Do lixo ao luxo

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As coisas começaram a cair no chão. Barulhos como pequenas explosões se instalavam no quarto.

Deus! Uma pessoa não pode mais dormir? É domingo! - gritava em pensamento.

Em pensamento apenas, por que eu já estava sem voz.

Vera já tinha me acordado no meio da noite dizendo que eu estava gritando muito. E eu nem me lembrava do meu sonho para dar uma justificativa.

Fui obrigada a levantar da cama e ver o que se passa a minha volta.

As meninas não estavam mais no quarto. Haviam chinelos e tubos de mel jogado por aí e alguns meninos brincavam de luta usando galhos de árvore que soltavam algumas folhas.

Que eu vou ter que varrer depois!!!

Quando pus os pés para fora da cama eles entraram em contato com o piso de madeira grudento.

Os garotos gritavam, me dando dor de cabeça.

Joguei o olhar para o calendário que marcava o dia de hoje no canto do quarto.

Ah, Deus. Hoje é dia da Felicitá!

Dia da Felicitá era uma data que os garotos comemoravam como o dia que o primeiro menino chegou no orfanato.

É, eles simplesmente não tinham mais nada para comemorar.

Mas, enfim, os meninos se dividiam em grupos de cinco e invadiam os quartos gritando e pulando. As garotas, geralmente, saiam dos quartos antes de amanhecer para que não fossem perturbadas.

Eu queria muito que elas tivessem me chamado.

Muito.

Era proibida esse comemoração, por conta da bagunça e tudo. Mas, quem fiscalizava?
Então, né...

Já era o segundo ano que eu não acordava a tempo de fugir. Da primeira vez, eu só pulei a janela do quarto, que era no térreo, mas, esse ano eu estava no terceiro.

E eu estava de TPM também.

Ignorando o grude entre meus dedos, eu levanto e me aproximo do moleque mais perto. Não sei como não me vê antes que eu agarre sua orelha.

- Ai! Ai, Joy! Solta. - Rodrigo gritou, chamando a atenção dos outros meninos.

Com minha mão livre, peguei a orelha de outro garoto.

Os outros largaram o que estavam fazendo e correram.

- Eu espero que vocês estejam indo pegar os produtos de limpeza! Se não eu arrebento vocês!

- Joy! Vai arrancar minha orelha. - Saulo gritava também.

- Cala a boca. Eu vou levar vocês para a diretora e aí vocês podem falar para eles de suas orelhas.

Sai só quarto deixando um rastro de mel pelo chão. Os meninos se debatiam e gritavam. Os outros quartos já estavam ficando mais silenciosos conforme eu passava com Saulo e Rodrigo de exemplo.

Andei alguns metros, os meninos já paravam de se debater e não reclamavam mais, sabiam que não tinham mais chance.

- Por que vocês fazem essas coisas, pelo amor de Deus? - perguntei quando só se podia ouvir os nossos passos no corredor.

- Por que vocês fazem festas do pijama? - Rodrigo disse.

Dei-me por satisfeita.

Logo passamos pelo refeitório, onde cobertores embalavam inúmeras garotas que dormiam ainda.

Onde Estás, Alegria? #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora