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Miami. 

     A casa imponente ficava em um bairro sofisticado, próximo ao Museum Park. Eram 17:45 da tarde, faziam exatamente seis horas que o tormento havia começado. Era evidente a tensão que se fazia presente na sala de visitas daquele ambiente tão bem decorado. Haviam pessoas reunidas em pequenos grupos, todas conversando em um tom baixo e grave enquanto alguns choravam copiosamente. Outras apenas consolavam umas às outras silenciosamente. 

    Camila apenas se mantinha afastada de todos, sentada solitariamente em uma das diversas poltronas ali presentes. Estava aparentemente calma, apenas olhando fixamente para o carpete sob os seus pés, parecendo indiferente à tudo. Mas, de fato, a última coisa que ela estava era indiferente. Cada movimento, cada som ecoado no ambiente, fazia sua mente reverberar. Ela tentava ao máximo se manter calma, mas tinha a plena consciência de que se movesse sequer um músculo de seu corpo, seu autocontrole iria se esvair. 

     Quando a terrível notícia chegara, Camila fora arrebatada por um terror incontrolável. Tentaram ao máximo acalmá-la, oferecendo até mesmo tranquilizantes para que aquele tormento parecesse um pouco mais ameno, mas ela havia se recusado. O que mais poderia ser feito? Como uma mãe diante de uma situação como a que estava vivendo, poderia simplesmente se manter reclusa em seu quarto e dormir? Porém, não havia nada no mundo tão torturante como a espera por notícias de sua filha. Infelizmente, não havia nada a ser feito além de esperar pela pessoa que parecia ser o centro de toda aquela crise, alguém que chegaria para controlar toda a situação. Já haviam lhe informado que este alguém estava a caminho, como se isso pudesse ter a capacidade de fazê-la sentir-se um pouco mais tranquila. Mas, absolutamente nada e nem ninguém poderia curar a angústia em seu peito. Por isso, ela apenas se manteve sentada, sempre olhando para baixo, como uma forma de evitar que qualquer pessoa pudesse ver a aflição evidenciada pela palidez em sua pele sendo realçada pela sua camisa preta de mangas longas. 

     O som repentino de um veículo parando diante de sua casa deixou todos em estado de alerta, menos Camila, que sequer se moveu. O som de vozes no hall de entrada já se fazia evidente, uma delas sendo destacada pelo tom incisivo e extremamente autoritário. Os passos firmes e precisos ecoavam cada vez mais próximo da porta da sala de visitas. Então, quando a porta foi aberta, todos os olhares voltaram-se para a mulher imponente que adentrou o ambiente. Ainda assim, Camila manteve seus olhos fixos no carpete, contando cuidadosamente os pequenos botões de rosas que faziam parte do design do tecido. A mulher era alta, usava um terninho feminino negro, porém justo, que deixava o seu porte atlético evidente. Sua pele extremamente clara, realçando o tom avermelhado de seus lábios, tornava-a ainda mais atraente. Sua postura altiva juntamente com seus olhos verdes e penetrantes, faziam sua beleza ser ainda mais singular. Ela manteve-se parada na soleira da porta por longos e cruciais segundos, aumentando ainda mais o suspense. Seu olhar frio percorreu lentamente todo o ambiente até deparar-se com Camila, ainda em sua redoma solitária. Lentamente, aproximou-se da latina, parando diante da mesma

— Camila? - Chamou-a em um tom baixo, quase sussurrando. Ainda assim, a latina não se moveu, mantendo seu olhar debilmente focalizado nos sapatos de couro feitos à mão que surgiram no seu campo de visão.

  — Camila! - Dessa vez, havia um tom mais autoritário naquela voz. Então, os olhos enevoados subiram vagarosamente, contemplando as longas pernas, o torso poderoso, até finalmente encontrarem os olhos da mulher que Camila desejara jamais voltar a encontrar.  

Há quanto tempo não a via? Dois, quase três anos? E, nesse tempo todo, ela mudara muito pouco... Mas porque haveria de mudar? Afinal, Lauren Jauregui era forte, poderosa, podia se dar ao luxo de ter casas elegantes nos melhores endereços das capitais importantes do mundo. Nascera destinada ao poder, havia sido criada dessa forma e usava disso em seu favor. Quando erguia a voz, as pessoas se intimidavam. Era uma mulher que possuía tudo: Boa aparência, um corpo perfeito e saudável, inteligência e uma forte personalidade. O que poderia mudar em três anos? O olhar, talvez? Poderia ser mais inclemente? Afinal, ela era a inclemente. Enquanto Camila, era a pecadora. Três anos, lembrou Camila. Três anos de um silencioso ressentimento que já fazia parte de seu cotidiano desde o momento em que Lauren decidiu abandoná-la. E agora, ela tinha a ousadia de aparecer, chamando-a pelo nome como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Mas não era, ambas sabiam disso. E Camila não estava em condições de agir como se nada tivesse acontecido, então, apenas desviou o olhar. Nesse momento, Lauren falou outra vez. A mensagem soou alta e clara, para que todos pudessem ouvir.

— Saiam!

Lauren permaneceu parada diante de Camila, esperando que sua ordem fosse cumprida. As pessoas saíram da sala em silêncio. Ela ouviu a porta fechar quando a última pessoa saiu, deixando-as no mais absoluto silêncio. Lauren se afastou, retornando alguns segundos depois com um copo nas mãos.

— Beba! - Ordenou, sentando-se ao lado dela. O aroma característico de brandy invadiu as narinas da latina. Ela balançou a cabeça, espalhando os cabelos negros e longos por seus ombros e braços. Porém, Lauren ignorou a negativa.

— Beba! - Repetiu. - Está pálida como um fantasma. Beba, ou terei que forçá-la a isso.

As palavras foram mais do que uma advertência. Isso ficou muito claro quando Lauren segurou o queixo de Camila com as mãos firmes. Ela bebeu, mas engasgou quando o líquido deslizou como fogo por sua garganta seca.

—  Assim está melhor - Ela murmurou, sem saber que fora seu toque e não a bebida, que fizera a latina engasgar. - Beba um pouco mais.

Ela obedeceu, procurando proteger-se do terror que experimentava. Seu corpo ainda reagia de modo violento ao contato físico com aquela que lhe causara tanta dor e desilusão. Ela a fez beber vários goles até decidir que já era o bastante. Então Camila ergueu os olhos castanhos, cheios de condenação.

— Foi você quem fez isso? - Indagou, as palavras raspando a garganta tensa.

Lauren queria negar, usando os olhos para perguntar como ela poderia suspeitar que fosse capaz de algo tão hediondo.

— Eu te odeio - Ela prosseguiu. - Desprezo o chão em que pisa. Se algo acontecer à minha filhinha, é melhor se cuidar. Irei atrás de você até o fim do mundo, nem que seja a última coisa que eu faça!

Surpreendentemente, ela não respondeu, nem reagiu. Nunca fora uma mulher que se deixasse ser ameaçada.

— Conte-me o que aconteceu - Pediu evidentemente perturbada.

A imagem voltou violenta à mente de Camila: A babá entrando cambaleante na sala, o rosto banhado em lágrimas.

— Clarinha foi sequestrada! - Gritou assustada. - Simplesmente apareceram e levaram-na enquanto estávamos brincando no parque! Você sabe o que aconteceu! - Vociferou, fulminando-a com os olhos marejados. - Ela significa a única humilhação de sua vida, Lauren! Por isso decidiu eliminá-la?

Rumor Has It • Camren G!P [REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora