Incolor

61 11 27
                                    

Olhei para Carlen, tento certeza que com mais um pouco de ódio, eu poderia derreter seu rosto.

Meu Deus! Qual era o problema dela? A mulher estava me irritando assim, na frente de todos! Por que? Tenho certeza que se eu tomasse uma providência iria ser expulsa da casa, mas Carlen teria um cicatriz bem bonita naquele rostinho pálido.

O problema era que eu não queria ser expulsa da casa.

- Mãe, para. - Mel disse, ignorando os modos à mesa e falando de boca cheia.

- Não, está tudo bem, eu cresci vendo pessoas idiotas falando mal de mim quando de sí mesmas, não tinham nada a dizer. Estou acostumada. - eu cuspi e logo tapei a boca, me arrependendo.

Pude ver em seguida os olhos de Carlen brilhando, mas seu rosto estava com uma repulsa falsa.

- Querido, vai deixa-la falar assim comigo?

Olhei para o senhor Diamás, pronta para me desculpar a qualquer momento, então vi seu sorriso debochado.

- Amor, você não a estava tratando com respeito...

Eu sorri brevemente ao ver o rosto de Carlen com nojo.

Mel começou a rir baixinho. Dali em diante comemos em silêncio. Nunca tinha comido algo com tanto gosto, os sabores explodiam na minha boca de uma forma esplêndida, me fazendo devorar o prato em menos de cinco minutos.

Sabia que não podia limpar o molho na mão ou na manga da camisa, como os meninos faziam no orfanato, então peguei um guardanapo e estava prestes a esfrega-lo nos lábios quando percebi que era bordado. Haviam alguns passarinhos e umas flores, tudo de tamanho mínimo, o que me intrigou pelo fato de que aquilo foi feito a mão. Eu costurava com Vera as roupas rasgadas das crianças, mas nunca saberia fazer aquilo.

Quando percebi que estava admirando o bordado por muito tempo fazendo com que todos na mesma me fitassem, limpei os lábios e abri um sorriso para Mel que me olhava rindo.

Logo ela me indicou com o dedo o pratinho no centro da mesa, empurrando o mesmo para mim.

Um cupcake.

Nunca havia comido um cupcake.

Cada um da mesa pegou um e eu fiquei olhando para o meu.

Se come de garfo e faca? Ou devo despedaça-lo? Ah...

Mel limpou a garganta, me chamando atenção.

Ela piscou, tirou o papel da base do doce e abocanhou um pedaço, sorrindo para mim, mostrando a simplicidade.

Meus lábios subiram brevemente em agradecimento. Ela me fez bater o recorde de mais sorrisos num dia.

Mordi um pedaço e senti o chocolate derretendo na minha boca, me deixando extasiada.

Um som ecoou pela casa, chegando aos meus ouvidos de forma angelical.

- Campainha. - Carlen disse como que para alguém que não estava ali.

Nossa, aquilo era uma campainha? No orfanato, o que nos ouvíamos quando alguém chegava era o som da casa da Família Adams.

- Eu atendo! - Mel gritou, levantando e cruzando a mesa.

Ela chegou até mim e pegou minha mão, me arrastando novamente pela casa, através de corredores ainda desconhecidos.

Emfim chegamos na porta branca que ela abriu como se fosse pesada.

A primeira coisa que vi foram os olhos. Acho que o oceano tinha pouco azul comparado com o que eu via na minha frente. Olhos tão fundos e curiosos.
Depois, as sombrancelhas grossas. E então os lábios curvilíneos e rosados, belos e carnudos.

Onde Estás, Alegria? #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora