você tem.

E avise a Chloe que nada disso tem a ver com você ou com ela. Eu amo vocês e quero a felicidade de cada um. Essa carta não é uma despedida como pode parecer, é só um até logo. Espero que vocês entendam e que possamos nos ver em breve.

De Repente AméliaOnde histórias criam vida. Descubra agora