O quanto durasse

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— O que você fez? - Mel gritou quando me viu.

Um “oi”?
Um “onde você estava?”?
Um “esta tudo bem?”?

Não!
Uma acusação!

— Ele não para de resmungar, reclamar e as vezes chora, Joy! - gritou - O que você fez?

Eu ignorei sua pergunta e subia as escadas quando vi Carlen.

Estávamos nos evitando, como o combinado. Que ela não estava cumprindo.

— Tinha que ser você, não é? - gritou o rosto completamente vermelho de raiva - Você chegou aqui apenas para estragar minha vida!

Eu ignorei.

Podia ouvir Mel e Carlen gritando meu nome e fingi ser surda.

Eu estava no extenso corredor e já conseguia ver Moon e Breu no meu quarto que sempre tinha a porta aberta para eles.

Então, quem eu menos queria apareceu na minha frente.
Ele parecia desesperado e carregava a fotografia dos braços.

— Joy. - chamou.

Parei de andar por um momento, apenas para olhar em seus olhos escuros e envergonhados.
Depois continuei meu caminho até meu quarto, que transpassei e tranquei.

O casal de cães me olhava atento, como se pudessem ver a confusão emanando do meu corpo, como se pudessem ver as malditas lágrimas que ameaçavam me afogar.

E como se soubessem do que eu precisava, se levantaram, colocando-se ao meu lado enquanto eu caminhava até minha cama, pronta para afundar em meu mundo que começava a se formar novamente.

Não sei quanto tempo se passou até que as coisas se aquietassem e a fome começasse a me consumir de dentro para fora.

Mesmo assim não iria sair. Não para poder ver aqueles olhos escuros me culpando.

O barulho de batidas na porta me assustou.

— Abre para mim, Breu? - resmunguei.

Logicamente, ele não se moveu.

— Argh! Você serve para quê? - me arrastei até a porta resmungando e xingando.

Era Ronald com uma bandeja de comida.

Não era nada chique ou qualquer coisa que ele faria. Era um sanduíche, macarrão com almôndegas e refrigerante. Acho que ninguém da casa come alguma coisa assim.

Eu sorri em agradecimento, não conseguiria dizer obrigada em sua língua.

Ele se foi e eu fechei a porta novamente.

Havia um bilhete na bandeja.

Tem um carinha aqui em baixo chamando por você. Come e vem.

                                             Mel.

Um carinha.

Não era assim que ela chamava Mack.

Ao constatar isso, meu coração entrou em colapso.

°°°

Era um ato simplório: descer as escadas. Um pé atrás do outro, fácil.

Sendo assim, por que não conseguia me mover?

Minhas mãos estavam sobre o corrimão dourado e eu estava tentando amenizar minha respiração.

Onde Estás, Alegria? #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora