Décimo nono

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A verdade é que eu não estava pronta para o fim da história.

Não estava pronta pra tomar uma decisão, muito menos para conversar com David mas chega um ponto na vida que você tem que tomar decisões. Na verdade, enquanto digito percebo que cada dia é uma nova oportunidade pra se refazer e consequentemente fazer escolhas. Decidi na noite passada que começaria a escrever a história de término do meu curso e não consegui para mais, estava com saudades de escrever. Já eram duas da tarde e eu ainda estava de pijamas com o notebook na minha frente vendo o relógio mudar a cada minuto. Mais do que cansaço eu sentia medo do que iria acontecer. Sempre fui medrosa mas agora era pior, porque eu sentia medo de mim mesma. Sentia medo das consequências da decisão que eu precisava tomar.



Já estava começando o inverno em Dellwood podia sentir pelo vento gelado que batia forte contra o meu rosto. Mais alguns passos e eu estaria na cafeteria. Só respire fundo Amélia e continue. Me assustei com o barulho do meu celular tocando, assim que vi o nome dele no visor desacelerei meus passos.

"David?"

"Você está vindo?" Eram três e meia ou seja eu estava atrasada e pra alguém que dizia odiar atrasos realmente era bem estranho.

"Estou." Sabia que ele podia sentir meu nervosismo do outro lado da linha.

"Só queria dizer que...tudo bem se você não vier."

"Como assim?"

"Eu entendo se não quiser fazer isso frente a frente, tá tudo bem."

"David eu não to entendendo."

"Sei que você vai me dar um fora." Parei na esquina da rua, eu podia observa-lo sentado e fumando na área externa da cafeteria.

"Você não sabe disso."

"Você acha que eu não percebo Amélia, acha que eu não sei que sou o pior pra você."

"David, cala boca." Minha voz travou e aí que percebi que queria chorar.

"Não calo porque é verdade e quer saber mais, quer saber porque eu sou fodido desde jeito?" Não precisei responder ele continuou falando e eu lhe observava sem ele perceber.

"Eu perdi a coisa que mais amava nesse mundo, minha mãe Amélia. Depois que você perde a única pessoa que te amou você sente uma solidão profunda, as coisas parecem mais sombrias sabe?! Você duvida do amor, dúvida da bondade das pessoas, você perde as esperanças."

"Depois da morte da minha mãe fui trabalhar num supermercado e eu era muito novo, não tinha ninguém comigo e ninguém queria me ajudar e então foi aí que eu comecei a fumar. Era o que me acalmava mas acontece que essa net dá vicia. E então chegou um ponto antes de você entrar na minha vida que eu quis parar, mas não consegui."

Não acreditei quando vi David do outro lado da rua passando a mão no rosto, ele estava chorando e ainda assim segurava o cigarro na mão.

"Passei por muita coisa antes de entrar na faculdade, você não tem ideia. E então quando entrei as coisas começaram a se alinhar, recebi atenção das garotas na primeira semana e gostei disso. Nunca consegui me aproximar de nenhum cara, mas das meninas eu nem precisava me esforçar e então eu aproveitei."

"Mas então eu me toquei que o fato de eu pegar tantas mulheres era só uma tentativa de preencher o vazio que sinto todos os dias. Mas acontece que quando eu menos esperava você apareceu." Ele ficou em silêncio por um tempo e eu vi o exato momento em que ele apoiou a mão na cabeça e agora eu podia escutar seu choro. Nunca achei que pudesse sentir tanta dor, doía bem mais que um corte, doía tanto que eu não sabia se aguentava ficar em pé.

De Repente AméliaOnde histórias criam vida. Descubra agora