Vigésimo segundo

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Meus olhos estavam cheios d'água, eu podia ver as ondas quebrando a minha frente, o horizonte iluminado pelo sol já tímido naquele final de tarde. Eu podia ouvir aquele som único. Não achei que seria tão mágico conhecer o mar como estava sendo.

Meus pés brincavam na areia e eu não conseguia parar de sorrir. Chloe, Brandon e Nícolas estavam admirados com a minha descoberta. Todos eles já conheciam o mar menos eu, até Chloe que era a pessoa que mais me conhecia no mundo não sabia desse fato curioso. Pra falar a verdade até eu havia esquecido que nunca tinha visto o mar, achava que era besteira, isso porque não fazia ideia de como era.

Assim que chegamos na casa de praia, ou melhor, na mansão ficamos admirados com tudo. Era tudo muito grande e muito lindo. Todos estavam tão felizes e eu acabei me contagiando, quando vi já estava dando pulinhos de alegria com Chloe. No meu quarto e de Nicolas dava pra ouvir o som do mar e foi ali que eu me toquei. Corri as escadas assustando um pouco Chloe.

"Pra aonde você vai?" Mas ela só entendeu quando eu já estava com meus pés na areia paralisada.

É surreal. O mar esverdeado refletia a luz do sol já baixo e as nuvens no céu estão todas num misto de cores. A maresia é gostosa de sentir e me pergunto o pôr que de nunca ter tudo a vontade de conhecer o mar antes. Era simplesmente maravilhoso.

"Você fica tão bonitinha observando as coisas." Nícolas disse me dando um beijo na bochecha e me abraçando.

Soltei um longo suspiro sorrindo e recebi seus braços firmes sobre mim. Era bom ter alguém ao seu lado, alguém que te ame, que você possa beijar e ter confiança pra fazer outras coisinhas a mais. Eu tinha tudo isso com Nícolas e ainda assim não me sentia completa. Isso já estava me consumindo num limite que eu me pegava até sentindo culpada por estar o abraçando. Ele merecia alguém melhor que eu, que o amasse na mesma intensidade. Eu deveria abrir logo o jogo com ele e dizer que as coisas já estavam deixando de dar certo pra mim a algum tempo mas todo mundo estava tão feliz, eu estava feliz. Por um momento eu poderia ignorar minhas noias e me divertir certo? Certo.

Jantamos peixe e tomamos algumas cervejas, conversamos sobre tudo exceto o casamento porque segundo Brandon Chloe já estava ficando maluca. Não era maluquice, era só ansiedade e eu entendia bem. Chegava a ficar com o estômago embrulhado só de pensar que faltava apenas um dia por casamento. Eu era a madrinha então tinha que fazer bonito e ainda tinha o discurso! Aí meu deus, tinha esquecido dessa parte. Bebi um gole enorme de cerveja só de lembrar que ainda não tinha nada pronto. Um dia. Estava mais perto do que eu pensava e sinceramente mal podia esperar para que chegasse logo.






Se ver o mar era bom, entrar nele era melhor ainda. A água estava morna e eu estava com muito medo das ondas mas o mar estava calmo para a minha sorte. Eu e Chloe entramos juntas enquanto Brandon conversava com os organizadores da festa. Os preparativos já estavam acontecendo desde a hora que eu acordei, do mar dava pra ver varias pessoas no gramado em frente a casa organizando tudo. Senti falta de Nícolas naquela parte da manhã, eu estava tão acostumada a ter ele sempre ao meu lado. Acho que foi isso que me fez ir até nosso quarto acorda-lo. Ele ainda dormia quando eu deitei ainda com os cabelos molhados ao seu lado.

"Que dorminhoco." Disse dando beijinhos no seu rosto. "Acorda Nic." Sussurrei no seu ouvido e ele abriu um pouco os olhos.

Era tão bonitinho o ver acordando, eu sabia exatamente a expressão que ele fazia quando acordava. Sempre percorria o lugar onde estava com os olhos e franzia a testa.

"Já acordei."

Sorri com o fato dele enterrar a cara no travesseiro. Fiquei o empurrando até ele se sentar na cama.

"Agora sim!"

"Você é insistente pra caralho." Gargalhei com sua forma de falar ainda embolado pelo sono.

Ele foi finalmente despertando aos poucos e passou a me observar assim como eu fazia. Um sorriso sacana surgiu em seu rosto e eu nem precisei perguntar, já sabia o que ele queria. Recueei tentando escapar mas ele me puxou pela cintura e ficamos nessa luta ridícula até eu ceder e acalmar minhas gargalhadas.

"Você é insistente pra caralho!" Disse rindo com Nicolas por cima do meu corpo.

"Ei, sem palavrões mocinha." Seu sorriso descarado demorou a sumir mesmo com meus beijos.

"Ei, posso contar um segredo?" Assenti passando meus dedos pelo seus cabelos e sentindo a textura dos seus lábios nos meus.

"Eu te amo." Sorri olhando em seus olhos e ele não esperou uma resposta pra voltar a me beijar.

Era tão natural namorar Nícolas, não haviam complicações, nem brigas cansativas. Eu me sentia calma e em paz perto dele e sentia tudo se encaixar. Eram nesses momentos que eu não tinha dúvidas que amava Nicolas e realmente estava feliz com isso. Por enquanto aquele sentimento era suficiente.





O dia seguiu perfeito e eu não podia me sentir mais grata. Lá fora o gramado já estava todo pronto para o casamento que aconteceria pela manhã. Observava tudo da janela e pensava se um dia eu estaria prestes a entrar no vestido de noiva, Chloe estava tão ansiosa que ontem ainda organizava algumas coisas, mesmo Brandon dizendo que não precisava. Ele ainda não tinha entendido que não tinha jeito, ele poderia falar mil vezes mas ela não escutaria. Porque queria tudo perfeito, amanhã seria o dia dela, todos viriam aqui para celebrar a felicidade dela com a pessoa que escolheu pra vida. Olhei pra trás e observei Nícolas dormindo, já eram duas da manhã e eu ainda não havia pegado no sono. Estava observando a noite pensando milhões de coisas, e uma delas era Nícolas. Decidi num impulso em abrir a porta do quarto, descer com cuidado as escadas e ir á praia.

A única luz era a da lua e ali ouvindo o barulho do mar meus pensamentos pareciam se acalmar. Olhando pro mar a minha frente senti falta dos meus pais. Ultimamente eram raros os momentos em que eu sentia de fato saudade deles. Sempre me lembrava dos dois, eram pequenas coisas, simples momentos e eu pensava "nossa como a mamãe amaria essa comida." Ou "meus deus! Isso é a cara do papai." Mas agora era diferente.
Eu realmente queria eles de volta. Senti falta deles como nunca. Se estivessem aqui talvez minhas duvidas não fossem tão grandes, porque eles saberiam bem o que dizer e dariam as melhores sugestões. Me abracei tentando de alguma forma me confortar, na verdade queria o abraço do papai mas não era possível. Senti o vento aumentar, olhei pro céu pedindo que não chovesse logo agora. Minhas lágrimas já estavam frias em meu rosto, meu corpo já estava meio mole e o sono se apossava de mim aos poucos. Mas eu não queria dormir, queria ficar ali pra sempre. Fechei os olhos e só respirei sentindo meu corpo relaxar e mais lágrimas caírem. Eu tive um dia tão bom e então porque sem sentia assim de repente? Enxuguei as lágrimas um pouco irritada e levantei me forçando a ir pra cama dormir. 

Naquela noite sonhei com meus pais. Eles estavam na praia comigo e diziam todo hora que tinham um presente pra mim. Então, de repente meu pai chega carregando um enorme espelho e coloca bem na minha frente. Enquanto eu me observo sinto algo estranho dentro de mim, algo se revirando e contorcendo. E então minha mãe quebra o espelho com um soco e diz com clareza: "pare de olhar pra fora!"

E foi nesse momento que eu acordei.

De Repente AméliaOnde histórias criam vida. Descubra agora