2.

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— Não levei sua filha - declarou.

Camila percebeu, com desgosto, que ela não se referira à criança como filha delas.

— Levou sim! - Insistiu sem pestanejar. - Sabe de uma coisa? Seu sobrenome devia ser Vingança. Só não consigo entender por que não levaram a mim, no lugar dela.

— Pense um pouco. Com sorte, talvez encontre uma resposta.

Ela desviou os olhos, odiando aquela cruel indiferença.

— Céus, você me dá náuseas! - Murmurou, afastando-se.

Abraçando o próprio corpo, ficou olhando através da janela para o circo que a equipe de segurança armara ao redor da casa: Homens com cães, armas, telefones celulares, olhares atentos. Riu, escarnecendo:

— Que grande espetáculo! A quem está tentando enganar?

— Isso é para manter a imprensa afastada - Lauren explicou secamente. - Apesar de ter sido treinada para esse tipo de contingência, aquela babá estúpida saiu gritando pelo parque como uma louca para Miami inteira ouvir. - Suspirou, numa primeira demonstração de raiva. - Agora o mundo todo sabe que a criança foi sequestrada. Como conseguiremos resgatá-la sem alarde?

— Oh, Deus! - Camila cobriu a boca com as mãos, cedendo ao pânico. - Por que Lauren? Ela tem apenas dois anos! Não significava nenhuma ameaça! Por que levou meu bebê?

No instante seguinte, ela já estava ao lado de Camila, segurando-lhe os braços com força.
— Vou dizer pela última vez. Portanto, ouça bem: Eu não sequestrei a sua filha.

— Mas alguém... Alguém o fez. - A latina balbuciou com os olhos marejados. - Quem mais poderia odiá-la tanto, ao ponto de fazer isso?

Ela voltou a suspirar. Não podia responder porque, de certa forma, merecia a acusação.

— Venha sentar-se novamente, antes que caia - sugeriu.

— Não quero me sentar! - ela recusou, exasperada. - E para de me tocar!

Desvencilhou-se das mãos de Lauren com um gesto violento. Ela apertou os lábios, dando mostra de que, por fim, o comportamento de Camila começava a enervá-la.

— Quem mais? - ela repetiu, num murmúrio. - Quem mais desejaria tirar minha filhinha de mim?

— De você? – Lauren perguntou calmamente, dando-lhe as costas. – Foi de mim que tiraram esta criança!

Camila olhou para a mulher de olhos verdes completamente incrédula, jamais imaginaria que a mesma seria tão cínica ao ponto de falar algo como isso. Depois de longos segundos respirando fundo, em uma tentativa inútil de acalmar-se, finalmente falou.

— Ah é? Porque alguém iria fazer isso? Você a rejeitou!

Lauren olhou-a profundamente antes de dizer.

— Mas o mundo não sabe disso, sou uma mulher poderosa, o poder traz consigo muitos inimigos.

Nesse momento, Camila sentiu-se gelar por dentro. Afinal, as palavras ditas por Lauren confirmaram suas suspeitas de que claramente havia culpa dela em toda essa situação. Ela balançou a cabeça negativamente, tentando afastar estas suposições.

— Não! Isso é coisa de família, eu sei que é. Falei com eles ao tel...

— Você falou com eles? - Lauren interrompeu-a, voltando-se para a mais baixa com um olhar frio.

— Ao telefone – Ela completou, tentando esquecer a náusea que sentira ao ouvir a fatídica ligação sendo desligada.

— Quando? – Lauren inquiriu, enrouquecida. – Quando recebeu o telefonema?

— Cerca de uma hora após levarem a Clara. Disseram que você saberia o que fazer, então faça alguma coisa! Pelo amor de Deus, faça!

A mais velha engoliu um impropério e segurou-a pelo braço, fazendo-a sentar-se no sofá.

— Agora escute. Eu preciso saber o que lhe disseram e exatamente a forma como disseram,

— Quer saber se são italianos? Sim, eram, assim como a sua maldita família! – Ela respondeu em um tom acusador. – Reconheci o sotaque, o desprezo por quem não tem o mesmo sangue!

— Homem ou mulher? - Lauren apenas ignorou o comentário e prosseguiu.

— Homem. – Ela murmurou.

— Velho, jovem...?

Camila balançou a cabeça negativamente antes de falar.

— A voz estava abafada, creio que estava com algo cobrindo o bocal.

A latina fez menção de cobrir seus lábios trêmulos com a mão, mas Lauren a segurou.

— Falava seu idioma?

Ela confirmou, meneando a cabeça levemente.

— Com sotaque italiano. Agora solte-me...
— E o que disseram? – Lauren insistiu, ignorando-a.

Ela começou a tremer violentamente.

— "Estamos... Estamos com a sua filha" – Repetiu palavra por palavra, gaguejando um pouco — "Ela está segura, por enquanto. Chame Jauregui, ela saberá o que fazer. Entraremos em contato novamente às sete e meia". – Camila olhou ao redor, apavorada. – Que horas são?

— Calma, ainda não são nem seis horas... – Sussurrou para acalmá-la. – Concentre-se, por favor. Ouviu mais alguma coisa de fundo? Um avião, carro, algo do tipo?

— Nada. – Ela balançou a cabeça, libertando uma de suas mãos para cobrir os próprios olhos. – Minha filhinha... Minha pobre filhinha... Quero-a aqui! – Voltou-se na direção de Lauren – Em meus braços... – Abraçou seu próprio corpo, como se estivesse envolvendo a sua garotinha. — Lauren, faça alguma coisa!

— Suba até seu quarto e tente descansar um pouco. – Ela recomendou. – Eu lhe direi caso voltem a ligar.

— Você tomará conta de tudo? – Camila perguntou evidentemente surpresa.

— Não é para isso que estou aqui? - Era o único motivo pra estar ali de verdade.

— Onde você estava? – Ela indagou, repentinamente curiosa. – Quando recebeu a notícia, onde estava?

— No Brasil.

Camila espantou-se.

— Brasil? Mas faz apenas algumas horas que...

— Voei em um Concorde, a aeronave mais rápida do mundo. Ainda acha que fui eu quem sequestrei a sua filha?

Camila ergueu o queixo, os olhos gélidos e cheios de amargura.

— Nós duas sabemos do que você é capaz.

— Porque eu desejaria fazer isso? – Ela argumentou em um tom razoável. – Clara não representa nenhuma ameaça para mim.

— Ah não? – Camila a desafiou com o olhar – Até que você se livre de mim e consiga uma nova esposa, Clara é sua herdeira legítima, mesmo sem ter tido a atenção da outra mãe, que não foi mulher o suficiente para assumi-la.

— Tome cuidado. – Advertiu com um brilho perigoso no olhar, aquela provocação havia ido longe demais – Veja lá o que diz!

— Quanto a você, cuide para que minha filha volte inteira para mim. Do contrário, que Deus a ajude – ela preveniu. – Jogarei o sobrenome Jauregui na lama!

Rumor Has It • Camren G!P [REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora