Tempestade

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Meu trabalho foi organizar meu quarto com as coisas que compramos.

Foi uma longa tarde.

Ao que parece, Carlen fora ao salão de beleza e o Sr. Diamás estava trabalhando em seu escritório no porão.

Eu não sabia que tinha porão!

Mas parecia que era um lugar restrito. Nem a própria Carlen ia lá.

Mel ficou no meu quarto, observando a janela como se fosse deverás interessante. E talvez fosse mesmo, mas eu não tinha a vontade de olhar.

Mack ficou sentado na escada, olhando para o nada.

Por que ele não ia embora?

- O que Mack é da família? - perguntei curiosa enquanto acabava de organizar os sapatos.

Eu fiz isso umas dez vezes.
Eu sempre tinha alguma coisa para fazer e o contrário me deixava desconfortável. Então eu organizei os sapatos por marca, tamanho do salto por cor e muitos outros jeitos.

- Ah, ele é amigo. - Mel disse sem desviar os olhos da janela - A mãe dele ajudou meu pai com os negócios e ela sempre trazia o filho para cá enquanto os dois trabalhavam lá embaixo. Então ele virou amigo...

- Mack sempre fala da mãe... ele mora com os pais...

Mel sorriu na minha direção, o sol reluzia em seus cabelos fazendo um efeito incrível de fotografia profissional.

- Vem cá.

Eu andei até a janela onde ela estava sentada. Segui seu olhar até a esquina da rua, onde uma casa azul e branca reluzia como uma das mais bonitas.

- Aquela alí, é a casa de Melanie, mãe de Mack.

Concordei com um murmúrio.

- Agora preste atenção. - apontou para uma casa também de esquina de frente para a azul, só que está era maior e ainda mais bela - Aquela é a casa de Mack.

Minha mente explodiu.

- E ela ainda manda nele? - minha voz saiu como uma pergunta, mas era uma afirmação.

Mel olhou para mim depois, de volta para a rua.

- Você lembra da sua casa? A... de verdade? Com sua mãe e seu pai? - Perguntou de repente.

Eu andei um pouco, sentindo meus pés descalços no piso polido. Me joguei na cadeira azul flutuante e ela balançou muito, me fazendo cair no chão.

Mel não pareceu notar, então me levantei, como se nada tivesse acontecido.

Nota mental: trocar essa droga inútil por uma rede.

- E então? - Mel perguntou ainda sem olhar para mim.

Tive que me esforçar para recordar do que estávamos falando.

- Ah, casa?

Casa.

Um me lembrava que o lugar que eu chamava de lar pegou fogo, que a única pessoa que eu amava depois de minha mãe se foi consumida pelas chamas! Eu me lembrava dos olhos da minha mãe suplicando e sorrindo e seus lábios dizendo "Encontre a alegria, minha filha." e depois seu corpo se esvaindo de vida, sua pele ficando fria.

Era disso entre muitas coisas que eu me lembrava!

- Joy? - eu ouvia sua voz de longe.

Essas coisas não deviam ter sido tocadas do nada. Elas foram trabalhadas para serem escondidas, trancadas a sete chaves.

Onde Estás, Alegria? #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora