ERROS DO PASSADO

1

"É loucura odiar todas as rosas porque uma te espetou. Entregar todos os teus sonhos porque um deles não se realizou..."

(O Pequeno Príncipe)

1853

Londres, Reino Unido

Casa dos Vacanci

 - Não quero me casar, papai! – choro mais uma vez. Era inútil, eu sabia, mas precisava lutar até o meu lastimável fim. Não queria me casar com o tal Ethan Sforce, eu nunca o vi. Claro que já tinha ouvido falar dele e tudo o mais. Quem não conhecia o notório libertino mais bonito de Londrs? Muitas conhecidas minhas me disseram que era uma sortuda, mas... Eu não o amava.

Escritório de meu pai era escuro e fedido. Não gostava nem um pouco de permanecer aqui. Na lareira o fogo estalava pela nova recarga de carvão. É claro que estava frio e chuvoso... Hoje, teoricamente é o dia do meu casamento.

Em um acordo que, em nenhuma das partes sabia, foi feito um arranjo matrimonial para o abalado Ethan Sforce. Quando soube da notícia que iria me casar com outro homem caí em prantos, fui correndo contar ao Hugh e ele simplesmente disse que era previsível a atitude de meu pai para nos separar. Claro, acreditei nele quando disse também que íamos dar um jeito de permanecermos juntos.

Meu pai nunca aceitaria o relacionamento entre mim e o Hugh, ele não tinha muito dinheiro é claro, mas nos amávamos, disso eu estava certa. Ele trabalha para meu pai cuidando de seus cavalos. Sempre nos encontrávamos às escondidas, cada beijo e carícia faziam valer a pena os sermões que meu pai me dava.

Hugh era um rapaz magro, com seu cabelo loiro e olhos castanhos. Ele sempre me dizia que me amava e que iria fazer de tudo para não me casar com um estranho. Mas nada disso importa agora. Quando se descobre que ele falava as mesmas coisas para todas as empregadas da casa... Bom. O encanto acaba. O coração é partido e você é comprometida com outro.

Eu lhe entreguei a coisa mais importante para mim e ele simplesmente estava de olho em meu dinheiro, e não em meus pequenos seios. Mesmo com o coração devastado, ainda continuo não querendo me casar com esse homem.

- Você vai sim! Ele é um burguês rico, Christina! Sua única opção para se casar com um homem decente! Mesmo ele tendo gastado seu próprio suor para conseguir sua fortuna!

Meu pai, por sempre estar envolvido em dívidas, carecia de dinheiro e quando se oferecem dinheiro para se casar com um burguês, ele aceitou. Eu sabia que ele estava querendo e livrar de mim o mais rápido possível, e quando a primeira oportunidade apareceu, meu pai abocanha sem ao menos usar um garfo e faca. Sabia que ele não gostava de mim, realmente sabia. Bom, eu era a cópia da mulher que o deixou com uma criança por um comerciante de tecidos. Quando se ama alguém e ela te trai não há muita coisa a se fazer do que odiar junto todas as coisas desta. Inclusive sua filha.

Limpo os olhos mais uma vez. – Mas não quero...

Sinto o ardor do tapa que ele me dá em minha bochecha direita. Perco meu equilíbrio momentaneamente, mas me recomponho a tempo de não cair como uma boneca de pano no chão. Estava acostumada a isso, mas sempre prevejo sua ira. Hoje não.

- Você vai! – sibila ele. Meus olhos ardem mais uma vez – E não ouse chorar, você vai esconder essa vermelhidão com maquiagem e não vai voltar a por os pés nesta casa nunca mais... Entendeu?