Flor

32 7 11
                                    

Eu anotava os horários na agenda do meu balcão.

Meu balcão. Tinha meu nome nele.

Trouxe algumas poucas coisas de casa. Uma das flores que Mack havia me dado no primeiro dia e uma caneta que dava choque, logicamente, presente de Mel.

Diferente do primeiro dia, Melanie Kim foi mais legal comigo durante minha primeira semana.
Aliás, ela mesma havia me instruído sobre as regras da empresa, como: Horário de almoço vinte minutos, salário no final de cada mês. E a regra que me deixara mais desapontada: como eu era uma simples secretária, não tinha o acesso vip para a máquina de café no final do corredor.

Tiraria a carteira de motorista em um mês, então, por hora, quem me levava para o trabalho era Mack, que insistia em faze-lo estando em casa todos os dias e roubando de nós um café da manhã tranquilo.

Mack parecia ser mantido pela mãe que não o deixava trabalhar na própria empresa, e mesmo passando a noite na faculdade ele ainda me infernizava com o rádio chato de seu carro, que eu não podia se quer respirar perto.

O meu telefone tocava raramente para que reuniões fossem marcadas com minha chefe, então estava tranquila enquanto rabiscava preguiçosamente na ponta da minha agenda de gato preto.

Foi quando, ele tocou.

PromoveTec, bom dia? - minha voz saiu estranha e eu franzi o cenho.

E também falei errado. Eu esqueci do “Escritório da Senhora Kim” no meio.

— Está trabalhando, Alegrinha?

Não sei porque demorei tanto para saber quem era sendo que só ela me chamava assim.

— Vera? Como sabe esse número? - indaguei e um sorriso surgiu no meu rosto, fazia tempo que não conversamos.

— Ah... eu peguei o número da sua casa com Donna e me disseram que você estava no trabalho, aí me deram esse número. - disse.

Ela me deixou com medo pois estava indo direto ao ponto, o que me dizia que o assunto era de suma importância.

— O que foi, Vera? - fechei os olhos esperando por uma bomba.

A linha ficou silenciosa e meu coração ameaçava a ter um ataque enquanto meu cérebro imaginava as coisas mais absurdas.

— Vou ser adotada.

Meu corpo todo balançou e minha cabeça doeu quando a cadeira virou e eu cai.

— Como é? - eu tentava controlar minha voz para não chamar atenção.

— É. Um casal veio aqui. Parece que perderam uma filha a um ano para o câncer... - sussurrou - Cloe, a mulher, me contou que antes da menina morrer, disse que os pais teriam que adotar alguém.

Meu corpo todo parou por algum momento enquanto eu tentava organizar meus pensamentos.

— E aí? - perguntei.

— E aí que eu estava pulando de alegria no beliche e ele quase caiu! - ela riu alto e eu podia imaginar sua expressão naquele momento.

A alegria que ela transmitia mesmo pelo telefone me contagiava e eu não conseguia ficar parada.

— Você pode vir para cá, Joy? - os olhos do gato de botas vieram a minha mente.

— Não dá, Verinha. Desculpe. Minha chefe não vai me deixar sair.

Podia ver o seu rostinho murchar.

— Ah, Vera, desculpa.

Ela ficou quieta e só se podia ouvir sua respiração.

Onde Estás, Alegria? #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora