Encontrar a Alegria

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É estranho, realmente. Quando isso acontece nos filmes, está sempre chovendo, como se o céu estivesse chorando pela pessoa perdida.

Era exatamente o contrário.
Estava o sol radiante, e se eu pensasse muito entenderia por que.

Bruna havia sofrido muito nesse tempo em que estava aqui e o céu estava feliz por que ela deixou de sofrer para ir a um lugar melhor.

Mack me embalava em um abraço a cada lágrima solitária que escorria por meus olhos.

Era errado, eu sei, mais estava ficando desconfortável o fato de ele estar tão bonito naquele terno preto.

Preto, quanto eu me lembrava o porquê da cor, voltava a chorar.

Meu pai nos levava em seu carro até o cemitério da cidade, onde estava ocorrendo o enterro.

Era a primeira vez que eu ia em um.

— Filha. - chamou quando chegamos ao nosso destino.

— Sim.

Olhou para mim, tentando me dar um sorriso.

— Descobri que tiraram o corpo de sua mãe daquela casa depois do incêndio... Ela está aqui.

Sorri, me firmando nos braços de Mack para encontrar equilíbrio.

— Tudo bem? - Enzo perguntou, me fitando com cuidado.

Pensei em negar, mas no final, não fiz nada, apenas continuei a andar para dentro do cemitério enquando reconhecia alguns rostos do asilo.

A enfermeira que cuidava dela veio falar comigo, me embalar em um abraço apertado e trocar lágrimas, me guiando para onde seria o enterro.

Havia um padre, com certeza, cedido pelo cemitério, Bruna nunca foi católica. Algumas pessoas rodiavam o caixão decorado com flores que não conhecia, mais que tinham um cheiro bom.

Não prestei atenção em nada que o padre dizia, apenas me lembrava do que vivi e o que minha mãe me contava a respeito de Bruna.

°°°
*

— Como você sabe ler, mamã? - perguntei fitando seus olhos enquanto ela lia algumas frases de um livro de poesia puído.

— Eu fui para a escola, Bruna me levava. - me olhou nos olhos com doçura e colocou meu cabelo solto por cima do ombro - Ela me dava uma bolsinha velha, arrumava meu cabelo e eu ia sozinha.

— Sozinha?

Bruna apareceu com um prato de comida.

— Sozinha, sua mãe já era muito inteligente na sua idade.

Cruzei os braços e fiz bico.

— Eu não sou inteligente? - resmunguei.

Bruna sorriu para mim.

— Não, você é bem burrinha, menina. - disse.

Minha mãe arregalou os olhos e deu um peteleco em Bruna.

Eu desatei a chorar.

Até que foi embalada por braços macios mas fortes.

— Claro que você é inteligente, minha menina, veja só! - dizia Bruna - Já sabe até pentear os cabelos.

°°°

Onde Estás, Alegria? #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora