10. Arabella

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Não esqueceria das palavras de James, do seu machismo, da sua superioridade. Eu senti vontade de mandar todo mundo se foder e ir embora dali. Mas eu aguentei, pelos nonos.

Eu estaria mentindo se dissesse que o meu braço onde Matteo tocou não ficou formigando. Ficou sim e parecia que aquela sensação boa não ia passar nunca. Foi esquisito eu ter ido agradecê-lo pela cena que poderia levar a pizzaria ao buraco, mas eu devia aquilo à ele e, depois da noite desastrosa, eu precisava vê-lo. Era uma necessidade estranha, quase como se ir vê-lo fosse me impedir de chorar horas a fio na hora de dormir.

Se ele era o meu remédio, eu não sei, mas dormi como um anjo naquela noite.




- Façam fila! Pelo amor de Deus, vocês aí atrás!

A professora de educação física, que iria nos acompanhar, andava de um lado à outro tentando organizar a fila do ônibus que nos levaria para o acampamento.

- Será que a pizzaria vai ficar bem sem a gente? - Paola questionou pela vigésima vez e eu só revirei os olhos.

Me virei de costas enquanto ouvia a resposta de Perla para a irmã:

- Caspita! Essa pizzaria funcionou durantes cinquenta anos sem a gente. Tem alguma dúvida?

- Ah, mas...

- Paola, per l'amor di Dio, se você continuar resmungando eu vou te dar um soco tão bem dado que você nunca mais vai esquecer na sua vida.

Ao longe avistei Matteo com os primos e não demorou para nossos olhares se encontrarem. Ele parecia procurar alguém na fila e sorriu quando o olhar pausou em mim. Mordi o lábio inferior... Mas por que eu estava fazendo isso? Droga, ele era um Bianucci! Eu estava ficando louca? Malditos hormônios.

- Então eu vou falar com a Arabella. - Ouvi Paola dizer e me virei rapidamente.

- Ah, mas não vai mesmo. - Me afastei delas e fui me sentar nas escadarias da entrada do colégio enquanto observava os ônibus e os alunos.

Percebi Matteo se arrumar na fila, conversar com os primos, mas em nenhum momento tirar os olhos de mim. Senti um formigamento esquisito nas bochechas e, eu até queria negar, mas sabia que havia ficado corada.

Não demorou para a fila andar e eu corri de volta, percebendo que minhas primas ainda discutiam. Decidi que ia me sentar bem longe delas e, quando as vi indo para o fundo, fiquei no meio do ônibus e deixei que se guiassem para onde quer que fosse.

- Arabella! - Elas gritavam.

Matteo Bianucci estava ao meu lado e me olhou com um sorriso malicioso.

- Aqui! - Matteo apontou pra mim e eu revirei os olhos.

- Você é um figlio di puttana! - Rosnei e me ajoelhei no banco para poder olhar para as minhas primas. - Já estou indo.

Me levantei e o empurrei, vendo que ele apenas se divertia com a minha irritação. Acabei ficando no banco da frente e nenhum aluno se sentiu confortável o bastante para ocupar o lugar ao meu lado. Eu era Arabella Pasini e causava medo nos homens.

Afinal, o que eu estava pensando sobre Matteo? Ele sempre me colocaria em situações constrangedoras como aquelas e na pizzaria não foi diferente. Ele fez de propósito e foi pior ainda depois do que o fez.

Como eu tentara ver bondade naquele garoto? Não existia bondade ali, apenas um grande letreiro em cima da sua cabeça com os dizeres "inimigo mortal".

Entre Segredos e PizzasOnde histórias criam vida. Descubra agora