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            "Lembrando que sempre há uma outra chance, uma outra amizade, um outro amor, uma nova força. Para todo fim um recomeço."
(O Pequeno Príncipe)

A porta se fecha com um clique. Estava confusa com tal atitude dele. Nós sempre brigamos, desde o dia em que pus os pés aqui. Os funcionários saíam de perto quando começava alguma discussão nossa.

Mas, eu não sei, estava um pouco mais feliz. Torcia para que, a partir de agora, não brigássemos com tanta freqüência. Eu não suportava discussões. Queria estar em paz. Se não podia estar em paz sozinha, queria conseguir ficar em paz com ele, mas era impossível.

Quando o meu garfo atinge o prato limpo, noto que a comida se foi. De tão absorta em meus pensamentos acabei comendo tudo.

Deixo de lado a bandeja e apanho um dos meus livros em minha penteadeira. Noto no espelho como era lindo seu presente. Sorrio.

Sento em minha cama, afofo os travesseiros e começo a leitura.

Sem querer, me vem a mente uma de nossas discussões.

- EU TE ODEIO, ETHAN!

- Olha só, EU TAMBÉM! Sua mimada!

- Bêbado biscateiro!

Ele ri em escárnio. – Eu realmente adoro isso! Gosto mais quando você está dormindo, assim eu consigo trazer algumas putas para casa para me esquecer de sua cara.

Enfurecida, taco-lhe o primeiro objeto em minha frente. Era um vaso. Por pouco não acerto sua cabeça, este se espatifa na parede logo atrás dele.

- SUA DESCONTROLADA! Quase me acertou!

- NUNCA VOU TE AMAR! VOCÊ NUNCA SERÁ ELE!

- NUNCA PEDI PRA SER AMADO, CHRISTINA! NUNCA QUIS ESTAR CASADO! NUNCA QUIS TER VOCÊ EM MINHA VIDA! – esbraveja.

Procurava uma outra coisa para tacar, quando vejo uma decoração pesada.

- NEM PENSE!

Agarro este, mas Ethan era mais rápido. Tenta retirar de minha mão, mas não desisto. Sua mão escapa da minha e atinge meu lado esquerdo do rosto. Com o choque, solto o objeto e ele se quebra.

Estávamos estáticos. Em torpor, encontro seu olhar.

- Descul...

- Não precisa se desculpar. – digo com um gosto amargo em minha boca. – Já estou acostumada com isso. – solto uma risada seca. – Porque pensei que seria diferente estando casada?

Afasto-me indo para o jardim. Ele não tenta me seguir.

Ele queria fazer isso dar certo? Se sim, estaria de olho nele. Ele não podia mudar da água para o vinho tão repentinamente. Suspirando, retomo minha leitura.

*

Depois de relatar aos meus amigos o que aconteceu, bom... Eu não me senti feliz. Não me senti a confiança que tinha antes. E essa sensação é horrível.

- Pare de beber, Ethan... – repete Connor.

- Deixe-me seu inútil.

Edward me observa atentamente. – Ela gostou da gargantilha?

Bebo mais um gole. O sorriso radiante dela ao ver o que era me veio a mente. – Sim... – sussurro.

- Meu Deus, Ethan. Isso que eu vejo em sua cara é rancor? – Connor finge espanto. Reviro os olhos.

- Não. Não vou desistir... Isso é o melhor pra ela.

- Melhor pra quem Ethan? Pra Christina ou para você? – Ladra Edward.

Enfureço. – Chega dessa conversa. Troque de assunto. Agora.

Peço mais uma dose de Brandi.

Connor ri. – Camile acha que pode estar grávida...

Sorrio fracamente. Edward ri e bate nas costas de Connor.

- Parabéns!

- Ela não tem certeza, mas... Está um pouco nervosa... – admite Connor.

- Porque? – pergunto curioso.

Connor suspira. Remexe incomodo em sua cadeira. – Ela não era a filha predileta. Os pais sempre a odiaram e ela foi quase pra guerra e...

- E?

- Bem... Ela acha que é uma péssima mulher. Que não vai dar conta de ser uma boa mãe...

Edward ri. – Só de ela se preocupar se vai ou não ser uma boa mãe é um sinal de que ela vai sim ser uma ótima mãe.

- E você um bom pai. – acrescento.

Ele ri encarando seu copo vazio. – Confesso que estou com medo também. E se vocês contarem para ela eu irei negar até a morte.

- Não se preocupe. Vai dar tudo certo. – Ed bate mais uma vez nas costas dele. – Bom. Tenho que ir.

Ele joga uma nota na mesa do White. – Minha esposa e filha me esperam.

- Eu também vou. Até mais Ethan...

- Até...

Observo eles saírem. Voltarem para suas casas. Para o colo de suas esposas.

Deixando uma nota em cima da mesa, entro em minha carruagem. Não estava bem para cavalgar. Estava frio lá fora. Chegando, noto que a casa estava silenciosa. Até Stuart estava com suas roupas de dormir quando veio me receber. Depois de ficar mais e três horas fora, não era de se admirar. Christina deveria estar dormindo uma hora dessas. Vou direto para meu escritório pensar.

Pensar... Quem estou querendo enganar? Vou para meu aparador e sirvo de uma dose generosa de xerez. Quem sabe não pego no sono estando bêbado?

*

- Ele tá seguindo seu plano.

Helena ergue a cabeça de seu livro e encara Edward. – E como sabe disso?

- Encontrei com ele na Bow Street, acabava de sair de uma joalheria. Mas ele nos contou tudo hoje no White. – Edward beija sua esposa e começa a se despir para dormir.

Helena ri. – Ele foi na mais cara das joalherias. Bom, isso é muito bom. Amanhã vou fazer uma visita a ela, junto com Camile e Madalena. Sabe que ela fala com os mortos?

Edward engasga com seu vinho e logo se recompões, olhando-a chocado.

- Como disse?

Ela suspira e fecha seu livro. – Ela me disse que, quando se sente sozinha, vai até a finada sra Sforce e conversa com ela.

- E... Ela responde?

- Não, mas segundo ela, traz paz. Ela se sente muito sozinha. Parecia Madalena quando cheguei aqui.

Ele a olha arrependido. – Eu sei que a negligenciei, e agora faço de tudo para vê-la feliz.

Ela sorri. – Eu sei. Só torço para que Ethan faça o mesmo. 

ERROS DO PASSADOOnde histórias criam vida. Descubra agora