Quarto

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Nunca havia faltada nenhum dia sequer a faculdade, chegava sempre no horário, prestava atenção nas aulas (na maior parte do tempo), tirava boas notas e entregava os trabalhos. Mas eu estava estragando tudo. Faltei a faculdade, justamente hoje quando seria o dia da apresentação do trabalho de literatura. O pior foi eu esqueci da apresentação. Não, o pior foi eu ter tido um sonho erótico com o Nícolas, por causa desse maldito sonho que perdi um dos dias mais importantes para minhas notas finais. Uma das coisas que só aconteciam comigo.

Além disso, estava sendo atormentada pela minha melhor amiga, que não parava de me mandar mensagens perguntando se já comi hoje. Tudo porque ontem eu desmaiei por falta de comida. Mas novamente não foi culpa minha, o destino estava fazendo as coisas acontecerem rápido na minha vida. Antes tudo estava um tédio, um grande monte de nada. E de repente tudo começava acontecer rápido demais, eu não estava conseguindo acompanhar.

Falando em não conseguir acompanhar, estou nesse exato momento sentada na cafeteria tentando começar uma história. Minha adorável dupla, o David estava atrasado o que estava me deixando cada vez mais irritada. Se estivesse de fato concentrada não estaria aqui pensando em como tudo está dando errado. Mas a verdade é que o sonho ainda não saiu da minha cabeça. Gostaria muito que ele significasse nada mas estava claro que alguma coisa estava acontecendo e no fundo estava com medo de descobrir.

Assim que meu chocolate quente chegou ouvi o barulho de uma moto se aproximando, virei na direção do barulho e quem estava na moto era exatamente quem eu esperava. Sem querer comecei a rir com a visão que estava tendo. David Salvatore saindo da Harley, tirando o capacete pra logo em seguida passar as mãos pelo cabelo. Estava com a mesma jaqueta de sempre, o cabelo bagunçado e a sua postura de deus que anda sobe as águas. Típico.

Ele era tão confiante e seguro de si que irritava. Assim que entrou na parte interna da cafeteria chamou atenção. Ele sempre chamava atenção. Seus olhos passaram por toda a cafeteria até me encontrar e quando o fez abriu um largo sorriso. Tá, por essa eu não esperava

"Desculpa pelo atraso." Formal como sempre. Soltei um longo suspiro apenas assentindo. "Você já fez algum progresso?"

Lhe entreguei o notebook com nada escrito enquanto tomava um gole do chocolate quente. Ele olhou pra mim com um sorriso no rosto. Nossa como ele estava sorridente hoje.

"Alguém está de mau humor hoje..." Não respondi. Se ele havia tirado o dia pra ser simpático e legal comigo podia desistir porque eu estava totalmente sem paciência pra socializar hoje.

"Já teve pelo menos alguma ideia?" Meu Deus ele estava insuportável hoje!

Coloquei as mãos na cabeça sentindo que ia explodir.

"Não, não tive nenhuma ideia." Cheire a flor, assopre a vela. Isso Amélia, se acalme.

"Podemos escrever uma utopia!" Falou animado. "Ou uma ficção científica, eu gosto."

"Ou podemos jogar um jogo." Falei olhando em sua direção e abaixando a tela do notebook para que ele prestasse atenção em mim. "Ver quem fica em silêncio por mais tempo. Que tal?" Deu o sorriso mais falso que consegui e me encostei na cadeira.

"Só pra você saber eu não costumo perder." Arqueei uma sobrancelha e comecei a sorrir com petulância do ser humano a minha frente.

Afastou o notebook para que ficássemos com a visão livre um do outro e colocou os cotovelos sobe a mesa apoiando o queixo com os seus dedos longos. Ele podia ter a personalidade mais desprezível do mundo mas não deixava de ser o maior gostoso.

De Repente AméliaOnde histórias criam vida. Descubra agora