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Seus lábios estavam brancos.
Podia sentir a vida se esvair de seu corpo naquele momento e sabia que eram aqueles seus últimos minutos.
Sr. Castos estava sentado no canto da sala. Nenhuma das garotas da casa o queriam ali. Mas, o que poderiam fazer?
Seus olhos estavam cheios de culpa enquanto ele fitava a garotinha sentada no corredor, sem poder entrar a pedido de sua mãe.
Talita passou uma carta para Bruna, dizendo coisas sussurradas para a mesma. Ela havia escrito aquelas palavras com carinho, para que um dia pudessem ser lidas por sua filha.
E esta estava do lado de fora, chorando.
Era difícil para uma criança entender que a morte não é algo que se pode reverter, que quando se diz "ela vai embora" não existe uma resposta para o "e quando ela volta?".
Joy.
Esse era o nome dela.
Não por que seria a alegria do mundo, ou por que seria muito feliz, mas por que a menina era toda a alegria que Talita nunca teve.
- Temos que nos retirar. - Bruna disse, a pedido de Talita.
Castos torceu o nariz, mas quando olhou mais uma vez para a mulher deitada na cama, e sentiu a culpa sobre seus ombros, saiu do quarto com passos duros.
Bruna o seguiu, tocando a ombro de Joy ao chegar no corredor, indicando a menina que ela tinha que entrar.
- Meu amor. - disse Talita, olhando com cuidado sua filha.
Joy estava sem palavras. Era muito nova para entender o que estava acontecendo.
- Não vai embora, mamãe. - pediu.
Respirando com dificuldade, fitando a filha por seus últimos minutos, Talita esticou a mão, colocando uma mecha cabelo da menina atrás da orelha.
- Não dá, meu amor.
- A senhora vai me deixar sozinha - Joy sussurrou.
Talita balançou pesadamente a cabeça, sentia frio e seus ombros tremiam. Limpou as lágrimas do rosto e sorriu com dificuldade para a menina.
- Não vai estar sozinha. Bruna vai cuidar de você.
A mulher não queria nem pensar que a filha poderia ficar sozinha com o Sr. Castos.
Joy escondeu seu rosto entre os lençóis suados da mãe, chorando.
- Não. Mamãe. Não.
Talita tentava manter o controle, tentava esquecer que não iria mais olhar a filha, que seria diferente, que a menina provavelmente teria uma vida igual a da mãe. Não poderia pensar nisso, precisava mostrar que era forte.
Mas ela estava cansada.
- Shii - sussurrou, puxando os ombros da garota para si, envolvendo-a em seus braços.
- O que eu faço, mamãe?
Correu os dedos pelos cabelos finos da menina, atraindo sua atenção. Suas mãos estavam trêmulas e percebeu que já não conseguia respirar direito.
- Eu te amo. - sussurrou, era o que conseguia naquele momento - Se eu pudesse, nunca te deixaria, minha menina.
- Eu também te amo, mamã. - disse Joy, sem conseguir completar direito a frase.
Não era justo.
Uma criança nunca deveria ser afastada da sua família, da sua mãe. Joy não merecia isso, Talita também não. Mas a mulher, que teve sua infância roubada, orava todos os dias para que a filha pudesse ser feliz.
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Onde Estás, Alegria? #Wattys2016
RandomO único jeito de continuar num orfanato misto em uma cidade pequena, se você tem 20 anos, é trabalhando para pagar uma espécie de estádia. Joy é uma garota fechada, que nunca compartilhou as suas memórias de um passado duvidoso com alguém. Ninguém l...