Décimo quinto

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Hoje não foi como nós outros dias, em que já despertava cansada e desistindo de tudo. Hoje me sentia grata e feliz, eu queria viver e estava satisfeita por ter esse privilégio, o que é quase um milagre considerando que eu provavelmente deveria estar numa ressaca infernal ou morta de sono devido a noite passada. Mas não, eu estava animada pela entrega do trabalho tanto que senti minhas pernas cansarem de tanto pedalar para chegar a faculdade. Assim que cheguei passei meus olhos por todos que se encontravam na entrada mas nada do David, o que era estranho porque ele sempre ficava do lado de fora antes fumando antes de entrar na sala. Observei mais atentamente e aceitei o fato dele não estar ali, no fundo um medo gigante dele ter faltado me atingiu. Caso isso tivesse acontecido eu estava perdida. Comecei a andar pelo corredor de fato nervosa por não lhe encontrar mas depois de tanta procura eu o vi, na verdade, vi suas costas mas qualquer parte dele pra mim era reconhecível. Um friozinho na barriga me invadiu assim que se virou lentamente me capitando com o olhar. O cigarro foi até seus lábios e a fumaça saiu lentamente enquanto cada passo meu foi dado em sua direção. Já podia sentir o cheiro do fumo o que fez um desgosto me atingir com força. No fundo por algum motivo esperava que depois da noite que tivemos no lago ele fosse parar de fumar. Ele disse que eu fazia ele querer ser uma pessoa melhor, mas estava claro que ser alguém melhor pra ele ainda envolvia fumar desde as sete horas da manhã. Ele era viciado, eu já deveria ter aceitado isso. Ainda assim não me conformo com o fato dele saber que a cada vez que acende o cigarro está perdendo para o vício.

"Ames." Assim que escutei meu nome sair dos seus lábios meus conflitos foram deixados de lado.

"David." Seu sorriso aberto e caloroso não era tão comum de ver, era uma espécie de privilegio poder ter aquele sorriso dirigido pra mim.

"Vamos terminar logo com isso." Disse jogando o cigarro fora e me estendendo seu braço ao qual eu entrelacei o meu sorrindo.

Andávamos pelo corredor um ao lado do outro, atraindo olhares invasivos e curiosos. E por mais que algo dentro de mim repudiasse toda aquela atenção, a maior parte de mim não se afastaria de David por nada no mundo. Seu perfume estava bem ao meu alcance me fazendo sentir a vontade de colar meu corpo no seu por mais tempo que eu possa imaginar. Com o quanto do olho podia observar que tinha sua atenção completa e algo na minha intuição dizia que ele estava esperando alguma ação minha.

"Para de me olhar. Você não vai querer que eu te beije no meio do corredor." Disse baixinho em seu ouvido enquanto andávamos calmamente.

"Não me importaria se beijasse, na verdade estou me segurando pra não fazer o mesmo." Olhei em seus olhos e vi que ele admirava minha boca atentamente.

"Para!" Me afastei dele passando as mãos pelo cabelo, estava ficando com calor.

"Você não pode fugir pra sempre." Disse dando um apertão na minha cintura me pular de susto. "Até o fim do dia você vai implorar pra que eu te beijei." Não negaria, sabia que estava prestes a implorar naquele momento.

Minha respiração já estava desregulada quando David desfez seu abraço na minha cintura e passou a andar mais rápido em direção a nossa sala me deixando completamente inerte no meio do corredor. Assim que entrei na sala de aula sentei na mesma cadeira de sempre, com David Salvatore ao meu lado. Observei seu perfil tentando esconder um sorriso teimoso, tanta coisa havia mudado entre nós dois. Sorri sem acreditar que agora meu corpo se remexia de alegria por estar tão perto dele. Parece loucura pensar que eu o odiava e não conseguia nem lhe encarar sem um julgamento impregnar minha mente. Agora enquanto o professor Sheper recolhe os trabalhos penso quanta coisa mudou em apenas uma semana. Uma semana! Não consigo acreditar então conto nos dedos, e sim, faz uma semana que David pediu para eu ser sua dupla. Calma aí, ele pediu pra ser minha dupla. Ele que nunca falava com nenhuma garota se não fosse pra mandá-las parar de persegui-lo. Ele que sempre me dirigia olhares atravessados. Espera um pouco.

De Repente AméliaOnde histórias criam vida. Descubra agora