Sétimo

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Me olhava no espelho pela milésima vez, o vestido florido e rodado se ajustava perfeitamente ao meu corpo. Mas não me sentia segura ao usar um vestido como aquele, que molda meu corpo e é justo demais na cintura. Não que eu tenha medo de parecer gorda, não é isso, eu já sei o que sou, o fato é assumir isso pro mundo.

Dei as costas pro espelho, peguei a bolsa e meus livros, antes de sair de casa ainda olhei mais uma vez pro armário pensando se trocaria de roupa ou não, por fim, a preguiça me venceu e acabei saindo de casa daquele jeito mesmo, mas tudo daria certo, tinha que dar.

Andar de bicicleta de vestido era um desafio e tanto. Não estava acostumada a expor tanto meu corpo, pra mim era mais fácil sair de casa de calça jeans do que de saia ou vestido. A cada pedalada o vestido subia e eu me arrependia cada vez mais da ideia idiota de colocar o maldito vestido. Queria mudar um pouco, me sentir diferente e de fato isso estava acontecendo, nunca me senti tão incomodada como agora.

Enquanto pedalava observava as pessoas na calçada olhavam pra mim, algumas até sorriam. O que estava acontecendo? Era o vestido? Eram minhas pernas? Ou será que eu não tinha limpado o meu bigode de leite e todos estavam rindo da minha cara?

Meus pensamentos foram interrompidos pela pessoa que vinha correndo pelas calçadas de Dellwood, exibindo seu corpo suado e cabelo bagunçado. Ele estava com os fones de ouvido e olhos fechados, seu rosto corado somado com as sardas fazia a manhã ficar bem mais agradável. Ele tinha o poder de deixar tudo mais agradável.

Passei a diminuir o ritmo das pedaladas só para observá-lo por mais tempo. Nesse meio tempo ele abriu os olhos e talvez fosse o destino querendo que eu tivesse um ataque do coração mas assim que o fez olhou diretamente na minha direção. Nossos olhares de cruzaram e eu vi o exato momento em que seu olhar foi em direção ao meu corpo.

Na minha cabeça tudo acontecia em câmera lenta, mas na vida real as coisas acontecem tão rápido que mal conseguimos acompanhar. E foi assim que aconteceu comigo. Nem posso observar Nícolas Clark por alguns segundo que o destino já surge dizendo "ei, saí dessa!" e me faz desequilibrar da bicicleta. Caí no concreto do jeito mais vergonhoso possível. Amélia Barrow no meio da rua principal com o joelho ralado e observando o seu quase irmão correndo para ajudá-la. Sério, minha vida daria um bom filme de comédia, daqueles que só acontece tragédia mas que são tão embaraçosas que fazem você rir do início ao fim.

"Ei o que foi isso?" Estava ajoelhado na minha frente, tocando meu joelho com todo o cuidado e observando a ferida que ardia como o inferno.

"Eu caí." Falei observando ele desviar os olhos do joelho pro meu rosto e dar aquele sorriso que fazia algo dentro de mim vibrar. Naquele momento tive a famosa sensação de déjà vu. E aí que lembrei que seus sorrisos já mexiam comigo a muito tempo. Lembrei da vez que havia tirado nota baixa na prova de cálculo e chorava no quarto de Chloe e ele foi me consolar fazendo cosquinha e dando aquele sorriso.

"Vem, vamos dar um jeito nisso."

Estava na bancada da cozinha observando Nícolas colocar o remédio no algodão e com todo o cuidado se aproximar de mim.

"Isso pode doer." Disse colocando o algodão sobe a ferida que doía mais do que eu podia imaginar. A ardência matava aos poucos e me fazendo respirar com dificuldade. Quando Nícolas finalmente colocou todo o remédio pegou gases para fazer um curativo.

"Lembro que você sempre fazia meus curativos." Falou me encarando e sorrindo daquele jeito que dá vontade de apertar as suas bochechas.

"Chloe nunca teve paciência para isso."

"E olha que ela passou por uma fase de achar que faria medicina." Rimos juntos já imaginando o desastre que seria caso ela tivesse insistido na ideia.

De Repente AméliaOnde histórias criam vida. Descubra agora