6. Matteo

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Eu não queria que o expediente terminasse e aquela seria a primeira vez que esse desejo aparecia. Mas eu tinha meus motivos e ele tinha nome, mesmo sobrenome e mesmo endereço que o meu. Terminei de fechar o caixa, contando pela primeira vez as últimas notas que jaziam ali e guardando em um envelope, anotando o valor em cima.

Não demorou muito para Francesco estar ao meu lado, sempre solícito quando o assunto era eu. Não reclamava, mas vez ou outra eu simplesmente não queria falar sobre os meus problemas, principalmente quando o maior deles se relacionava à uma Pasini.

Ele fingiu mexer novamente nas louças que já estavam lavadas e dispostas no escorredor. Logo ele tinha um pano em mãos e fingia secar os copos. Ainda de cabeça baixa, levantei os olhos para meus outros primos que limpavam as mesas e conversavam animados. Umedeci os lábios e suspirei pesado, não querendo falar sobre aquilo, mas sabendo que não poderia adiar mais.

Tomei fôlego, mas logo fui interrompido.

- Vamos, garotos? - Chamou meu pai.

Meus primos abandonaram seus aventais e vi o olhar significativo que Francesco lançou na minha direção. Sabia que não passaria daquela madrugada e eu tinha que começar a preparar meu discurso.

O caminho para a casa pareceu ser feito na velocidade da luz e sem demora estávamos em casa. Todos já dormiam, meu pai e tios foram aos seus quartos dando um boa noite geral. Me afastei para o jardim dos fundos e ouvi passos me seguindo. Dante e Luigi subiam a escada a última vez que verifiquei então já tinha uma  ideia de quem me seguia.

Me sentei no banco e observei os meus pés, a grama sob eles. Por que tinha que ser assim? Por que não poderia ser eu com os meus pensamentos? Por que Francesco tinha sempre que saber o que se passava comigo? Respirei fundo para não ser grosso com o meu primo e melhor amigo. Ele queria ajudar, só isso.

- Não vou te obrigar a dizer. - Começou e eu continuei a fitar meus pés. - Só acho que pode ser melhor você colocar tudo pra fora para uma pessoa que você confia do que ficar se autodestruindo. Eu sei o que você tá pensando agora, mas lembre-se que quando você não me diz nada sempre acaba em um enrascada. Não estou dizendo que não vou te tirar de uma se você se meter, mas só estou dizendo que podemos acabar com isso logo de uma vez ou prolongar.

Era verdade. Sempre que eu dizia querer ficar sozinho, que eu não desabafava com ele, acabava bêbado, caído na sarjeta ou metido em alguma briga. Balancei a cabeça em negação e ri baixo. Acho que não havia alguém que me conhecia tão bem quanto Francesco. Acreditava que nem eu mesmo me conhecia tão bem quanto ele. Era como se ele conseguisse ler meus pensamentos e prever minhas reações.

Francesco seria um ótimo psicólogo.

- Tudo bem. - Olhei para frente e depois para ele. Um sorriso convencido pintava os seus lábios. - Eu fui na casa da Betsy.

- Hm, afogar as mágoas no meio das pernas dela de novo, Matteo? - Seu tom era repreensivo. - Quantas vezes já disse para não fazer isso? Por mais que ela se mostre forte, sabe que pode magoá-la. Aí você vai pro colégio e ela quer andar de mãos dadas com você. - Deu de ombros no final da sentença.

Eu tinha outras garotas pelo colégio das quais não queria me desfazer por causa de um contato íntimo com Betsy, mas agora apenas uma delas me importava. Uma que eu nem sequer tinha contato civilizado.

- Posso terminar? - Questionei, me recostando e cruzando os braços.

Vi quando ele assentiu e imitou meu movimento.

- Só achei conveniente fazer uma interrupção vez ou outra.

- Continuando... - Disse entredentes. - Dessa vez eu fiz por um motivo. - Fechei os olhos com força, apoiei os cotovelos nos joelhos e esfreguei o rosto, só para depois passar a mão pelos cabelos. - Eu acho que estou apaixonado, Chê.

Entre Segredos e PizzasOnde histórias criam vida. Descubra agora