12.

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Michael a fitou e ela entendeu a mensagem contida naquele olhar entristecido. Durante a doença, Michael Jauregui encarara a morte. Imaginara como seria morrer sem abraçar a netinha. Ele a queria, nem que para isso fosse necessário sequestrá-la.

— Não!

Ela se aproximou, quase cambaleante e viu, horrorizada, as mãos encarquilhadas envolverem a sua filha, num ato de posse.

— A menina só ficou tranquila em meu colo! - ele exclamou, triunfante. - Veja como está agarrada a mim, veja!

— Não!

Camila ofegou, negando ao homem o direito de ter algum sentimento por Clara, pela neta à qual negara o direito de conhecer o amor de sua outra mãe. Pressentindo a proximidade da mãe, a garotinha agitou-se no colo do avô e ergueu a cabecinha sonolenta. Fitou a mãe com os olhinhos luminosos, suspirou e simplesmente estendeu os braços. Camila inclinou-se, tirou a filha do colo de Michael e abraçou-a ternamente. Clara enrodilhou-se como um feto no colo da mãe, aconchegando-se em seu peito, os bracinhos entre os seios de Camila. Ninguém se moveu. Ninguém falou. Ninguém nem mesmo chorou. Camila simplesmente fechou os olhos. A emoção que sentia era tão profunda que nem transparecia no rosto pálido. Finalmente Clara ergueu os olhos, fazendo beicinho.

— Não gosto de avião – a pequena disse ainda sonolenta.

Camila sentiu as pernas vacilando, como se a voz da criança tivesse o poder de descontrolar suas emoções. Um abraço forte amparou mãe e filha, impedindo-as de cair. A menina ergueu o rostinho e, pela primeira vez, contemplou os rígidos contornos do rosto de sua mama.

O instinto de Lauren lhe dizia para afastar-se das duas. Entretanto, apesar de Camila estar segurando a criança, era ela que a mantinha em pé.

— Leve a criança daqui, já!

A agonia transpareceu em seu rosto porque Clara arregalou os olhos, num princípio de choro.

— Não! - Agarrou-se ao pescoço de Camila. - Eu quero ficar com a mommy! - soluçou. - O vovô prometeu!

— Vovô?

Camila abriu os olhos e Lauren retesou-se.

— O que diabos...? - murmurou entre os dentes.

— A bambina precisava se acalmar - defendeu-se Michael. - Eu a acalmei da melhor forma que pude!

Num acesso de fúria, Camila livrou-se dos braços de Lauren e fulminou pai e filha com um olhar de condenação.

— Vocês são desprezíveis!

Com isso, deu-lhes as costas e saiu para o terraço.

— Camila! - A voz autoritária de Lauren a fez parar nos degraus, do lado de fora. - Onde pensa que vai? - perguntou, segurando-a pelo braço.

— Ora, solte-me!

— Não seja tola!

— Mas você viu, não viu? - ela protestou, fitando-a desesperada. - Ele fez tudo! Armou tudo isso por algum motivo sórdido e...

— Cale-se! Já avisei para não repetir acusações como esta!

Camila percebeu que a esposa ainda não conseguia ver a verdade. O tom duro de Lauren fez com que Clara erguesse a cabecinha novamente, fitando-a com o olhar assustado e lacrimoso.

— Moça má!

- Lauren! - A repreensão veio de uma fonte inesperada. - Está assustando a bambina!

Ela fitou o pai e concedeu:

— Meu pai tem razão. Estamos assustando a menina. - Segurou o braço de Camila com mais força. - Entre - ordenou, evitando os olhinhos assustados de Clara. - Estamos todos esgotados.

Camila entrou com relutância, sabendo que, dessa vez, não tinha escolha. Eles estavam certos. Aquela cena assustara Clara. Fitou Michael e notou que os olhos do velho perscrutavam a garotinha. Sorrindo, ele segurou a mãozinha gorducha de Clara, que retribuiu imediatamente o sorriso.

— Vovô... - ela falou, abalando uma vez mais o controle precário que Camila tentava manter sobre as emoções.

Clara dissera aquilo com tanto afeto! Visivelmente atordoada, Lauren apertou os dedos ao redor do braço de Camila, fazendo-a entrar na suíte.

— Só você não vê... - ela murmurou.

Ela a ignorou.

— Sente-se - disse, empurrando-a para uma poltrona. Então estalou os dedos e uma mulher de olhar ansioso se aproximou. - Esta é Verônica. Está aqui para atender às suas necessidades - continuou, no mesmo tom frio. - E começará pegando sua bagagem. - Dispensou a moça e em seguida voltou a fitar Camila. - Sugiro que aproveite os próximos minutos para se recompor e acalmar a criança. - Clara voltara a enterrar o rosto no pescoço da mãe. - Pai? - Dirigiu-se a Michael com o mesmo tom autoritário. - Precisamos conversar.


Depois saiu, sendo seguida em surpreendente obediência pelo pai, que se deslocava acionando os comandos eletrônicos da cadeira de rodas.

O silêncio tomou o quarto, e Clara arriscou-se a erguer o rosto.

— A moça má já foi? - perguntou timidamente.

Camila recostou-se na poltrona macia, aconchegando a filhinha ao peito.

— Ela não é má, querida - murmurou gentilmente. - Está apenas...

"Confusa" era a palavra que Camila queria dizer. Curioso... Lauren jamais se mostrara confusa com relação à nada. Para ela, a vida era preto no branco. A confusão residia nas zonas cinzentas, que evitava. Por isso o casamento não dera certo. Michael, conhecendo a filha, pintara o mundo que envolvia a nora em tons de cinza, provocando discórdia. Era o que continuava fazendo agora. O que pretendia? Queria Clara só para si? Mas não poderia tê-la, a não ser que fizesse Lauren acreditar que era efetivamente a mãe da criança. E isso a levaria a duvidar do adultério de Camila. Michael estaria disposto a se arriscar? Ou teria alguma carta escondia no bolso do casaco? Ela começou a tremer de medo ao se lembrar do que Michael era capaz.

— Signora? - Verônica estava ao lado da poltrona, com um sorriso amável. - A bambina - comentou suavemente. - Dorme tranquila em seu colo.

Camila olhou para baixo, surpresa com a rapidez com que Clara adormecera. A criança ressonava, finalmente em paz.

— Não chore, signora. - Verônica agachou-se ao lado da poltrona, para colocar a mão solidária sobre o braço de Camila. - Agora a bambina está segura. Signora Lauren zelará por ela. Não se preocupe.

Sim, agora estava segura, Camila reconheceu. Mas desconfiava de que suas preocupações estivessem apenas começando. Michael queria a neta, não a nora. Fora astuto a ponto de trazê-las até a sua casa, com a benção de Lauren. Qual seria sua próxima cartada?

Rumor Has It • Camren G!P [REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora